A Energias de Portugal – EDP é uma
empresa do sector energético e foi criada em 1976 através
da fusão de 13 empresas que tinham sido nacionalizadas em 1975, então com o
nome “Electricidade de Portugal”. Como empresa estatal ficou encarregue da
electrificação de todo o país, a modernização e extensão da rede de distribuição
eléctrica, do planeamento e construção do parque electroprodutor nacional, e de
um tarifário único para todos os clientes. Hoje a empresa está verticalmente
integrada, com uma posição consolidada na Península Ibérica, quer ao nível de
produção, distribuição e comercialização de electricidade como de gás. O grupo
EDP tem uma forte presença no panorama energético mundial, estando presente em
países como Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Bélgica, e contando
com mais de 10 milhões de clientes e mais de 12 mil colaboradores em todo o
mundo. No mercado das energias renováveis, a EDP através da EDP Renováveis é
hoje o terceiro maior produtor eólico mundial, com 6227 MWs instalados no final
de 2009, e tendo ainda operações e projectos em diversos países. A EDP está
cotada no índice PSI-20.
Em 1996 dão-se os primeiros passos na
internacionalização. Em Junho de 1997 ocorre a primeira fase de privatização da
EDP, tendo sido alienado 30% do capital, operação esta de grande sucesso com a
procura a superar a oferta em mais de trinta vezes. Seguiram-se mais cinco
fases de privatização: Maio de 1998, Junho de 1998, Outubro de 2000, Novembro
de 2004 e Dezembro de 2005. Em 2011 dá-se a privatização mais polémica: a China
Three Gorges Corporation – CTG assina o contrato de aquisição de 21,35% do
capital social da EDP, cerca de 780.633.782 acções, que constituem objecto de
venda directa de referência relativa à 8.ª fase do processo de privatização da
empresa, atendendo ao maior mérito da respectiva proposta vinculativa
apresentada a 9 de Dezembro, a qual observa, em termos que satisfazem
adequadamente o Governo, os critérios de selecção. Contrato avaliado em 2,7 mil
milhões de euros (3,45 euros por acção) pela participação que o Estado
português detém na EDP, e para além de investir mais de 2 milhões de euros nos
projectos de parques eólicos até 2015, comprometeu-se a “melhorar o perfil de
crédito” da empresa através de linhas de crédito de 4 mil milhões de euros
junto a bancos chineses.
Esta operação é uma das primeira do
género feita na Europa no contexto da crise da dívida soberana, porém mais
negócios poderão seguir-se à medida que as enfraquecidas economias europeias
procuram clientes para ajudar a resolver as suas dívidas. De referir que será
uma ajuda para a CTG se expandir internacionalmente, uma vez que já se trata da
maior companhia de energias renováveis da China estando envolvida em projectos
hidroeléctricos em cerca de 26 países, e tendo em conta que as receitas anuais
da EDP representam 9% do PIB de Portugal, a CTG ao se tornar a maior accionista
daquela empresa entrará nos mercados da Europa, América e Brasil.
Este negócio insere-se no plano de
austeridade do Governo português, a primeira grande privatização de um conjunto
de operações de alienação de empresas ou participações públicas em empresas
impostas pela troika. Para além da
CTG, concorreram ainda as empresas E-On (2,54 mil milhões de euros) da Alemanha
e as brasileiras Eletrobras (2,56 mil milhões de euros) e Ceming.
Na opinião da FIEQUIMETAL (Federação
Intersindical das Indústrias Metalúrgica, Química, Farmacêutica, Eléctrica,
Energia e Minas) a entrega dos 21,35% que o Estado detinha na EDP à CTG é um
“mau negócio” para a economia nacional e para o desenvolvimento do país, com
graves consequências para a grande maioria dos portugueses e para os
trabalhadores. Afirma ainda que “a decisão do Governo constitui um erro
político” e “faz parte de um rumo errado”. Argumenta que o Estado deve ter um
papel decisivo na definição e na execução da política energética para que esta
procure responder aos interesses mais gerais do povo e do país e não funcione
como uma “fonte de lucro garantido e rápido”.
Na minha opinião e tendo em conta o
estado em que nos encontramos actualmente sob elevada vigilância da troika, este foi um bom negócio para o
país. Para começar a opção de negociar com a China é bastante interessante, uma
vez que é aquele que apresentou um valor mais alto bem como um maior número de
“regalias” associadas, pois a proposta de compra da CTG contempla investimentos
adicionais e abertura de linhas de financiamento, através da instalação de
bancos locais em Portugal (China Development Bank expandirá a sua sucursal para
Banco e o ICBC, o maior banco do mundo, instalará uma sucursal em Portugal),
que são cruciais e que irão assegurar as necessidades de financiamento da EDP
na actual conjuntura dos mercados financeiros, com a possibilidade de este
valor ser duplicado para 4 mil milhões de euros. Mais, a CTG permitirá à cotada
liderada por António Mexia baixar o seu risco de financiamento e melhorar o
endividamento, e a redução do custo de refinanciamento poderá implicar um
impulso de 5% aos resultados por acção. Por sua vez a venda de participações
minoritárias nos activos de geração de energia eólica pode adicionar 6% de
valor à EDP, ou seja, 0,15€ por acção. Desta forma, tanto a venda de parte dos
activos de geração de energia eólica como os menores custos de refinanciamento
da dívida da multinacional vão reforçar a rendibilidade da empresa e o seu
valor por acção, alias só o acto de compra por parte da CTG implicou um
potencial de valorização de 50% face ao valor de mercado das acções antes da
operação.
Em suma, o cheque chinês não trouxe
apenas à EDP e à economia nacional um investimento potencial de 8 mil milhões
de euros. A imagem da eléctrica nacional junto dos mercados volta a brilhar. A
agência de notação financeira Fitch já anunciou que apesar de manter o rating
BBB+, vai retirar a empresa de uma classificação de vigilância negativa, ou
seja, a empresa já não corre o risco de sofrer cortes de rating a curto prazo.
Além da EDP que vai melhorar o seu valor com esta compra, também o país vai
beneficiar não só com as vantagens que este negócio acarreta como
supramencionei, mas também com a imagem que a pouco e pouco Portugal vai
conseguindo melhorar, o que permitirá aos mercados financeiros começar a olhar
sobre uma perspectiva mais positiva para o nosso país e acreditando que poderão
voltar a fazer investimentos em território luso. Os chineses estão a pagar
perto de 8,7 mil milhões de euros para entrarem na EDP, somando o valor que
pagam ao Estado pela participação accionista e o cash que vão injectar para reduzir dívida e apoiar o projecto
industrial.
Catarina Fernandes
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