terça-feira, janeiro 03, 2012

Surf, o novo ´cluster`?

O surf vem sendo uma modalidade em franco crescimento em Portugal. No nosso país, o número de surfistas praticantes (que praticam surf pelo menos uma vez por semana) situa-se entre os cinquenta e os setenta mil. A motivação para a prática deste desporto tem registado um maior aumento nos últimos dois anos, desde que um surfista português (Tiago Pires) conseguiu garantir a sua qualificação no circuito mundial, onde apenas 46 surfistas são convidados a participar.
Em termos económicos, a indústria do surf, através dos lucros totais das diferentes empresas ligadas ao surf, do custo suportado pelos praticantes da modalidade e as receitas provenientes da realização de competições internacionais (que podem facilmente atingir um milhão de euros), chega a um valor global de cento e cinquenta a duzentos milhões de euros, representativos das mais-valias económicas para Portugal. Pode juntar-se a este valor os benefícios decorrentes do aumento do turismo relacionado com a modalidade, já notório no Litoral Alentejano mas também em Peniche e na Ericeira, principalmente nesta última, uma vez que é a 1.ª Reserva de surf da Europa e a 2.ª do Mundo.
Esta é uma modalidade que tem interesses múltiplos, que vão desde o desporto até à hotelaria e ao turismo. Nos últimos anos floresceram centenas de escolas de surf. As maiores marcas internacionais de produtos para a modalidade instalaram-se no nosso país, transformando-o num importante importador e exportador de material de elevadíssima qualidade, de que são exemplo pranchas, vestuário e acessórios. Desenvolveram-se conceitos novos de alojamento conhecidos por surfcamps, que hoje representam milhares de camas de hotelaria não tradicional.
Infelizmente, todo este desenvolvimento da modalidade deve-se só à iniciativa privada, e não a uma devida promoção internacional do destino feita pelo turismo de Portugal. Sem qualquer agência de comunicação, a “promoção” vem sendo feita por aqueles que nos visitam e assim se tornam os nossos melhores embaixadores do surf e do sector turístico.
Alguns académicos, defendem em artigos de opinião que o sector dos desportos náuticos devia estar para o turismo português como os desportos de neve estão para muitos países da Europa central, com uma particular vantagem: a neve tem uma carácter sazonal, enquanto que o surf pode ser praticado durante todo o ano, dinamizando assim a sazonalidade.
Com 800 quilómetros de costa e ondas de todo o género, Portugal é um destino central para o novo mercado do surf, com condições excepcionais. É importante salientar que o “Oceano” é dos maiores ativos que Portugal tem na sua economia e está na hora de o explorar em todas as suas vertentes tal como já fora feito no passado. Não tenho duvidas em afirmar que Portugal está a criar um verdadeiro cluster económico associado ao surf.

Nuno Campos


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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