sexta-feira, março 13, 2020

Portugal - “Destino Turístico Acessível 2019”

Em Setembro de 2019, Portugal foi considerado pela Organização Mundial do Turismo o melhor destino turístico para pessoas com necessidades específicas. O prémio foi entregue durante a 23ª Assembleia Geral da Organização Mundial de Turismo, realizada em São Petersburgo, na Rússia, e visa reconhecer o esforço que Portugal tem vindo a realizar na questão da acessibilidade.
Há algum tempo, as entidades e os agentes de turismo têm revelado preocupação sobre práticas inclusivas. Portugal tem vindo a procurar destacar-se como destino acessível, aproveitando um nicho que na Europa representa um mercado de 127,5 milhões de emissores/consumidores. Será importante refletir sobre a realidade do turismo acessível ou inclusivo em Portugal, analisando de forma breve o seu conceito, as medidas que têm sido implementadas e os seus intervenientes, bem como os benefícios deste segmento de relevância para a atividade turística e para os próprios destinos considerados acessíveis.

O conceito de Acessibilidade
“A acessibilidade pode ser definida como a capacidade do meio (espaço, edifícios ou serviços) de proporcionar a todos uma igual oportunidade de uso, de uma forma direta, imediata, permanente e o mais autónoma possível” [1]. A acessibilidade constitui-se num direito inalienável de qualquer cidadão, salvaguardada por leis e documentos como a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das Nações Unidas, que foi elaborada em 2006 por pessoas com deficiência e seus familiares, instituições que conhecem de perto os problemas ligados às questões da deficiência e outros peritos. A Convenção foi assinada por 160 países, entre eles Portugal, e todos os da União Europeia. O 30º artigo consagra a igualdade no acesso ao lazer, desporto e turismo.

Turismo Acessível
A acessibilidade é para muitos turistas um factor indispensável, nomeadamente para os que têm alguma deficiência, limitação física ou cognitiva, para os idosos (que têm condicionantes físicas resultantes da idade) e também para as famílias com crianças pequenas, que geralmente usam carrinho para facilitar o transporte. Assim é frequentemente utilizado um termo que engloba todas as condicionantes de carácter físico – mobilidade reduzida.
Os consumidores que valorizam o factor da acessibilidade na oferta turística são decisivos para a competitividade e sustentabilidade da oferta nacional. Os estudos de mercado revelam que estes consumidores mobilizam maior número de verbas financeiras, relacionadas com as suas condicionantes e que se traduzem em estadias mais prolongadas, maior número médio de acompanhantes, maior fidelidade ao destino, melhor repartição pelas épocas altas e baixas e maior reconhecimento, promoção e divulgação de um destino acessível. As leis de acessibilidade[2] que visam a eliminação de barreiras físicas, a adaptação das infra-estruturas e dos serviços corporizam uma necessidade que deve ser considerada como investimento que permite valorizar um destino e proporcionar aos visitantes e residentes a autonomia, segurança e qualidade de vida. Neste sentido, há que ter presente as diferentes facetas da deficiência, o seu carácter temporário ou permanente e, sobretudo, não esquecer que a maioria das vezes as limitações são impostas pelo meio físico e social e não pela condição fisiológica.

Turismo Acessível em Portugal – medidas que conduziram ao reconhecimento da OMT
A história do turismo acessível em Portugal é relativamente recente mas as iniciativas e medidas implementadas têm vindo a acompanhar o crescimento e afirmação do destino Portugal ao nível internacional. Neste contexto, são de assinalar iniciativas públicas e privadas, nacionais ou regionais, que visam a igualdade de oportunidades e a inclusão das pessoas com deficiência, como as fomentadas pelo Instituto Nacional de Reabilitação, o Turismo de Portugal, o Instituto de Emprego e Formação Profissional, Autarquias, Associações Não Governamentais, INATEL, Escolas Superiores de Educação e de Turismo. De forma independente ou em parceria, têm editado guias, organizado congressos, implementando projectos que são hoje uma referência e que ajudam a promover Portugal como um destino acessível, nomeadamente: “ Praia Acessível – Praia para Todos”;  “ All for All”; plataforma “ TUR 4 ALL”; ou “ Festivais + Acessíveis.”

Considerações finais
A notícia de Setembro de 2019 parece bastante positiva para a promoção de Portugal como destino acessível. Será importante perceber se esta distinção terá um impacte neste segmento do turismo e se as entidades, e os cidadãos, consideram Portugal como um país acessível, ou se Portugal é apenas um Destino Acessível.

Susana Patricia da Silva Ferreira 



[1]Gouveia, Pedro Homem – Turismo Acessível em Portugal lei, oportunidades económicas, informação. Ed. Instituto Nacional para a Reabilitação, Janeiro de 2011.pg.9
[2]Decreto/ lei  nº163/ 2006 ; Decreto / Lei º 125/2017.

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

Sem comentários: