É percetível que o desenvolvimento do turismo é bom
para a economia de uma localidade, e que, em alguns casos, têm o turismo como
sua fonte principal de renda, mas até que ponto ele é positivo?
Existe uma grande diferença na forma como será
ofertado o turismo aos visitantes, que determinará se essa prática será
positiva, aceite, ou não para a localidade onde se encontra inserido, que é um adequado
planejamento da oferta turística, bem como uma política pública voltada à
oferta de um turismo responsável, de forma holística, que visa atingir
satisfatoriamente todas as partes envolvidas nesse processo.
Ainda sobre planejamento da oferta turística, esse
deve considerar-se como uma de suas principais pautas a opinião de todos os
envolvidos nessa receção. Isso inclui, é claro, o morador local comum, que
precisa ter a sua rotina diária considerada e respeitada. Uma vez que o turismo
passa a causar impacto que prejudique sua vida econômica e rotina diária, é
natural e aceitável que o público recetor se torne resistente ao turismo em sua
cidade.
Já não é de agora que se percebe a problemática e se
reflete a respeito do “turismo predatório”, porém, o que se percebe é uma morosidade
nas tomadas de decisão, ou mesmo nenhuma ação para contornar o problema.
Ao contrário, percebemos atualmente que a prática de
moldar as atrações e as instalações para satisfazer a boa experiência do
turista continua a ser praticada sem planejamento, contribuindo, assim, para
sua descaraterização e destruição. O caso de Veneza, na Itália, por exemplo, é
um dos mais emblemáticos. Os moradores que ainda vivem na cidade são
prisioneiros da falta de solução para os problemas agravados ano após ano com o
número de turistas que aumenta além do que a cidade é capaz de suportar. Essa
situação afasta os moradores (que foram drasticamente reduzidos a cerca de
60.000 no ano de 2018), incapazes de suportar o aumento do custo de vida na
cidade, falta de emprego que não ligados ao turismo, além da falta de bom
relacionamento com os visitantes, o que afeta fortemente o seu dia-a-dia.
A insatisfação com essa situação é apontada não apenas
por moradores comuns mas, até, mesmo por comerciantes locais, que possuem algum
tipo de vantagem com a prática do turismo.
No contraponto desse exemplo, existem localidades que
impuseram suas regras, valores de taxas ambientais e limite de visitantes
diários, que, embora sejam feitas de maneira insuficiente, funcionam como
inibidores de ações do turismo predatório. São os exemplos disso, entre outros,
Bonito, em Mato Grosso do Sul, e o arquipélago de Fernando de Noronha, em
Pernambuco (ambos no Brasil). Essas medidas são tomadas a partir de políticas
públicas que visam minimizar os impactos ambientais e sociais dessas regiões
tão procuradas por turistas de todo o mundo. Claro que existem impactos e
problemas, mas aqui focaremos em medidas que “ainda” funcionam para a não
destruição e descaraterização desses locais.
Gruta do Lago Azul Bonito
MS Fonte: https://pousadasaojorge.com.br/blog/tag/bonito/
Em Bonito, por exemplo, existem muitos locais em que,
além de um número restrito de visitantes por dia, não é possível fazer a visita
sem o acompanhamento de um guia credenciado da região. Essa ação previne que
turistas mal-intencionados tenham acesso às grutas e cachoeiras, uma vez que se
faz um pequeno cadastro/reserva para acessar determinadas áreas. Além disso, as
altas taxas ambientais cobradas tornam uma viagem para esse destino bastante
dispendiosa.
Já em Fernando de Noronha, a restrição no número de
pessoas que acessam o arquipélago por dia até existe mas, recentemente, na
prática, já dá sinais de descontrole em nome do crescimento. Existe ainda, uma
quebra de braço entre o governo de Pernambuco, que incentiva o aumento de
licenças para voos diários e construções de novos empreendimentos hoteleiros na
ilha, indo contra as recomendações do ICMBio (Instituto Chico Mendes de
Conservação e Meio Ambiente), órgão que é a favor de um estudo mais atualizado
e aprofundado sobre a capacidade da ilha.
Morro dois irmãos, fonte:
https://viagemempauta.com.br/2017/04/25/dicas-para-economizar-noronha/
Ainda que exista uma das taxas de preservação
ambiental mais altas do país, tais resoluções, que visam o aumento de turistas
e crescimento econômico, colaboram para a degradação do local como um todo.
É assustador detetar que, em momento de urgência de
preservação, alguns locais fazem o caminho inverso, mesmo que possuam as
ferramentas que os possibilitem manter o controlo de acesso e cuidados
ambientais.
Simone
Paixão da S. Ribeiro
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