domingo, março 15, 2020

DESAFIOS DE GESTÃO DO CENTRO CULTURAL DRAGÃO DO MAR EM FORTALEZA, BRASIL

Um dos maiores desafios dos gestores culturais na atualidade é a implantação de uma gestão compartilhada, democrática e participativa, discutindo, elaborando e traçando novos rumos no campo da cultura.
Estes desafios fazem parte dos conflitos gerados ao longo das gestões do Centro Dragão do Mar, pois para que haja uma boa gestão deste equipamento é necessário que o Estado esteja ao lado das instituições gestoras não só incentivando e financiando economicamente com o contrato de gestão, mas, sobretudo, controlando e fiscalizando a utilização das verbas direcionadas a este espaço da cultura cearense.
Muito embora o modelo de gestão do Dragão do Mar possua caraterísticas públicas, se faz necessário algumas intervenções advindas da iniciativa privada, como: a otimização na utilização de receitas, e a minimização de custos.
 Uma gestão ativa, transparente, comprometida e compartilhada tornará o Dragão do Mar um lugar de referência, atraindo públicos e parcerias que permitam o desenvolvimento de ações e negócios culturais.
 O Dragão do Mar é um equipamento que representa uma forma de ação pública muito recorrente na contemporaneidade que transforma perfis urbanos de modo privilegiado pela via da cultura.


Sua instalação trouxe inúmeras consequências para a cidade, tais como: a democratização dos acessos, onde há uma circularidade de pessoas de diferentes escalas sociais e também pessoas de faixas etárias diversas, incorporando um status de modus vivendi da contemporaneidade nas cidades.
A população passa a usufruir de serviços agregados à implantação deste espaço cultural, como facilitação de transportes, cinemas, teatros, ou seja, a um maior consumo de bens e serviços derivados da economia do conhecimento, aliados aos novos hábitos de qualidade de vida.
Compreendido como espaço de ações permanentes e dinâmicas, o CDMAC tem sido alvo de descaso de gestores e governantes, com mudanças de direções, presidências e coordenações, ocasionando uma descontinuidade nos projetos e nas ações pensadas e planejadas a cada nova gestão.


Portanto, é preciso que o Dragão seja convertido numa política de Estado e não mais de governo, evitando desta forma oscilações entre as gestões. O poder público deve equilibrar as diferentes forças que disputam sua configuração atual, travando diálogos democráticos entre Secretaria de Cultura do Estado - SECULT, CDMAC, IACC e representantes da sociedade, conferindo ao equipamento durabilidade em consonância com os interesses dos cearenses.
 Os desafios e conflitos de gestão do Dragão do Mar vêm sendo questionados pela mídia local, pesquisadores e influenciadores do cenário cultural.  Estes problemas de gestão levaram ao fim de parcerias importantes, por exemplo, fechamento da livraria Livro Técnico, lugar bastante frequentado pelos amantes de uma boa leitura. O espaço era dedicado a encontros culturais, com um ambiente agradável para seus frequentadores. Outra parceria desfeita foi com o Unibanco/Itaú, mantenedor das salas de cinemas do Dragão do Mar, que era uma importante parceria público-privada.
Apesar desta problemática que o Centro Dragão do Mar vem enfrentando não podemos deixar esquecido que este equipamento ainda continua sendo um difusor cultural do nosso estado, um ícone, uma referência cultural.
Desta maneira, percebe-se que a gestão cultural deste equipamento deve dialogar com os saberes afins, como instrumento de reflexão e gerenciamento, aderindo a formatos mais liberais e diversificados.
 Deve-se, contudo, implantar uma política de gestão cultural democrática, compartilhada e inclusive participativa, onde as demandas sejam estudadas criteriosamente, usando a tradição, a memória e as marcas culturais do povo em favor da criação artística, criando, inovando e buscando novas demandas culturais e profissionalizando os setores gerenciais e logísticos da produção cultural, criando propostas de exposição que movimentem a própria produção local.
         Os desafios são grandes e apontam para um novo formato de gestão compartilhada das políticas públicas culturais entre sociedade civil e poder público. Parcerias com outras secretarias e atividades alinhadas com metas estabelecidas auxiliam na melhoria nos segmentos culturais e sociais
Portanto, é preciso conhecer as demandas, suas marcas culturais e incluir em suas ações essas demandas como produtoras e promotoras de cultura e de arte. É mais do que gerir o espaço, é gerir os sonhos e as expectativas do povo, não apenas como demanda, mas como produtor de cultura e de arte.

Altamir Cartaxo Braga

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

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