Há poucos projetos no
país que têm em vista a preservação da música tradicional portuguesa, seja na
preservação de documentos, de vídeos ou fotos. No concelho de Vila Nova de
Famalicão, um projeto desenvolvido pela Câmara Municipal, em colaboração com um
grupo de música tradicional portuguesa, constitui, no entanto, um exemplo de
esforço no que concerne à preservação da música tradicional portuguesa,
trabalhando-a com as gerações mais novas.
Grande parte da sabedoria
popular era, até finais século XIX, transmitida oralmente em várias regiões do
País, passando de geração em geração, como os contos, as mesinhas e a própria
música. Alguns etnólogos e musicólogos
no século XX intervieram no campo musical no sentido de preservar em livro
muitas recolhas que foram sendo efetuadas quer por Pires de Lima, Gonçalo
Sampaio, Giacometti e outros. O projeto “Canções de Bem-Querer” sempre teve
como objetivo preservar a música tradicional portuguesa e trabalhá-la com as
escolas primárias do concelho. Nesse sentido, Turmas de 3º e 4º ano recebem uma
sessão musical em colaboração com um grupo de música tradicional, o Grupo
Musical Pedra D’Água, do qual faço parte e, numa sessão de 45 minutos, as
crianças poderam aprender até três músicas tradicionais.
Fazendo parte de um dos
grupos intervenientes deste projeto, posso confirmar que é nestas idades que as
crianças conseguem reter com mais facilidade as canções. O facto de terem uma
visita inesperada na sala de aula por um grupo musical com instrumentos
tradicionais portugueses, como uma viola clássica, uma braguesa, um bandolim ou
um adufe, torna toda a situação numa experiência inesquecível para as crianças.
É claro que há, hoje em
dia, outras formas de preservar a música tradicional. Uma delas é a plataforma online “A Música A Gostar Dela Própria”
e, como é referido no sítio: “um possível modelo social, baseado na escuta e na
partilha, acreditando que a memória colectiva pode ter um grande papel na
coesão social”. Outra forma é tentar alcançar o reconhecimento internacional,
como o Fado e o Cante Alentejano, que foram considerados como Património
Imaterial da Humanidade, o que traz consigo relevância turística e cultural.
O Património Imaterial é e
continua a ser, do meu ponto de vista, um assunto delicado. Com o passar do
tempo, todo o seu simbolismo e significado alteram-se. O costume de acompanhar
o trabalho agrícola com cantares polifónicos, sem qualquer acompanhamento
instrumental, por exemplo, nas desfolhadas do milho, nas malhadas do centeio e
nas cegadas e vindimas, pode não se verificar com a mesma importância hoje em
dia, comparativamente com a década de vinte ou trinta do século passado, apesar
de ser ainda costume em algumas, poucas, áreas rurais.
Os hábitos sociais da era
em que vivemos são diferentes, no entanto toda a sociedade tem um passado, um
pilar onde assenta a sua diferença cultural e a torna uma comunidade única e,
ao mesmo tempo, parte de um todo global a que se chama País/Nação. Assim sendo,
e porque a questão da música tradicional portuguesa me é cara questiono-me: qual
é o papel do cidadão na preservação da música tradicional portuguesa? Qual a
importância da música tradicional portuguesa na representação da nossa
identidade cultural? Estaremos a fazer o suficiente quer como grupo quer
individualmente pela preservação de cantares e músicas, usos e costumes?
Luís Miguel Cardoso Pinho
Ferreira
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