Podendo ser um conceito desconhecido para alguns dos
potenciais leitores, importa, desde logo, esclarecer aquele que é o conceito aqui
abordado. Segundo a Organização Internacional de Turismo Social (OITS), e numa
tradução livre, o Turismo Social abrange os “fenómenos relacionados com a
participação de pessoas, por norma pertencentes a camadas sociais mais
desfavorecidas, em atividades turísticas”. Ou seja, falamos de um setor
dirigido para pessoas que, em condições normais, e por alguma razão, são
incapazes de usufruir das vantagens inerentes às atividades supramencionadas.
Como principais benefícios do Turismo Social, a OITS aponta este
setor como sendo “modelador da sociedade”, “promotor de crescimento económico”,
assim como “participante no desenvolvimento regional, local e global”.
Quanto ao panorama português, numa breve contextualização
história, foi criada, em 1935, a Fundação Nacional para Alegria no Trabalho
(FNAT), pioneira a nível nacional. Segundo a Professora Manuela Maria Patrício,
docente no Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Instituto
Politécnico do Porto, esta entidade, financiada pelo Estado, tinha como
finalidade “assegurar, no tempo livre dos trabalhadores, um desenvolvimento
físico e a elevação do seu nível intelectual e moral, mediante a criação de
colónias de férias e excursões”. Após o 25 de abril de 1974, a Fundação INATEL
substituiu a outrora FNAT e, atualmente, é referência maior no setor da
Economia Social, desenvolvendo atividades em diversas áreas, entre elas o
Turismo Social.
Membro da OITS desde 1971, foi justamente a Fundação Inatel
que, em 2015, no seu estabelecimento hoteleiro de Albufeira, acolheu o Fórum
Europeu de Turismo para Todos. Reunindo congressistas de toda a Europa, assim
como diversos operadores internacionais especializados em Turismo Social, o
encontro ficou marcado pelo debate em torno do futuro do turismo social, sendo
também analisada a aposta na inovação e na utilização de novas ferramentas. Na
sua intervenção, o então presidente da Câmara Municipal de Albufeira, Carlos
Silva e Sousa, referiu a “importância
da economia social como geradora de riqueza e emprego, sublinhando que a mesma
está cada vez mais presente nas sociedades mais desenvolvidas”.
Mais recentemente, em 2017, o mesmo autarca, através de uma
entrevista, dava conta da consciência que o
município tem da relevância do Turismo Social. Fazendo referência a uma reunião
de presidentes de Câmara ocorrida em França, Carlos Silva e Sousa declarou ter sensibilizado
os restantes autarcas, aconselhando a possibilidade de se facilitar a ida de reformados para Albufeira. Ademais, realçando que, no
estrangeiro, existe um enorme apoio nas viagens desde género, acredita que esta
seria uma excelente ocasião para “dar vida ao concelho e animação à economia”,
numa referência à época baixa.
Com um número elucidativo da capacidade que a cidade tem
para acolher turistas, no ano de 2018, Albufeira foi a segunda cidade do país
com mais dormidas (apenas ultrapassada por Lisboa), registando-se, segundo o INE, cerca de oito
milhões e trezentas mil dormidas. Diante destes números, e juntamente com a
enorme influência que esta cidade tem no setor turístico, algo que já é de
conhecimento internacional para muitos, podemos ficar com a sensação de que
basta apenas a “boa-fé” por parte de entidades públicas e/ou privadas.
Desconhecido para muitos, esse poderá ser o motivo para a
ausência de maior investimento no setor do Turismo Social, ao qual poderemos
acrescentar o natural receio inerente à inexperiência numa potencial área de
investimento. Contudo, com a intermediação do município e do próprio Estado, e enquanto
indivíduo natural da cidade em questão, acredito que Albufeira reúne e oferece todas
as vantagens que só o Turismo Social consegue proporcional àqueles que deste
usufruem. Como tal, só posso desejar que Albufeira se torne, efetivamente, e
num futuro próximo, numa referência, a nível nacional e internacional, no
Turismo Social.
Ciente da realidade do Turismo Social em Portugal, Nelson
Silva, presidente da Mutualista Covilhanense, lamenta que este setor nunca
tenha tido o devido destaque a nível nacional, realçando a importância que o
mesmo tem para aqueles que possuem menos recursos financeiros. Afirma, contudo,
que o paradigma apresenta melhorias nos últimos anos, naquilo que poderá ser indicativo
de um futuro promissor para um sector que “combate a exclusão” e que “dinamiza a
atividade económica e cultural”.
Eliano Costa
Referências
Ambitur. (2015). Albufeira recebe Fórum Europeu de Turismo
para Todos. Consultado em 5 março, 2020, de https://www.ambitur.pt/albufeira-recebe-forum-europeu-de-turismo-para-todos/
Patrício, Manuela Maria. (2012). A Política Pública
do Turismo e o Turismo Social. Consultado em 4 março, 2020, de https://recipp.ipp.pt/bitstream/10400.22/846/1/COM_ManuelaPatricio_2012.pdf
Pordata. (2020). Dormidas nos alojamentos turísticos:
total e por tipo de alojamento. Consultado em 4 março, 2020, https://www.pordata.pt/Municipios/Dormidas+nos+alojamentos+tur%c3%adsticos+total+e+por+tipo+de+alojamento-748-4959
Silva, Nelson. (2018). Turismo social: uma
oportunidade para as entidades da economia social. Jornal de Negócios.
Consultado em 7 março, 2020, de https://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/economia-social/detalhe/turismo-social-uma-oportunidade-para-as-entidades-da-economia-social
Social
and Health Tourism.
(s.d.). Social Tourism. Consultado em 6 março, 2020, de http://www.shtourism.eu/social-tourism.html
Varela, Ana Sofia. (2017). Albufeira quer afirmar-se
no turismo social e inclusivo. Barlavento. Consultado em 7 março, 2020,
de https://www.barlavento.pt/destaque/albufeira-quer-afirmar-se-no-turismo-social-e-inclusivo
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