A comunidade urbana do Vale do Sousa, composta pelos
municípios de Castelo de Paiva, Felgueiras, Lousada, Paços de Ferreira, Paredes
e Penafiel, inserida na NUT III da Sub-região do Tâmega, tal como todas as
comunidades urbanas, tem como objetivos a criação de laços de união, o
crescimento e a coesão social em cada município membro.
Tendo em consideração a doutrina defendida
pelos clássicos nas teorias de dispersão territorial,
podemos considerar que o município de Penafiel, pela sua área
territorial, população e PIB per capita, entre outros indicadores, teria ao seu
dispor todas as condições para ser o centro mais urbano que
os demais parceiros, em que todos os municípios periféricos gravitariam em seu
redor. Tal não significaria uma desvalorização dos restantes
municípios, mas antes teria de ser perspetivado num sentido estratégico de
crescimento. Consequentemente ao facto de Penafiel ser o centro
gravitacional de toda a região, os demais municípios estariam
periféricos.
Tal como foi defendido por Christaller (1893-1969) e desenvolvido
por Lösch (1906-1945), na decisão sobre a localização das empresas
devemos ter em conta dois importantes fatores,
nomeadamente o alcance atingido pelo bem produzido e o limiar da
procura. Desta forma, a presença destes fatores, seria mais benéfica para a
região no sentido de que o ganho geral
alcançado poderia ser superior à soma do ganho das partes.
Por outro lado, Alfred Weber (1868-1958),
considerava que as empresas tinham uma "certa tendência" para se
localizarem em áreas cujo custo de transporte era mais reduzido, sendo que
tal localização seria mais próxima não só da matéria-prima
como inclusive da mão-de-obra disponível, podendo optar pelo seu
público-alvo. Assim, quanto maior for o nível de captação de empregadores,
maior será, consequentemente, o desenvolvimento territorial onde tal
investimento for efetuado.
Tendo em consideração as teorias defendidas pelos
"clássicos" supra referidos, é com clara evidência que podemos
confirmar a existência de diversos fatores económicos favoráveis à
construção do IC35. Assim, a sua construção encurtaria, em termos temporais, a
ligação entre os municípios periféricos uma vez que, atualmente, Castelo de
Paiva, é o único município que não dispõe de
qualquer ligação rápida com a Comunidade Urbana e, simultaneamente,
os custos de localização das empresas com sede em Castelo de Paiva seriam mais
reduzidos, na medida em que o alcance do bem seria maior o que, por sua vez,
implicaria uma subida do limiar da procura na
sua localização territorial.
E, se os motivos económicos não são suficientes,
recordemos a noite de 4 de Março de 2001, em que foram feitas promessas e
assumidos compromissos e, onze anos depois, o IC 35 não está ainda concluído,
nem sequer 5% de todo o seu trajeto que pretende ligar Penafiel a Sever do
Vouga, passando por Castelo de Paiva, Arouca e Vale de Cambra.
Os 13km que separam Entre-os-Rios a
Penafiel pela EN 106, nestes últimos 11 anos já vitimizaram mais pessoas
(mortos e feridos graves) que a queda da ponte Hintze Ribeiro, com uma
diferença: a ponte além de ser reconstruída, foi construída ao seu lado uma
outra para lado nenhum, mas a estrada mantém-se silenciosa, com filas
intermináveis e acidentes quase diários.
As restrições orçamentais, por muito
válidas e querentes que possam ser neste tempo de crise, em que os cortes cegos
nem sempre salvaguardam princípios básicos como a igualdade e a coesão social,
torna-se legítimo questionarmo-nos se os motivos referenciados não são
suficientes para que Castelo de Paiva deixe de ser o único município do Vale do
Sousa sem acesso rápido a um centro urbano quer a norte, quer a sul ou ao
litoral. Estarão assegurados os 30 minutos vitais que distanciam ao Hospital
Padre Américo ou São Sebastião?
O IC 35, além de ser vital para
ligar Castelo de Paiva a norte, facilitará a eliminação de barreiras de interioridade
que o município de Arouca também sofre. Mais que ser imprescindível e benéfica,
tanto em termos económicos como sociais, a construção do IC 35, torna se justa,
pois Castelo de Paiva merece que a obra prometida ganhe contornos estruturais.
Manuel Mendes
[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Desenvolvimento e Competitividade do Território” do curso de Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas (2º ciclo) da EEG/UMinho]
[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Desenvolvimento e Competitividade do Território” do curso de Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas (2º ciclo) da EEG/UMinho]
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