sábado, março 07, 2020

Turismo Religioso: Círio de Nazaré

mais de dois séculos, outubro é considerado um mês de devoção no Pará. A capital do mais extenso estado do Brasil, Belém, recebe uma das maiores festas cristãs do mundo, o círio de Nazaré. A tradição mantem-se mais de dois séculos, e desde 2013 é declarada Patrimônio Cultural da Humanidade, pela UNESCO.


Multidões correm para as ruas para aguardar e se emocionar para ver a imagem da virgem de Nazaré passar. A comoção é coletiva. Até os mais céticos, como eu, se deixam levar pela emoção. É inegável que há uma energia de comoção que emana entre as pessoas. É um momento de união de famílias e amigos para assistir a tudo o que acontece nesses dias tão especiais: ver as crianças vestidas de anjo; os barcos de miriti que navegam no mar de gente; ou, até, mesmo aqueles que em seus corpos fracos acham força e fazem o percurso de joelhos. Todos têm apenas um desejo: crer que a virgem de Nazaré é mãe e roga por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte, como diz a famosa prece.


A história começa em 1700, com a aparição de uma imagem de Nossa senhora de Nazaré, encontrada por um caboclo à beira do rio Murucutu, na cidade de Belém. Após diversas tentativas de encontrar um altar para a imagem, milagrosamente ela sempre voltava ao local em que foi encontrada. Assim foi entendido que naquele local deveria ser construído o seu templo, e assim foi feito. Após o milagre da aparição se espalhar, a imagem foi enviada para restauração em Portugal, em 1794. No seu retorno, realizado no segundo domingo de outubro daquele ano, a imagem percorreu do cais da cidade até seu santuário acompanhada por fiéis, autoridades religiosas e governamentais, surgindo a primeira procissão do Círio de Nazaré.


A quadra nazarena realizada no mês de outubro em devoção à Santa, é composta por 12 eventos que envolvem romarias e festejos. As principais romarias são: “O translado da berlinda”- procissão que sai do município de Belém para o município de Ananindeua, em carreata, na qual vai recebendo diversas homenagens pelo percurso; “A romaria rodoviária”- que acontece na madrugada de sábado para domingo, e em que ocorre a procissão da imagem da Santa de Nazaré até à vila de Icoaraci; lá se dá inicio à “A romaria fluvial”, que foi criada em 1985 para que os ribeirinhos que não possuem condições de ir até Belém possam fazer suas homenagens (nessa procissão, todos os tipos de barcos seguem o barco da marinha, que leva carinhosamente a chamada Nazinha pelas águas da Baía do Guajará).


Também é integrada pela “moto romaria”, que começa por volta das 11 horas da manhã do sábado com a chegada da imagem ao cais de Belém. A imagem percorre novamente em carro aberto seguida por romeiros motoqueiros que buzinam anunciando a passagem da santa, que vai até o colégio Gentil Bettencourt, localizado no bairro Nazaré, no centro da cidade.


Na véspera da procissão principal, no sábado, ocorre a “transladação”, na qual os fiéis seguem o carro da berlinda no caminho inverso da procissão principal que será realizada no dia seguinte, domingo, segurando velas que representam o descobrimento da imagem. A principal procissão do círio é o momento mais importante da quadra nazarena. Organizadores do evento confirmam que nos últimos 5 anos reuniram mais de 2 milhões de pessoas em um cortejo que percorre 5 quilômetros. O cortejo é composto pela berlinda atada a uma corda puxada por promesseiros, que movidos pela se reúnem com o intuito de pedir e agradecer à santa graças em suas vidas.
Até 1855, a berlinda era puxada por um carro de bois, mas as famosas chuvas de Belém, e do Norte do Brasil, somadas à cheia da maré, transformaram as ruas de barro em lama, fazendo com que o carro de bois se atolasse, impedindo a continuidade da procissão. Assim, teve-se a ideia de atrelar uma corda em volta da berlinda para ajudar a puxá-la, e assim nasceu mais um detalhe da tradição. E, desde então, os romeiros passaram a utilizar uma corda para ajudar Nazinha, que se tornou item oficial do círio em 1868.
A festa é tão grande que reúne não apenas católicos mas também cristãos de outras religiões, como é o caso dos protestantes da chamada Assembleia de Deus, que ajudam a fornecer nas unidades próximas a basílica pontos de médico e oferecimento de comida e abrigo para os romeiros que chegam de todas as cidades.

Lueli Hage

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)

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