sexta-feira, janeiro 13, 2012

Guimarães CEC 2012

Desde de 1985 que, por iniciativa da Ministra Grega da Cultura e também artista Melina Mercouri, o título de “Capital Europeia da Cultura” é atribuído a uma ou mais cidades europeias por um período de um ano. Os procedimentos para esta eleição têm-se modificado ao longo do tempo. Actualmente, é necessário que o Estado-Membro interessado apresente a sua candidatura 4 anos antes do ano em questão a diversas instituições europeias como sejam Comissão Europeia, Parlamento Europeu, Conselho e Comité das Regiões.
                Este foi também o caminho seguido por Portugal quando apresentou a candidatura da cidade de Guimarães a Capital Europeia da Cultura 2012. Depois de Lisboa (1994) e Porto (2001), Guimarães é agora o alvo das atenções culturais da Europa e até do mundo. O “berço da nação” tem um elevado valor patrimonial, sendo o seu centro histórico classificado como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO, em 2001. Guimarães é sede de um concelho com cerca de 160000 habitantes, sendo um município português com uma grande população residente e cerca de metade dos seus habitantes têm menos de 30 anos, o que o torna um dos municípios mais jovens da Europa. Andar pelas ruas de Guimarães é recuar no tempo, viver histórias só relembradas em contos e ter a oportunidade de estar mais próximo do que foi o início da nossa nação.
Graças à atribuição do título de Capital Europeia da Cultura, esta cidade está a ser restaurada, renovada, reavivada. São muitas e notórias as diferenças desde que foi divulgado que esta seria o centro cultural europeu de 2012. Hoje, o Largo do Toural está mais amplo, os passeios estão mais largos, as fachadas dos edifícios mais novas e agradáveis, os jardins têm um novo design, estão mais limpos e bem cuidados tal como as ruas, a orientação do trânsito foi alterada e novas infra-estruturas foram e continuam a ser construídas para poderem ser utilizadas quer pelos turistas, que se espera que venham visitar a cidade, quer pela população que nela habita.
                Muitas foram e continuam a ser as críticas ao trabalho desenvolvido pela “Fundação Cidade de Guimarães”, criada no Conselho de Ministros realizado no dia 9 de Julho de 2009 e que tem como principais fins “a concepção, planeamento, promoção, execução e desenvolvimento do programa cultural do evento Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012”[1] e, findo este evento, esta poderá “assumir a gestão do património cultural e dos respectivos equipamentos, propriedade do município de Guimarães (…) com vista à promoção da cultura”1. Os estatutos da Fundação exigem que os indivíduos designados como membros dos órgãos da Fundação sejam “personalidades de comprovada idoneidade, integridade moral e competência”. Ora, não parece que o facto de o Doutor Jorge Sampaio ser o Presidente do Conselho Geral da Fundação tenha sido uma notícia bem “digerida” pelos vimaranenses. Apesar da sua competência não poder ser posta em causa, a verdade é que seria de esperar que este cargo fosse ocupado por alguém que conhecesse muito bem a cidade e as suas necessidades e que fosse dotado de um grande conhecimento do mundo cultural.
                As já referidas obras foram também alvo de várias críticas. A população de Guimarães não percebia o porquê de tantas mudanças feitas. Para além de estarmos atravessar um momento de crise e de não ser fácil aceitar o dinheiro gasto para modificar o que, segundo os vimaranenses, não precisava de ser alterado (aliás, faria até parte da identidade da cidade), as obras causaram grande transtorno a condutores, transeuntes, moradores e comerciantes. Contudo, agora que alguns dos locais mais emblemáticos da cidade estão de “rosto lavado”, parece-me que a Guimarães ficou a ganhar. As críticas foram praticamente silenciadas e existe agora uma cidade diferente para ser conhecida por quem já a havia visto.
                Este desenvolvimento é importante. Seria hipocrisia não assumir que esta candidatura foi uma forma de atrair investimento para o município. Contudo, não nos podemos esquecer que é de cultura que estamos a falar e é nesta que se deviam centrar as atenções de que organiza e promove o evento. Carlos Martins, director artístico, afirma que não existirão grandes nomes, que o objectivo não é “competir com nenhum festival” mas sim criar “um programa para a cidade real”. Pouco se conhece do programa cultural para o ano de 2012, sendo esta falta de programação específica já referenciada diversas vezes. Aliás, Guimarães foi já comparada com outras cidades que haviam previamente sido designadas por CEC como, por exemplo, Liverpool que iniciou a venda de bilhetes para os espectáculos no ano precedente do evento.
Do meu ponto de vista, sem promoção e divulgação não existem espectadores e sem público, os espectáculos são um fracasso. O facto de o público não ter conhecimento do que irá acontecer ao longo do ano faz com que este não participe. E, desta forma, o que poderia ser um dos principais destinos culturais deixe de o ser. Aliás, parece-me que muitos duvidam da existência de um programa anual cultural consistente, interessante e atractivo. De facto, o objectivo de uma CEC não é trazer grandes nomes, mas a verdade é que sem estes, os potenciais visitantes reduzem-se e, assim, diminui também todo o fluxo monetário que seria espectável.
                O grande objectivo deste evento é a promoção da Cultura e, desta forma, não podia terminar sem fazer referência ao facto de também a cidade de Maribor (Eslovénia) ser “Capital Europeia da Cultura 2012”.

Ana Rita Machado

[1] Decreto-Lei n.º202/2009 de 28 de Agosto, Anexo, Capítulo I, Artigo 3.º

[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3ºano do curso de Economia da EEG/UMinho]

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