O estado do Rio de Janeiro
possui uma importância estratégica para o turismo nacional e foi responsável
pela geração de 10% do PIB do setor em 2017. Mundialmente conhecida por suas
belezas naturais e clima tropical, a cidade do Rio de Janeiro, capital do
estado de mesmo nome, sempre se destacou como destino turístico, tanto entre os
estrangeiros como entre os próprios brasileiros. Entretanto, a crise econômica
enfrentada pelo estado nos últimos anos tem deixado a cidade cada vez mais
distante dos ideais de viagem dos turistas. Ironicamente, grande parte dos
problemas enfrentados pelo governo fluminense, atualmente, tiveram origem nos grandes
eventos que toda cidade sonha em sedear.
Em 2009, ao ser anunciada como
sede dos jogos Olímpicos de 2016, os governos federal e estadual deram grande
enfoque ao “legado olímpico”: um conjunto de obras de infraestrutura;
urbanização e revitalização de espaços públicos, que seriam a herança do evento
para o estado. Mas, na prática, o que se viu foi, além da repetição do padrão
já conhecido pelos brasileiros após a Copa do Mundo de 2014, com obras
inacabadas e dinheiro público desperdiçado, diversos casos de corrupção, um
problema endêmico no país.
Os
desvios milionários, somados à má administração, foram responsáveis pelo
esvaziamento das contas públicas do estado, desencadeando um efeito dominó no
setor privado regional, levando o estado, nos anos seguintes, à ruína econômica.
Com um défice de 26 bilhões de
reais em 2017 e sem recursos financeiros para promover serviços básicos para a
população, as belas praias passaram a contrastar com a crescente miséria e com
o aumento da sensação de insegurança. No setor turístico, somente na
capital, 14 hotéis encerraram suas atividades desde 2017 e, de acordo com dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a retração na atividade
acumulada nos anos de 2017 e 2018 foi de 11,5%, cinco vezes maior que a média
nacional.
Atualmente, o governo estadual
tenta reverter esta situação através de investimento nas atividades turísticas
e chegou a chamar o turismo de o “novo petróleo”, fazendo alusão à importância
do óleo para a economia fluminense.
Em junho de
2019, o Secretário de Turismo Otávio Leite e o Governador Wilson Witzel
divulgaram um conjunto de medidas para alavancar o setor. Uma
delas, a “Rumo ao Rio”, tem como objetivo atrair eventos como congressos, shows, conferências e seminários, uma vez que, de acordo com
a fundação Rio Convention & Visitors
Bureau, no ano de 2018, somente a cidade do Rio atraiu 1,2 milhão de
pessoas através de tais atividades.
Em dezembro de 2019, foi a vez
do seminário “Rio + Turismo – Avanços para Transformar o Estado”, onde o
governador reuniu líderes do setor e agentes governamentais para discutirem
políticas para esta área e estimou dobrar o investimento, que passaria dos
R$ 20 milhões em 2019 para os R$ 40 milhões em 2020.
A estratégia,
porém, é questionável, uma vez que ao invés de se focar nos problemas sociais e
de infraestrutura do estado, o governo parece ter no turismo sua única aposta
econômica, esquecendo que é preciso coordenar o incentivo à atividade turística
com medidas de investimento em infraestrutura, serviços públicos de qualidade e
segurança, sendo esta última de extrema importância para o setor. Sendo assim, a recuperação do prestígio do Rio de Janeiro como destino
turístico passará, obrigatoriamente, pelo reconhecimento dos equívocos da atual
política de fomento focada somente na atividade em si, não a vinculando a
melhoria das condições de vida da população. Afinal, o bem-estar do povo é o
melhor cartão de visitas para qualquer turista. Enquanto
isso, a única parte do legado olímpico do qual se poderá desfrutar é a
recessão.
Luciana Vitoriano Rodrigues
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)
Luciana Vitoriano Rodrigues
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)
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