domingo, março 15, 2020

As represálias da massificação do turismo no Machu Picchu

A “cidade perdida dos Incas”, que remonta ao século XV, ficou conhecida mundialmente graças à expedição realizada por Hiram Bingham, em coordenação com a Yale University e com a National Geographic Society, entre 1906 e 1911, tendo terminado a investigação no ano de 1912. Posteriormente, o Machu Picchu foi declarado Património Cultural da Humanidade pela Unesco, em 1983, e em foi 2011 escolhido como uma das 7 maravilhas do mundo moderno.
Muito antes de 1911 já se conhecia a existência deste templo situado nas montanhas. Remontando ao ano de 1821, altura da independência do Peru de colônia espanhola, aqui o Machu Pichhu possuía relevância agrícola para os camponeses que habitavam na terra. Entre 1865 a 1880, encontramos marcos da presença europeia na cidade. Com a descrição da cidade pelo naturalista italiano Antonio Raimondi, a montanha do Machu Picchy e Huayna Picchu são colocadas no mapa e, por fim, o explorador francês Charles Wiener confirmou a existência arqueológica de um sítio nas colinas de Machu Picchu, mas não se alargou nos comentários ou descrição do espaço.
Uma das principais questões em redor do templo recaí nos porquês da sua criação e esta polémica continua a ser debatida pela historiografia. Muitos acreditam que estamos na presença de um retiro real criado pelo imperador, “Sapa Inca” Pachacuti (1408-1474), para si, seus filhos e comitiva, enquanto outros defendem que o Machu Picchu foi utilizado como local de culto e santuário religioso. Por fim, existem historiadores que defendem o espaço geográfico como localização estratégica e posto de controle do império “Antisuyo” (terras do Leste).
Diariamente, o Machu Picchu recebe turistas de todo o mundo, sendo importante assegurar não só um controlo ordenado na forma de acesso até ao templo. Não existe uma vida direta para o espaço arqueológico intencionalmente por causa do fluxo de visitantes. Importa, também, controlar o número de turistas no santuário.
Para além de pagarem entradas elevadas, contam restrições, como a proibição de entrada de comida, ou até de guarda-chuvas, de forma a preservar o espaço e apostar na segurança.
Os benefícios sociais do impacte do turismo no Machu Picchu são diversos e relacionam-se com o desenvolvimento e suporte à comunidade local graças ao dinheiro proveniente das entradas, como também dos presentes, restaurantes e transportes locais. É importante abordar o orgulho cultural do espaço para os peruanos, como a troca de cultura diária e o encorajamento e preservação dos espaços.
No que diz respeito aos custos sociais, a realidade é que o Machu Picchu encontrou, ao longo dos anos, turistas que prejudicaram o seu espaço. Há casos caricatos, como o de um grupo de cinco turistas que passaram a noite escondidos no complexo, sendo posteriormente deportados, mas foram reportados turistas a danificar pedras e a realizar necessidades fisiológicas no espaço. Outro exemplo, é o de um grupo boliviano que ficou proibido de entrar no Peru por 15 anos depois de causarem danos no Templo do Sol.
Na tentativa de atenuar estes problemas, o chefe do parque arqueológico, José Bastante, defende a colocação de dezoito câmaras de vigilância e drones no complexo, de forma a conseguirem controlar e averiguar se os turistas estão infradir aos regulamentos ou a colocar em risco o património.
A nível dos benefícios ambientais do turismo no Machu Picchu, a promoção, conservação e preservação de recursos naturais, culturais e históricos, não só dentro do espaço arqueológico como ao redor, são um marco importante.
Os custos ambientais relacionam-se com o dano das pegadas dos turistas no solo, ou a falta de árvores ao redor do santuário, que não só serviriam como proteção do templo como também poderiam beneficiar a fauna e flora da área ecológica protegida. Sobre esta situação em particular, o Presidente Peruano comprometeu-se a plantar um milhão de árvores no complexo.
Por fim, a nível dos benefícios económicos, o Machu Picchu traz pessoas de diferentes realidades socioeconómicas, que contribuem para o desenvolvimento local, sem falar da série de trabalhos e oportunidades de negócio relacionadas com hotéis e serviços, que indiretamente acabam por suportar o turismo na área.
O turismo pode fornecer benefícios econômicos mas, simultaneamente, apresentar-se como uma ameaça e impacte cultural e ecológico. O aumento do número de visitantes do Santuário Histórico de Machu Picchu deve ser acompanhado de administração adequada que não só regule o acesso, diversifique a oferta, mas também se esforce para entender e minimizar completamente os impactes deste espaço arqueológico com séculos de História e de importância fulcral no entendimento da civilização Inca e identidade Peruana.


Figura 1 - Machu Picchu 1911 por Hiram Bingham

Figura 2 - Machu Picchu por C. Wojtkowski na atualidad


Diana Mendes

Referências:



(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)

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