terça-feira, março 10, 2020

Turismo e Voluntariado numa só voz

Se é verdade que o turismo está cada vez mais em voga, não é menos verdade que o voluntariado também está. E porque não juntá-los? Porque não conhecer e aprender? Porque não distanciar-se e crescer?
«Viajar é uma maneira de descobrir coisas novas sobre nós mesmos e aprender a vermo-nos com mais clareza. O voluntariado é uma maneira de passar tempo dentro de outra cultura, para se tornar parte de uma nova comunidade, experimentando a vida numa perspetiva diferente.» É esta filosofia que procura definir a essência do Turismo de Voluntariado. Uma nova forma de lazer em que os turistas voluntários procuram envolver-se num desafio pessoal e motivador, que alia o prazer da viagem e a descoberta de si mesmo e do outro.
Assim, nasce o conceito de voluntariado. Os voluntários deslocam-se porque querem fazer a diferença, porque não têm como objetivo deixar as coisas como estão, como um turista que se desloca a um museu, porque têm motivações pessoais, porque querem estar ativos, fazer algo de útil, adquirir novos conhecimentos, ajudar os outros. São seres solidários e com vontade, altruístas e generosos. É atitude e progresso. Resiliência e compaixão. É humano.
O Turismo de Voluntariado procura, na sua essência, oferecer aos turistas voluntários uma experiência que contribua não só para o seu desenvolvimento pessoal como, também, para o desenvolvimento social, natural e económico da comunidade local.
Nas últimas duas décadas, o Turismo de Voluntariado tem sido alvo do interesse dos investigadores do turismo. A definição mais citada é a de Stephen Wearing. Para este autor, o termo Turismo de Voluntariado aplica-se à atividade de turistas que, por diversas razões, se tornam voluntários numa forma organizada para fazer umas férias que podem envolver ajudar, ou aliviar pobreza material de alguns grupos na sociedade, a recuperação de meios ambientes, ou a investigação de alguns aspetos da sociedade ou meio ambiente.
Idealmente, quando se fala da palavra voluntariado, pensa-se instantaneamente em África. É viajar para África, ficar lá uma temporada. É o dar pão às crianças, pão e material escolar. E o que tem de errado? Nada. Está tudo certo. Mas tem tanto de certo como de quase irrealista. Vai do que querer ao fazer. Mas e se não for África? E se não for pobreza? E se for ali na cidade mais próxima? Ou a 100 km de casa?
Portugal assume-se cada vez mais como um dos emissores de turistas voluntários. Existem diversas entidades portuguesas a apostar nesta segmentação. Assim, considerando que a atividade turística assumiu uma dimensão global, se o Turismo de Voluntariado for planeado e implementado de forma correta poderá trazer igualmente benefícios a todos os envolvidos nestas práticas.
Existem já vários projetos em atividade. A InComunidade é uma cooperativa de solidariedade social, sem fins lucrativos, sedeada no Porto desde 2012. Ambiciona contribuir para a promoção da dignidade humana em todas as suas vertentes, garantindo o desenvolvimento de comunidades mais solidárias. Outra ONG portuguesa, privada, independente e sem fins lucrativos é a AMI (Assistência Médica Internacional), fundada em 1984. Assume-se como uma organização humanitária inovadora no país, com o objetivo de intervir rapidamente em situações de crise e emergência e combater o subdesenvolvimento, a fome, a pobreza, a exclusão social, e as sequelas de guerra em qualquer parte do Mundo. Por sua vez, a Sol Sem Fronteiras é uma ONG para o Desenvolvimento nascida em 1993. Tem como objetivo promover os ideais da fraternidade e solidariedade entre povos, particularmente entre jovens de países diferentes.
A impacTrip, uma agência de viagens de turismo solidário apresenta experiências turísticas alternativas para redescobrir Portugal e criar um impacto social e ambiental positivo. Mergulhar para limpar o Oceano Atlântico, viajar de barco à vela ajudando jovens de instituições sociais, visitar Lisboa com um guia sem-abrigo ou descansar numa aldeia tirada de um conto de fadas, apoiando jovens deficientes nas suas terapias, são apenas alguns exemplos das experiências de turismo solidário que oferece. Já as Pousadas da Juventude pelo país oferecem alojamento e refeições em troca de trabalhos de manutenção, jardinagem e trabalho comunitário.
Está aqui o futuro. Turismo e voluntariado. Em Portugal e no Mundo. E porque não juntá-los? Porque não conhecer e aprender? Porque não distanciar-se e crescer?

Inês Ferreira Peixoto

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)

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