Nos finais do séc. XVIII, uma pequena povoação a sul da cidade de Guimarães pertencente a este concelho começou aos poucos a desenvolver-se, à mercê das águas sulfurosas que brotavam das entranhas da terra, em cinco locais diferentes. Durante muito tempo essas águas serviram apenas os habitantes mais pobres que se banhavam nos charcos que ali existiam.
Vizela, que durante muitos anos foi apelidada de “A Rainha das Termas”, começou a florescer como local de culto termal, tais eram (são) as qualidades das suas águas e que eram um remédio para grande número de enfermidades, estre as quais as que se relacionavam com as vias respiratórias, enfermidades dermatológicas e do aparelho locomotor. A todos os lados iam chegando notícias destas águas milagrosas e, por via disso, ali começaram a afluir doentes um pouco de toda a parte em busca de alívio para as suas doenças.
É neste contexto e para dar resposta a esta gente que aumentava a cada ano que se desenvolveu um comércio paralelo, o qual passava pela abertura de restaurantes, hotéis e as lojas mais diversas, que vieram enriquecer a outrora pobre povoação do concelho de Guimarães.
De dia, os aquistas frequentavam as termas, passeavam pelas ruas e comerciavam. À noite, havia lugar a festas, jogatinas no casino e o dinheiro fluia dos bolsos dos visitantes para os comerciantes locais. Visitantes que, como já referi, vinham de todo o Portugal mas também de paragens longínquas, como o Brasil.
Com a chegada do comboio a Vizela, houve ainda um maior incremento de aquistas, existindo fotografias da época com bagageiros dos hotéis e cambistas postados na estação do caminho-de-ferro, à espera das composições que todos os dias descarregavam turistas, alguns com divisas estrangeiras que precisavam de ser cambiadas para reais, a moeda da época.
O negócio floresceu de tal modo que muita da indústria implantada na vila nos anos dourados da têxtil, em princípios do séc. XX, nasceu graças ao dinheiro amealhado pelas gentes locais e à custa dos forasteiros que iam e vinham cada ano, tão bem se sentiam com os tratamentos termais.
A partir dos anos setenta do século passado, mais concretamente depois da revolução de abril, começa a haver um declínio no campo termal, devido à implantação do serviço nacional de saúde e de uma melhoria geral do nível de vida dos portugueses, que os levou a ter novos hábitos, nomeadamente as férias passadas nas praias, na montanha ou no estrangeiro.
E se algumas termas portuguesas souberam modernizar-se, oferecendo instalações remodeladas, indo assim de encontro não só de quem continuava a necessitar delas para as mazelas de sempre, mas também pondo ao dispor outros tratamentos que pudessem trazer bem-estar às populações, como pacotes de emagrecimento, rejuvenescimento, anti-stress, etc. As Termas de Vizela, porém, talvez por serem geridas por uma sociedade anónima com o capital maioritário nas mãos de uma só pessoa, sem grande visão das leis do mercado, mantiveram o velhinho balneário do séc. XIX. E porque nada foi feito para captar novos clientes, o negócio foi morrendo aos poucos, acabando por encerrar as portas, arrastando na queda boa parte do comércio e restauração dos quais era uma âncora.
Como se pode aferir pelo que foi escrito, e na minha opinião, fizeram falta a esta empresa ideias que acompanhassem as transformações da sociedade, um marketing aguerrido e sobretudo vontade de fazer este tão velho negócio prosperar com o orgulho da sua idade.
Manter este empreendimento vivo, poderia ter sido extremamente benéfico para a actividade turística de Vizela, que desde 1998 adquiriu o título de concelho.
Foi em fins de 2009 que as Termas encerraram, uma consequência da já tão desconfortável crise económica. Muito provavelmente, caso se tivesse mantido uma posição perseverante em relação a esta actividade, hoje Vizela poderia estar em melhores condições, não só económicas, mas também culturais. É certo que a honra da eleição a concelho muito trouxe à cidade de Vizela, mas a verdade é que, pouco de Vizela glorificou esta ascensão.
Joana Dias
[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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