Tendo
por base a noção de que um território corresponde a uma concentração física de
pessoas e de edifícios que apresenta características económicas, sociais e
politicas específicas do contexto cultural onde emerge, facilmente se percebe
que a organização territorial tem cada vez mais um papel preponderante no desenvolvimento
de processos de inovação. Assim, a construção de enquadramentos estratégicos
que permitam orientar o desenvolvimento de políticas públicas e de estruturas
para a sua implementação segundo uma lógica territorial diferenciada torna-se
essencial para o desenvolvimento territorial.
Um dos métodos muito utilizados na organização
territorial é a criação de clusters.
Os clusters
obtêm-se através de “procedimentos estatísticos multivariados que tentam
organizar um conjunto de indivíduos, para os quais é conhecida a informação
detalhada, em grupos relativamente homogéneos”. A nível industrial, Porter
(1998) define os clusters como sendo uma
“concentração de empresas e de instituições inter-relacionadas no âmbito de um
sector de actividade específico, juntando-se assim um padrão de especialização
a uma massa crítica de actores, de conhecimento, de competências e de ligações
entre diferentes organizações à concentração geográfica”. Implica a associação
de uma contiguidade geográfica a factores funcionais e relacionais que nem
sempre se encontram nas co-aglomerações industriais. A delimitação geográfica e
funcional desta entidade torna-se assim complexa e de difícil alcance.
Neste tipo de análise é essencial ter especial
atenção na selecção das variáveis de partida, não havendo qualquer tipo de
interdependência entre estas nem havendo aleatoriedade na selecção. Mais há a
dizer sobre os passos necessários para a criação de clusters, no entanto importa perceber qual é de facto a sua utilidade
e a sua eficácia. Assim, atendendo a uma lógica territorial diferenciada, a
identificação de clusters num
determinado território pode constituir um passo essencial para promover uma
organização territorial que possa dar um suporte eficaz a um percurso de
desenvolvimento baseado no conhecimento e inovação. Esperando assim que, para além
do impacto a nível do desenvolvimento regional e da competitividade sectorial
de diversas indústrias, a formação dos clusters
gere importantes benefícios sociais, não apenas devido ao surgimento de um
conjunto de serviços e fornecedores especializados a nível local, mas também
pelo facto de que boa parte desse conjunto de empresas ser formado por pequenas
e microempresas que reforçam a sua posição competitiva e auxiliam a
competitividade do conjunto do cluster. Resumidamente, os clusters fomentam a cooperação entre
entidades, acelerando a produção e a evolução do conhecimento e a maior
eficiência na utilização dos recursos. A cooperação para a competitividade, a
atracção de investimento directo estrangeiro e a competitividade regional e
local são os principais motivos para a consolidação dos clusters, pois vêem reduzidos os custos de transacção e vêem
aumentado o uso de recursos complementares. A nível económico, dos benefícios,
destaca-se o aumento do nível de competências devido à aprendizagem gerada pela
competição e cooperação, a facilidade com que as empresas aproveitam as
complementaridades, as economias de escala e a possibilidade de novos negócios
pela aproximação social informal. Vejam-se os exemplos bem sucedidos do Silicon
Valley, na Califórnia e da Terceira Itália.
Em Portugal, um estudo feito por Michael Porter,
em 1993, conclui que existiam alguns clusters
a desenvolver-se, como é o caso dos produtos florestais, dos têxteis, do
vestuário e do mobiliário e outros já desenvolvidos, como é o caso da cortiça,
do calçado, das pedras ornamentais e dos moldes. No entanto, foi demonstrada a
pouca profundidade pelo facto de haver poucas indústrias relacionadas e de
suporte, como os bens de equipamento e as actividades de design e marketing. Apesar da formação de alguns grupos de trabalho
após este estudo, nunca chegou a ser aplicada uma política de clusters de forma sistemática no nosso
país.
Em 2001, o programa PROINOV retomou esta
temática introduzindo um novo conceito, “mega cluster”, onde definiu um novo conjunto de clusters, como é o caso da alimentação, habitat, moda, lazer, mobilidade, saúde e serviços pessoais e
informação e entretenimento.
Contudo, apesar do estudo de Porter e do
programa PROINOV, a economia portuguesa padece de uma fraca clusterização das suas actividades, o
Estado pode aqui ter um papel importante no desenvolvimento deste método,
designadamente no que toca à facilitação, quer a nível burocrático, através
incentivos e pela redução de taxas e custos.
Patrícia
Soares
[artigo de opinião produzido no âmbito da
unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º
ciclo) da EEG/UMinho]
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