Há mais de dois séculos,
outubro é considerado um mês de devoção
no Pará. A capital
do mais extenso estado do Brasil, Belém, recebe uma das maiores
festas cristãs do mundo, o círio de
Nazaré. A tradição mantem-se há mais
de dois séculos, e desde 2013 é declarada Patrimônio Cultural da Humanidade,
pela UNESCO.
Multidões
correm para as ruas para aguardar e se emocionar para ver a imagem da virgem de
Nazaré passar. A comoção é coletiva. Até os mais
céticos, como eu, se deixam
levar pela emoção. É inegável que há uma energia de comoção que emana entre as pessoas. É um momento de união de famílias e amigos para assistir a
tudo o que acontece nesses dias tão especiais: ver as crianças vestidas de
anjo; os barcos de miriti que navegam no mar de gente; ou, até, mesmo aqueles que em seus corpos fracos
acham força e fazem o percurso de joelhos. Todos têm apenas um desejo: crer que
a virgem de Nazaré é mãe e roga por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte, como diz a famosa prece.
A
história começa em 1700, com a
aparição de uma imagem de Nossa senhora de Nazaré, encontrada por um caboclo à beira do rio Murucutu,
na cidade de Belém.
Após diversas tentativas de
encontrar um altar para a imagem, milagrosamente ela sempre voltava ao local em que foi encontrada. Assim foi entendido que naquele local deveria
ser construído o seu templo, e assim foi feito. Após o milagre
da aparição se espalhar, a imagem foi enviada para restauração em Portugal, em
1794. No seu retorno, realizado no segundo domingo de outubro daquele ano,
a imagem percorreu do cais da cidade
até seu santuário acompanhada por fiéis, autoridades
religiosas e governamentais, surgindo a primeira procissão do Círio de
Nazaré.
A
quadra nazarena realizada no mês de outubro em devoção à Santa, é composta por
12 eventos que envolvem romarias e festejos. As principais romarias são: “O
translado da berlinda”- procissão que sai do município de Belém para o
município de Ananindeua, em carreata, na qual vai recebendo diversas homenagens
pelo percurso; “A romaria rodoviária”- que acontece na madrugada de sábado para
domingo, e em que ocorre a procissão da imagem da Santa de Nazaré até à vila de
Icoaraci; lá se dá inicio à “A romaria fluvial”, que foi criada em 1985 para
que os ribeirinhos que não possuem condições de ir até Belém possam fazer suas
homenagens (nessa procissão, todos os tipos de barcos seguem o barco da marinha,
que leva carinhosamente a chamada Nazinha pelas águas da Baía do Guajará).
Também
é integrada pela “moto romaria”, que começa por volta das 11 horas da manhã do sábado com a chegada da imagem ao cais de Belém. A
imagem percorre novamente
em carro aberto seguida por
romeiros motoqueiros que buzinam anunciando a passagem da santa, que vai até o colégio Gentil Bettencourt, localizado no bairro Nazaré, no centro da cidade.
Na
véspera da procissão principal, no sábado,
ocorre a “transladação”, na qual os fiéis seguem o carro da berlinda no caminho
inverso da procissão principal que será realizada no dia seguinte, domingo, segurando velas que
representam o descobrimento da imagem. A
principal procissão do círio é o
momento mais importante da quadra
nazarena. Organizadores do evento confirmam que nos últimos 5 anos reuniram
mais de 2 milhões de pessoas em um cortejo que percorre 5 quilômetros. O
cortejo é composto pela berlinda
atada a uma corda puxada por promesseiros, que movidos
pela fé se reúnem com o
intuito de pedir e agradecer
à santa graças em suas vidas.
Até
1855, a berlinda era puxada por um carro de bois, mas as famosas chuvas de Belém,
e do Norte do Brasil, somadas
à cheia da maré,
transformaram as ruas de barro
em lama, fazendo com que o carro de bois se
atolasse, impedindo a continuidade da procissão. Assim,
teve-se a ideia de atrelar
uma corda em volta da berlinda
para ajudar a puxá-la,
e assim nasceu mais um detalhe da tradição. E,
desde então, os romeiros passaram a utilizar uma corda para ajudar Nazinha, que
se tornou item oficial do círio em 1868.
A
festa é tão grande que reúne não apenas católicos mas também cristãos de outras religiões, como é o caso dos protestantes da chamada
Assembleia de Deus, que ajudam a fornecer nas unidades
próximas a basílica
pontos de médico e oferecimento de comida e abrigo
para os romeiros que chegam de todas as cidades.
Lueli Hage
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)
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