terça-feira, março 10, 2020

Alto Douro Vinhateiro

Na sua obra intitulada A Fúria das Vinhas, António Moita Flores comenta que “Quem subir ao alto de Vargelas ficará com a certeza de que chegou ao ponto mais belo do céu. O Douro visto daquele píncaro é o Paraíso prometido em todas as lições de catequese.” Assim como Moita Flores, popularmente, a região vinhateira do Douro é considerada uma das belezas que Portugal tão orgulhosamente possui.
Cada pedra, cada muro, cada socalco, cada vinha sussurra a difícil e íngreme beleza do Alto Douro Vinhateiro. A sua milenar história é refletida no suor e esforço de um povo, assim como no curso natural do rio Douro. E é através desta beleza única demarcada pelo trabalho árduo, quer da Natureza, quer do ser humano, que se garante um toque especial nas viagens a esta região.
Por muitos anos, a riqueza desta região de Portugal foi subvalorizada. Apesar de o Alto Douro Vinhateiro ser considerado Património Mundial da UNESCO desde 2001, muitos portugueses desconhecem o encantamento que estas paisagens podem fornecer. Embora ainda se verifique esta situação, o turismo na região do Alto Douro Vinhateiro tem vindo lentamente a aumentar. Como demonstrado pela Presidente da Junta de Freguesia de Pinhão (Alijó), Sandra Moutinho, observa-se que o número de turistas está a aumentar de ano para ano, além de se verificar um aumento de número de camas nesta região.
Esse crescimento de turistas é realizado por todas as vias, quer a via fluvial, quer a via rodoviária, quer a via ferroviária. De todas as formas de viagem é possível observar todo o encanto que a região vinhateira traz. Porém, a viagem de comboio efetuada na Linha do Douro dá um certo toque histórico e especial que as outras vias não são capazes de transmitir.
Primeiramente, a Linha do Douro surge nos finais do século XIX, numa época delineada pelas políticas e práticas de industrialização e modernização do país. Esta linha ferroviária tinha como intuito o desenvolvimento e crescimento das áreas geográficas mais restritas pertencentes ao Vale do Douro. Ao longo da sua construção, foram sentidas diversas dificuldades devido à morfologia do terreno desta região. Mas apesar disso, a Linha do Douro viu a sua conclusão a 8 de dezembro de 1887, com a sua extensão máxima até à Barca d’ Alva, uma estação que servia a Linha Internacional de Pocinho a La Fuente de San Esteban. Mas o seu início esperançoso começou a decair com o decorrer dos anos, quando os caminhos-de-ferro da Linha do Douro começavam a demonstrar sinais de “envelhecimento”, devido à falta de interesse e investimento do Governo português.
Visitar o Alto Douro Vinhateiro através da Linha do Douro, talvez seja uma das melhores experiências que um turista irá ter. Além de presenciar esplêndidas paisagens de socalcos e de vinhas, também poderá visitar as famosas vinícolas vistas durante a viagem através de visitas guiadas, com um extra de poder realizar uma prova de vinhos.
Por outro lado, o turista poderá “saltar no tempo” a bordo do Comboio Histórico do Douro, pois esta velha locomotiva a vapor leva a reboque cinco carruagens históricas para atravessar a região entre Peso da Régua e Tua. Com esta viagem, é possível presenciar a arquitetura do século XIX e XX nas estações, além de vislumbrar os tão conhecidos azulejos que decoram o exterior da estação ferroviária de Pinhão.
Por último, a viagem através da Linha do Douro poderá fornecer experiências gastronómicas únicas, nos pequenos restaurantes situados perto das estações ferroviárias desta linha. Como exemplo, o restaurante Calça Curta, que fica em frente da estação do Tua, permite vivenciar e degustar uma deliciosa e típica refeição (como carne de javali ou de veado) sobre o rio Tua. Noutra perspetiva, esta viagem ao Alto Douro Vinhateiro permite a sobrevivência do comércio local desta região.
De facto, uma viagem à região Alto Douro Vinhateiro traz novas experiências e conhecimentos para os turistas. Descobrir uma região tão pouco explorada, mas dita como uma das mais belas do país, certamente será uma aventura inesquecível, pois, nas palavras do poeta Miguel Torga, o Alto Douro Vinhateiro é “um excesso de beleza (…) Um poema geológico. A beleza absoluta.”.

Cátia Sofia Almeida Alves

Sítios:
https://www.viaverde.pt/particulares/viagens-vantagens/descobrir-portugal/artigos/uma-viagem-de-charme-no-comboio-historico-do-douro

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)

1 comentário:

Nuno disse...

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