terça-feira, janeiro 24, 2012

IC 35: Castelo de Paiva merece

             A comunidade urbana do Vale do Sousa, composta pelos municípios de Castelo de Paiva, Felgueiras, Lousada, Paços de Ferreira, Paredes e Penafiel, inserida na NUT III da Sub-região do Tâmega, tal como todas as comunidades urbanas, tem como objetivos a criação de laços de união, o crescimento e a coesão social em cada município membro.
              Tendo em consideração a doutrina defendida pelos clássicos nas teorias de dispersão territorial, podemos considerar que o município de Penafiel, pela sua área territorial, população e PIB per capita, entre outros indicadores, teria ao seu dispor todas as condições para ser o centro mais urbano que os demais parceiros, em que todos os municípios periféricos gravitariam em seu redor. Tal não significaria uma desvalorização dos restantes municípios, mas antes teria de ser perspetivado num sentido estratégico de crescimento.   Consequentemente ao facto de Penafiel ser o centro gravitacional de toda a região, os demais municípios estariam periféricos. 
          Tal como foi defendido por Christaller (1893-1969) e desenvolvido por Lösch (1906-1945), na decisão sobre a localização das empresas devemos ter em conta dois importantes fatores, nomeadamente o alcance atingido pelo bem produzido e o limiar da procura. Desta forma, a presença destes fatores, seria mais benéfica para a região no sentido de que o ganho geral alcançado poderia ser superior à soma do ganho das partes.
             Por outro lado, Alfred Weber (1868-1958), considerava que as empresas tinham uma "certa tendência" para se localizarem em áreas cujo custo de transporte era mais reduzido, sendo que tal localização seria mais próxima não só da matéria-prima como inclusive da mão-de-obra disponível, podendo optar pelo seu público-alvo. Assim, quanto maior for o nível de captação de empregadores, maior será, consequentemente, o desenvolvimento territorial onde tal investimento for efetuado.
              Tendo em consideração as teorias defendidas pelos "clássicos" supra referidos, é com clara evidência que podemos confirmar a existência de diversos fatores económicos favoráveis à construção do IC35. Assim, a sua construção encurtaria, em termos temporais, a ligação entre os municípios periféricos uma vez que, atualmente, Castelo de Paiva, é o único município que não dispõe de qualquer ligação rápida com a Comunidade Urbana e, simultaneamente, os custos de localização das empresas com sede em Castelo de Paiva seriam mais reduzidos, na medida em que o alcance do bem seria maior o que, por sua vez, implicaria uma subida do limiar da procura na sua localização territorial.
            E, se os motivos económicos não são suficientes, recordemos a noite de 4 de Março de 2001, em que foram feitas promessas e assumidos compromissos e, onze anos depois, o IC 35 não está ainda concluído, nem sequer 5% de todo o seu trajeto que pretende ligar Penafiel a Sever do Vouga, passando por Castelo de Paiva, Arouca e Vale de Cambra.
           Os 13km que separam Entre-os-Rios a Penafiel pela EN 106, nestes últimos 11 anos já vitimizaram mais pessoas (mortos e feridos graves) que a queda da ponte Hintze Ribeiro, com uma diferença: a ponte além de ser reconstruída, foi construída ao seu lado uma outra para lado nenhum, mas a estrada mantém-se silenciosa, com filas intermináveis e acidentes quase diários.
            As restrições orçamentais, por muito válidas e querentes que possam ser neste tempo de crise, em que os cortes cegos nem sempre salvaguardam princípios básicos como a igualdade e a coesão social, torna-se legítimo questionarmo-nos se os motivos referenciados não são suficientes para que Castelo de Paiva deixe de ser o único município do Vale do Sousa sem acesso rápido a um centro urbano quer a norte, quer a sul ou ao litoral. Estarão assegurados os 30 minutos vitais que distanciam ao Hospital Padre Américo ou São Sebastião?
            O IC 35, além de ser vital para ligar Castelo de Paiva a norte, facilitará a eliminação de barreiras de interioridade que o município de Arouca também sofre. Mais que ser imprescindível e benéfica, tanto em termos económicos como sociais, a construção do IC 35, torna se justa, pois Castelo de Paiva merece que a obra prometida ganhe contornos estruturais.

Manuel Mendes 


[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Desenvolvimento e Competitividade do Território” do curso de Mestrado em  Economia, Mercados e Políticas Públicas (2º ciclo) da EEG/UMinho]

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