segunda-feira, março 15, 2021

A influência monumental na economia urbana

          O preço do imóvel em Portugal está intrinsecamente ligado ao estado económico tangente à sua localização, como os acessos rodoviários e centro de negócios e serviços. Estes pontos de referência não só estão ligados à economia nacional mas, também, ao contexto internacional.

         Um dos cálculos do valor aparente de uma propriedade foi introduzido em 1964, por William Alonso, onde aplica o uso de aluguer, a população e o emprego em função da distância ao centro de negócios e serviços (CBD). Esta abordagem tem como base uma cidade onde existe um único centro de negócios, linhas de transportes radiais ao mesmo e parcelas de construção iguais entre si. Após inúmeras atualizações da teoria de Alonso (Muth, 1969, onde incluiu uma hierarquização na cidade e Mills, 1972, que introduz valores de transporte mais realistas) e testes de fatores (metodologia OLS, onde, num caso particular, foram testadas 35 variáveis) a sua forma final engloba inúmeros aspetos, desde o número de quartos à quantidade de serviços presentes na sua periferia.

          Esta abordagem crítica do funcionamento económico urbano pode ser diretamente relacionada com a construção de um edifício. A simples nobreza de um objeto arquitetónico torna um espaço num ponto fértil para a expansão socioeconómica. Um exemplo presente na península ibérica é a Catedral de Santiago de Compostela, Galiza, Espanha. A sua construção provocou um crescimento na sua periferia, expandindo a cidade em torno da catedral. A igreja não só impulsionou a cidade mas, também, criou inúmeros trajetos para a peregrinação de fiéis. Este movimento da população em direção a este ponto impulsiona a economia urbana na interseção de centros de comércio com estes trajetos.

          A sua expansão territorial deu início a uma ampliação do centro de negócios e serviços (CBD), com a construção de um hospital real, de uma escola e biblioteca universitária e pontos com peso social na era medieval (Paço de Raxoi e vários elementos religiosos espalhados pela cidade). A morfologia urbana presente segue os conceitos básicos de uma cidade medieval. Tendo como centro a catedral, as vias rodoviárias são, na sua maior parte, radiais à mesma, estando o centro de negócios e serviços localizado no seu centro. A sua forma central alinha-se com a teoria de Alonso, onde a cidade se expande em torno do centro de negócios e suas linhas de transporte são radiais à mesma, havendo uma descida de preço do imóvel diretamente relacionada com a distância ao centro.

          Esta criação arquitetónica conseguiu tornar uma zona inerte à expansão cultural numa cidade de importância religiosa e, consequentemente, política na idade média. Este peso ainda se pode observar, com a sua densidade populacional e o índice de turismo presente em pontos de importância pela trama urbana.


João Alexandre Costa Leite

Referencia Bibliográfica:

http://www.applet-magic.com/alonsop.htm 

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Urbana”, lecionada ao Mestrado Integrado em Arquitetura, da Escola de Arquitetura/UMinho)

Sem comentários: