segunda-feira, março 16, 2020

Rota Camilo

A Rota Camilo é um produto no domínio do turismo literário. Atualmente, integra a Casa-Museu do Escritor e um trilho pedonal denominado de “Trilho da Cangosta do Estêvão”, inspirado numa referência feita por Camilo Castelo Branco na sua mais conhecida novela - “Maria Moisés”. O Trilho da Cangosta do Estêvão desenha-se entre a Casa de Camilo – Museu, na freguesia de Seide, e o Centro da freguesia de Landim, sendo ambas as visitas orientadas. Engloba, igualmente, em complemento, uma experiência gastronómica inspirada na obra do escritor. Existem ainda dois restaurantes associados, onde o Menu camiliano está disponível: o restaurante Ferrugem e O Prato.
A finalidade deste projeto é, essencialmente, centrar em Vila Nova de Famalicão a sedimentação da sua política de intervenção cultural e científica a favor da língua e da cultura portuguesas, apostar e valorizar o património de Camilo Castelo Branco como produto turístico de sucesso, não só localmente mas também em todo território nacional.
Camilo Castelo Branco é um dos nomes mais importantes da narrativa portuguesa de sempre, tendo a sua figura e obras sido divulgadas por décadas, marcando várias gerações de portugueses. O autor de “A Queda dum Anjo” ou “Amor de Perdição” deixou um legado literário vasto e rico, e também uma pegada material na sua casa-museu e em vários espaços físicos que percorreu ao longo da sua vida.
Mandada construir por volta de 1830, a Casa de S. Miguel de Seide é hoje um tesouro vivo da língua. Hoje, como casa-museu, reúne um amplo espólio de grande significado histórico, o qual é fundamental para o conhecimento da vida e obra do escritor e onde o visitante pode mergulhar na figura de Camilo Castelo Branco como exemplo da importância da língua e cultura portuguesas.
Ao entrar na casa podemos vivenciar o ambiente onde morou o escritor, conhecer o mobiliário que lhe pertenceu e à sua família, bem como utensílios de uso pessoal. E, ainda, mais de 3500 volumes de bibliografia, que incluem edições de originais e traduções, bem como 787 livros que pertenceram à sua biblioteca particular. Há também cartas da sua autoria, recortes de imprensa, jornais onde colaborou ou dirigiu e perto de 1000 peças diversas de escultura, pintura e outras artes.
Complementada com o Centro de Estudos Camilianos, a tarefa divulgativa do conjunto é grande e esforçada. O edifício do Centro, obra de Álvaro Siza Vieira, compreende um auditório, salas de leitura e exposições temporárias desta e outras figuras da nossa literatura.

Figura 1 - Capa do desdobrável da Rota de Camilo

O Município de Vila Nova de Famalicão, como tutor da casa de Camilo e do Centro de Estudos Camiliano, criou esta rota turística em torno da vida e obra do romancista, desenvolvendo várias parcerias com outras instituições da região norte. O principal objetivo foi o de tirar partido da cidade do Porto enquanto porta de entrada de milhares de turistas para dar a conhecer Camilo Castelo Branco. Para além das autarquias de Famalicão e do Porto e da Direção Regional de Cultura do Norte, fazem parte do projeto a Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa (onde, para além do corpo de Camilo, estão guardados inúmeros objetos, manuscritos e correspondência do escritor), o Centro Português de Fotografia (antiga Cadeia da Relação, onde Camilo este preso por duas vezes) e a Livraria Lello (Camilo foi o autor que mais obras forneceu para os prelos da Lello & Irmão).
Camilo é um escritor que ultrapassa as fronteiras de Vila Nova de Famalicão e tem um potencial enorme em termos de promoção turística. Não se trata da promoção de um território ou de um concelho, mas antes da promoção de um património e de uma época. A quantidade e a qualidade das obras literárias que nos legou é uma verdadeira herança que merece ser promovida.

Pedro Costa

Referências:

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

Sem comentários: