quinta-feira, março 25, 2021

Hierarquia de Consumo

A relação entre centros de comércio tem como princípio o livro The Law of Retail Gravitation, de William Reilly. Correlacionando com a lei da gravitação universal, esta teoria defende que o consumidor é mais ou menos atraído a um centro de comércio através de uma relação inversa de proporção entre a população do centro de comércio e o quadrado da distância entre ambos. Este modelo criado em 1931, alvo de várias críticas que permitiram desenvolver a teoria com avaliações de maior complexidade, contemplam mais variáveis e aplicações em contexto real.

A realidade da atração entre polos (cidades), é hoje um fator que está intrinsecamente relacionado com a capacidade de cada economia se propagar no raio de incidência comercial. Quanto maior for a sua capacidade comercial, maior serão as receitas, ceteris paribus.

O fator distância e tempo de deslocação, são variáveis justapostas por valores hierárquicos de consumismo. A procura poderá ser tão exigente que adquirir certo produto poderá, de certa forma, anular o custo da viagem pelo benefício da aquisição do pertence. Porém, a viagem é sempre tomada em consideração como prejuízo. Segundo a revisão de Converse, em 1949, o expoente da distância da cidade intermédia à cidade tenderá a fixar-se em 2, quando anteriormente era compreendido entre 1,5 e 2,5 valores.

Nos primórdios da vida urbana, o homem centrou as atividades comerciais no núcleo das cidades, atraindo consumidores para o seu centro como maneira de adquirir bens e serviços. Deste modo, gradualmente, na vida citadina esse núcleo central tornou-se um ponto essencial para o fluxo interno, atraindo os residentes do local.

Ao contrário de zonas turísticas, existem cidades que por si servem de propaganda própria, consideradas como megalópolis, o expoente máximo da materialização física da urbanização em grande massa e escala. Um dos grandes exemplos, destes casos, é a cidade de Nova Iorque. O seu valor turístico passa a ser totalitário a partir do momento que será possível percorrer a estrutura viária na malha quadrilátera de um bloco de prédios, ou sentir a ascensão de cada quarteirão pelos ares, o que passa a ser tema de guia turístico apresentando cada parcela da cidade. Manhattan apresenta-se  congestionada anualmente por visitantes que retratam a paisagem citadina pelos recantos da ilha, aglomerados utilizadores espaciais e consumidores de serviços. A atração desta megalópolis é de escala mundial, pelo fascínio de uma potência económica elevada pelos seus investidores diários, sendo possível sentir a área de afeto do outro lado do mar atlântico.

Esta atração de uma maior população a frequentar determinado ponto geográfico a fim de adquirir produtos, tem como base o modelo gravitacional da localização dos serviços comerciais, ceteris paribus. Naturalmente, se o núcleo da cidade for maior, a sua área de abrangência aumenta e a sua diversidade de compradores igualmente, não se restringindo só ao quadrilátero urbano que compete territorialmente com cidades vizinhas. A sua escala de influência económica transcende os oceanos.

Os locais de atração turística, podem, então, ser espaços exclusivos de lazer, como usufruir da zona litoral de um país, ou assumir o seu património como monumentalidade da parte histórica da cidade. Porém, nem um nem outro se revelam possíveis perante a situação pandémica que se instaura nos dias de hoje. No entanto, prevê-se que exista um aumento significativo no fluxo interno de visitantes diários após o fim do confinamento.

Em épocas sazonais, o turismo causa congestionamento nas ruas mas, após alívio da situação de pandemia mundial, as pessoas irão mediar a escolha de uma viagem futura pelo local mais próximo e mais prazeroso, aplicando um modelo de pensamento diretamente ligado ao modelo de Reilley.

Isto é, as decisões que os fluxos populacionais tomarão serão determinadas pela sua capacidade económica para fugir a zonas de sobrepopulação sazonal. Mais uma vez, não só somos condicionados pelo nosso raio de alcance monetário, como de interesse de saúde sanitária individual. Certamente, não escolheríamos Times Square para passar a passagem de ano.

 

Vasco Mendes

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Urbana”, lecionada ao Mestrado Integrado em Arquitetura, da Escola de Arquitetura/UMinho) 


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