terça-feira, janeiro 03, 2012

´Clusters`: contribuição para o desenvolvimento territorial

Tendo por base a noção de que um território corresponde a uma concentração física de pessoas e de edifícios que apresenta características económicas, sociais e politicas específicas do contexto cultural onde emerge, facilmente se percebe que a organização territorial tem cada vez mais um papel preponderante no desenvolvimento de processos de inovação. Assim, a construção de enquadramentos estratégicos que permitam orientar o desenvolvimento de políticas públicas e de estruturas para a sua implementação segundo uma lógica territorial diferenciada torna-se essencial para o desenvolvimento territorial.
Um dos métodos muito utilizados na organização territorial é a criação de clusters.
Os clusters obtêm-se através de “procedimentos estatísticos multivariados que tentam organizar um conjunto de indivíduos, para os quais é conhecida a informação detalhada, em grupos relativamente homogéneos”. A nível industrial, Porter (1998) define os clusters como sendo uma “concentração de empresas e de instituições inter-relacionadas no âmbito de um sector de actividade específico, juntando-se assim um padrão de especialização a uma massa crítica de actores, de conhecimento, de competências e de ligações entre diferentes organizações à concentração geográfica”. Implica a associação de uma contiguidade geográfica a factores funcionais e relacionais que nem sempre se encontram nas co-aglomerações industriais. A delimitação geográfica e funcional desta entidade torna-se assim complexa e de difícil alcance.
Neste tipo de análise é essencial ter especial atenção na selecção das variáveis de partida, não havendo qualquer tipo de interdependência entre estas nem havendo aleatoriedade na selecção. Mais há a dizer sobre os passos necessários para a criação de clusters, no entanto importa perceber qual é de facto a sua utilidade e a sua eficácia. Assim, atendendo a uma lógica territorial diferenciada, a identificação de clusters num determinado território pode constituir um passo essencial para promover uma organização territorial que possa dar um suporte eficaz a um percurso de desenvolvimento baseado no conhecimento e inovação. Esperando assim que, para além do impacto a nível do desenvolvimento regional e da competitividade sectorial de diversas indústrias, a formação dos clusters gere importantes benefícios sociais, não apenas devido ao surgimento de um conjunto de serviços e fornecedores especializados a nível local, mas também pelo facto de que boa parte desse conjunto de empresas ser formado por pequenas e microempresas que reforçam a sua posição competitiva e auxiliam a competitividade do conjunto do cluster. Resumidamente, os clusters fomentam a cooperação entre entidades, acelerando a produção e a evolução do conhecimento e a maior eficiência na utilização dos recursos. A cooperação para a competitividade, a atracção de investimento directo estrangeiro e a competitividade regional e local são os principais motivos para a consolidação dos clusters, pois vêem reduzidos os custos de transacção e vêem aumentado o uso de recursos complementares. A nível económico, dos benefícios, destaca-se o aumento do nível de competências devido à aprendizagem gerada pela competição e cooperação, a facilidade com que as empresas aproveitam as complementaridades, as economias de escala e a possibilidade de novos negócios pela aproximação social informal. Vejam-se os exemplos bem sucedidos do Silicon Valley, na Califórnia e da Terceira Itália.
Em Portugal, um estudo feito por Michael Porter, em 1993, conclui que existiam alguns clusters a desenvolver-se, como é o caso dos produtos florestais, dos têxteis, do vestuário e do mobiliário e outros já desenvolvidos, como é o caso da cortiça, do calçado, das pedras ornamentais e dos moldes. No entanto, foi demonstrada a pouca profundidade pelo facto de haver poucas indústrias relacionadas e de suporte, como os bens de equipamento e as actividades de design e marketing. Apesar da formação de alguns grupos de trabalho após este estudo, nunca chegou a ser aplicada uma política de clusters de forma sistemática no nosso país.
Em 2001, o programa PROINOV retomou esta temática introduzindo um novo conceito, “mega cluster”, onde definiu um novo conjunto de clusters, como é o caso da alimentação, habitat, moda, lazer, mobilidade, saúde e serviços pessoais e informação e entretenimento. 
Contudo, apesar do estudo de Porter e do programa PROINOV, a economia portuguesa padece de uma fraca clusterização das suas actividades, o Estado pode aqui ter um papel importante no desenvolvimento deste método, designadamente no que toca à facilitação, quer a nível burocrático, através incentivos e pela redução de taxas e custos.

Patrícia Soares

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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