No mês de Novembro do ano passado, o INE publicou
um estudo sobre o poder de compra dos 308 municípios relativamente a 2009.
Ponte de Lima encontra-se na 208ª posição, encontrando-se assim, no conjunto
dos 100 mais pobres concelhos de Portugal. É ainda ultrapassado por alguns
concelhos do interior com menor área e menor potencial geográfico e humano.
Apesar das boas vias de comunicação que ligam esta cidade à capital de
distrito, ao Porto e a Espanha, Ponte de Lima é um exemplo de uma má estratégia
de desenvolvimento, já que o concelho tem enorme potencialidade turística já
explorada, mas que não é traduzida na riqueza dos habitantes, que têm forte
influência nessa mesma potencialidade, já que estes fazem parte da experiência
cultural do turista.
Desse mesmo estudo se concluiu que a região de
Lisboa reúne cinco dos dez concelhos com maior poder de compra do país: Lisboa,
Oeiras, Cascais, Alcochete e Montijo. O concelho do Porto encontra-se na
terceira posição desta lista. Fora da listagem encontram-se alguns municípios
da Grande Lisboa, como por exemplo Odivelas, Sintra, Seixal, Amadora, Loures e
Moita. O facto do concelho da Amadora se encontrar fora desta lista não traz
surpresas para os habitantes da região de Lisboa confrontados com estes
resultados, mas muitos demonstram indignação pelo facto de Sintra também não
estar incluído. Outros afirmam não compreender a quinta posição que o concelho
de Alcochete ocupa neste ranking,
afirmando que a presença do outlet
Freeport e o aumento demográfico contribui para o seu bom posicionamento,
tendo em conta o facto de este ser um município muito pouco desenvolvido há
alguns atrás. Oeiras não é, de todo, uma surpresa: foi considerado o ano
passado como o concelho que melhor paga, onde um trabalhador por conta de
outrem ganha, em média, 1034€ mensais. Em 2007, Cascais foi eleito como o
concelho mais caro do país no que respeita ao mercado habitacional, o que não
permite pasmo em relação à sua disposição na lista. Este estudo do INE incluiu
diversas variáveis referentes ao poder de compra, entre elas o vencimento
salarial, contratos imobiliários e o número de automóveis.
Obviamente que este estudo sobre o poder de
compra estará mais ou menos relacionado com factores como a criação de empresas
e a consequente oportunidade de emprego e, obviamente, a densidade
populacional. A favor dos dados acima mencionados se encontra o facto de Lisboa
ser o concelho que mais sociedades constituiu no primeiro semestre do ano
passado, num total de 18, 965 novas empresas portuguesas. O concelho do Porto é
o segundo neste ranking, sendo
seguido por Coimbra.
Curiosamente, segundo dados publicados pelo
Jornal Expresso nos primeiros meses de 2011, constatou-se que dos dez concelhos
com maior taxa de desemprego, sete estão no Norte, sendo Espinho o município
com maior taxa (24,6%) e Barrancos o que possui menor taxa nesse top dez (18%). Por outro lado, dos dez
concelhos mais afectados pela desempregabilidade, Melgaço é o que apresenta
melhores resultados (2,8%) e Ferreira do Zêzere o pior classificado neste top dez com 4,6%. É realmente de
estranhar estes dados, mas a única e indesejada conclusão que deles se retira é
o facto de a Região Norte significar Porto. Apesar de Melgaço ser o melhor
classificado, este é apenas um entre os dez melhores concelhos referidos, sendo
que todos os outros se situam na Região Centro do país. Outro facto
interessante é que nenhum dos concelhos referidos com menor taxa de desemprego
se situa no distrito de Lisboa, mas o mais provável é que esteja relacionado
com o factor densidade populacional.
Em 2009 o INE revelou que Lisboa congrega sete
dos dez concelhos com mais habitantes por quilómetro quadrado, sendo Amadora,
Lisboa e Odivelas os que se encontram no top
da lista. O concelho da Amadora regista cerca de 7293 habitantes por quilómetro
quadrado, sendo o município com maior densidade populacional do país. Ainda
relacionado com este tema, Sintra apresenta um cenário assustador devido ao seu
crescimento populacional nos últimos tempos. A população residente mostra-se preocupada
com esta situação, já que a opção de viver na periferia das grandes cidades se
baseia muitas vezes na preferência por um local mais calmo e com melhores
condições que o centro urbano. Nestes casos, é óbvia a necessidade de um
controlo do crescimento demográfico, já que este é um impeditivo da melhoria da
qualidade urbana e de requalificação dos espaços.
Quais as conclusões que se podem retirar de toda
esta informação estatística? É incrível o facto de haver um enorme
reconhecimento das disparidades existentes nas regiões do nosso país e ainda
assim não se tomarem medidas de maneira a poder atenuá-las. Podem não ser
claras as acções a tomar pela incerteza dos seus efeitos, mas é bem visto que a
tentativa não tem sido o nosso forte. É certo que a pertinência da
regionalização não se baseia apenas em factores económicos, mas poderá ser um
começo, um incentivo ao movimento em relação a esta necessidade. O facto de a
Troika ter referido que este era um campo em que Portugal deveria
explorar no sentido de diminuir despesas, poderá ser encarado positivamente no
sentido das consequências. A curto-prazo é certo que não haverá razões para
celebrar, no entanto, é preferível demonstrar a tentativa, ainda que
susceptível de falha, já que de todos os erros se retiram lições. Há uma forte
evidência da necessidade da alteração do investimento, retirar benefícios às
zonas mais favorecidas e empenhar esforço nas outras. O que a princípio possa
parecer uma perda para essas áreas, pode trazer vantagens no futuro, mesmo ao
nível da própria região.
A crise económica é uma consequência de vários
factores, a reestruturação da regionalização é uma urgência que se pode
traduzir nos meios para alcançar os fins.
Joana Dias
[Artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º
ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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