quinta-feira, março 26, 2020

O legado intercultural Al-Andalus: as rotas que patenteiam opulentos séculos de História

As rotas do legado Al-Andalus convidam à descoberta da Andaluzia, transversalmente influenciada pela presença muçulmana na região entre os séculos VIII e XV. De recordar que, em seus inícios, ocupou grande parte da Península, chegando inclusive aos Pirenéus, parte considerável de Aragão e, progressivamente, foi diminuindo com o culminar do Califado nasrida de Granada em 1492.
Mencionar as rotas é exclusivamente referir um marco e singularidade conceitual expresso em termos históricos, culturais, patrimoniais, sociais, e de tradições, com uma relevância magistral e diversificada. Estas permitem redescobrir a civilização hispano-muçulmana através da sua arte, sua cultura e relações históricas sociais com o mundo árabe, bacia do mediterrâneo e América Latina.
Certamente, a união de vários fatores, desde um marco geográfico limitado, a Península Ibérica, sete séculos de ocupação histórica, contacto com várias regiões até à convivência de três religiões em simultâneo permitiu o desenvolvimento de uma prodígia interlocução a nível intercultural na sociedade e história.
O traçado das rotas inclui trilhos que antes foram idealizados com um propósito: para comunicar o Reino de Granada com o resto da Andaluzia, Múrcia e Portugal, na necessidade de suprir a capital. Na atualidade, demonstram uma base e inspiração histórica que hospeda cidades da Andaluzia que têm muito a dizer e oferecer.
Enquanto algumas rotas são uma clara representação das ligações para suprir as carências, outras adquirem o seu reconhecimento por terem sido percorridas por personagens ilustres, como Washington Irving e Ibn al-Jatib, em diferentes momentos da cronografia.
No que concerne ao turismo, a rede de rotas em matéria histórica, cultural e paisagística apresenta-se como uma oferta vitalmente impulsionadora pelo amplo potencial andaluz: desde a existência de monumentos inigualáveis, palácios majestosos, estilos efervescentes, referências históricas, literárias e lendárias intimamente conectados à civilização andaluza. Neste mesmo sentido, a interculturalidade transposta pode aportar ao mundo atual um dos meios de melhor conhecimento e compreensão entre os povos, e estabelecer laços de solidariedade que contribuam para um futuro e inter-relações otimizadas.
Certamente, é nesta cariz que se realizam as rotas turísticas e culturais, nas quais se destacam a do Califato, que une as cidades de Córdoba e Granada através da província de Jaén, a rota de Washington Irvin, localizada entre Sevilha e Granada, a rota dos Nazaríes, que conecta Jaén e Granada, a rota dos Almohades e Almorávides, conectando  Cádiz e Granada,  e a de al-Mutamid, de Sevilha ao Algarve.
Além do leque diversificado de ideias, cultura e religiões que compõem o interesse principal, de igual pendor é a utilização de tais rotas para um desenvolvimento sustentável, respeitando ambos patrimónios o cultural e o natural.
No decorrer do caminho, o viajante toma maior consciência da função histórica que Espanha e Andaluzia desempenharam como ponte cultural entre Oriente e Ocidente, e melhora a sua compreensão de outras culturas, para a construção de um mundo mais unido e com menos desavenças. Neste sentido, este tipo de turismo, quiçá algo atípico, pode ser determinante, não só pelo marco identitário cultural que exalta, bem como peloo apelo à solidariedade, tolerância e união. Num mundo cada vez mais sublevado e estandardizado na oferta turística, penso que se torna primordial investir numa cultura de paz e num turismo que se desenvolva nesse mesmo conceito, atraindo atenção turística de mente aberta em que diferentes ideais, religiões e origem se conjugam harmonicamente, promovendo o diálogo, aspeto de que se carece, infelizmente, na atualidade.
Em suma, é extremamente importante refletir sobre as potencialidades e valores regionais para a consolidação de uma autêntica política de turismo, em que o usufruto da sua cultura, gentes e história sejam uma potencialidade regional e contributo à serenidade mundial.

Elsa Rodrigues, PG40408[1]

Bibliografia:



[1]  Aluna do 1º ano de Mestrado de Património Cultural, artigo produzido no âmbito da Unidade Curricular de Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional proposto pelo docente José Cadima.

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

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