terça-feira, janeiro 17, 2012

Frigideiras do Cantinho – o rosto da cultura histórica gastronómica de Braga

No remoto ano de 1796, no reinado de D.Maria I, abria em Braga o estabelecimento «Frigideiras do Cantinho». A particularidade deste espaço comercial, o mais antigo do género, prende-se com a forte relação que possui com um produto em especial, ao homenagear em nome, e na confecção, um folhado de carne com características muito peculiares. O que parecia então apenas mais um estabelecimento, foi uma prova espectacular da resistência ao esquecimento, através da manutenção da sua forte cultura histórica.
Este local foi criado para a confecção e comercialização especificamente das frigideiras, tendo mantido até à actualidade a receita, com um segredo transmitido de geração em geração, sendo que comercializa ainda hoje outros exemplos da doçaria portuguesa e regional minhota.
No entanto, para quem ainda não provou o famoso folhado que dá nome ao estabelecimento, é pertinente conjecturar: mas qual é o segredo secular desta iguaria? As frigideiras, consideradas património da cidade, são confeccionadas com carne de vitela moída enrolada num folhado em forma de pastel, o que impreterivelmente leva margarina e banha. Como é de calcular tem bastantes calorias, mas o sabor é único, e faz com que tenha muita procura em Braga, por turistas, e até locais, que aproveitam a visita ao centro da cidade para frequentar as instalações. Segundo reza a lenda, tudo começou há mais de 200 anos quando uma senhora natural de Braga começou a fazer a receita e a passá-la de mão em mão.
O estabelecimento original conta agora com outros dois estabelecimentos, para além da “casa mãe”, todos com a mesma gerência de forma a perpetuar o legado histórico de igual forma. A gerência garante que a receita se mantém até à actualidade, sendo que o segredo foi transmitido de geração em geração, e sendo isso mesmo o que as torna únicas e procuradas por visitantes de toda a parte. Actualmente o negócio está na família há duas gerações, depois de ter sido herdado. A necessidade em abrir um espaço maior veio do simples facto de que a crescente procura necessitava de uma oferta bastante maior. No entanto, os cuidados passaram por não perder a mística que envolve este produto regional secular, e como tal, todo o negócio ficou na família.
A secularidade da receita é tal que a gerência assegura que até Almeida Garrett invocou as Frigideiras de Braga na famosa obra “Viagens da Minha Terra”, assim como Júlio Dinis, nos «Serões da Província», de 1870, se referia a esta secular iguaria. Aliás, esta curiosidade histórica é um motivo de orgulho e é celebrado na placa pendurada nas paredes remodeladas da casa.
Um dos símbolos de Braga, surge e prospera num contexto histórico, rodeada de marcos relevantes na cidade, como a Sé ou a Arcada, bebendo da potencialidade turística da cidade. Os seus objectivos ultrapassam os de bem servir o cliente, na medida em que cumprem até propósitos educativos. A este título refiram-se as ruínas romanas, séc. III, IV, visíveis no subsolo do estabelecimento comercial, único exemplo do género.
Fundada nos finais do século XVIII, em 1796, esta pastelaria, confunde-se com a própria história do folhado de carne que lhe dá nome, tornando-se num estandarte da doçaria minhota e um ponto indispensável num roteiro turístico pelo património histórico de Braga.

Miguel Gomes

[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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