O concelho do Fundão,
situado no interior de Portugal, numa latitude média da Península Ibérica,
encontra-se implantado na confluência de diferentes áreas geográficas e
correntes culturais. Foi, aliás, a específica posição geográfica do concelho
que, prioritariamente, determinou a escolha do tema para a redação do presente
artigo de opinião.
É sabido que as
localidades interiores do país, em virtude das caraterísticas que as distinguem
das demais - como é o caso da menor densidade populacional - se revestem de
especial interesse no que concerne ao património cultural e às políticas de
desenvolvimento regional. Paulatinamente, o concelho do Fundão tem investido
num processo de diferenciação territorial, explorando a disponibilidade dos
seus recursos e reassumido, com consciência e criatividade, a sua raiz
histórica rural como um valor estratégico de desenvolvimento.
Assim, no ano de 2017, a
Câmara Municipal do Fundão e a UNESCO, através da celebração de um protocolo,
criaram uma rede de casas temáticas sediadas nas diversas freguesias do
município. Essa rede, à qual foi dado o nome de Casas e Lugares do Sentir1,
compreende: a Casa do Barro, no Telhado; a Casa do Bombo, em Lavacolhos; a Casa
da Poesia Eugénio de Andrade, em Póvoa da Atalaia; a Casa da Romaria de Santa
Luzia, em Castelejo; a Casa das Memórias António Guterres, em Donas; as Casas
dos Ofícios, em Soito da Casa; as Casas do Folclore, em Silvares; a Casa do
Pastor, em Salgueiro; e a Casa da Cereja, em Alcongosta.
A salvaguarda de
tradições e saberes pertencentes às comunidades, a aquisição e transmissão de
conhecimentos, a participação cívica, a inclusão multicultural, a
sociabilidade, entre outras, são as principais linhas programáticas através das
quais se regem estes equipamentos: “Em termos turísticos, as Casas e Lugares do
Sentir vêm estruturar uma rede de visitação museológica por entre saberes e
sabores que se encontram estrategicamente localizados nas imediações de outros
recursos e atrações turística do concelho, acrescentando assim valor aos
circuitos de visitação.”2
Por
razões de economia expositiva, faremos apenas uma breve referência à Casa do
Barro e à Casa da Romaria de Santa Luzia, considerando-as casos exemplares.
A
Casa do Barro situa-se num antigo palacete da aldeia do Telhado, recolhendo às
memórias daquela que foi a atividade que caraterizou a freguesia: o fabrico de
louças em barro. Aqui são mostradas as fases de fabrico das louças tradicionais
e aspetos da vida da antiga comunidade oleira. Lugar de afirmação identitária
da freguesia, este espaço funciona como polo cultural e turístico.
A
Casa da Romaria de Santa Luzia, por seu turno, é dedicada a uma das maiores
manifestações religiosas da devoção popular da região. A emoção e a devoção
desta romaria são evocadas neste espaço, através de imagens relacionadas com o
culto de Santa Luzia, dos ex-votos, da arte das flores da romaria (com as suas
diferentes formas, cores e matizes), e de fotografias antigas, onde são
reproduzidos os seus momentos mais emblemáticos. As flores de Santa Luzia são
um dos símbolos maiores da romaria. Durante gerações, foram produzidas
manualmente pela família Misarela, tendo esta arte sido transmitida e
perpetuada até aos nossos dias. Apreciadas e valorizadas, as flores de Santa
Luzia são um dos mais singulares símbolos da festa e da região que a acolhe.
Este
projeto parece-nos, incontestavelmente, merecedor de aplauso e apoio. Estas
Casas valorizam e promovem a identidade, a memória, a história e as tradições
de um território, fomentando, ao mesmo tempo, a fruição das artes e a coesão
cultural. São polos que fortalecem vínculos e erguem pontes biunívocas entre os
recursos do território e aqueles que dele usufruem, seja a comunidade local ou
o turista. Funcionam como locais de proteção, preservação, divulgação,
valorização e dinamização do património material e imaterial da região, a que
acresce o seu inegável potencial de gerar riqueza.
A ativação destas Casas permitiu
igualmente a recuperação de edifícios de evidente carga simbólica para a
comunidade, que, de outro modo, se tornariam obsoletos, como as antigas escolas
primárias. Somos, enfim, ainda da opinião de que o sucesso desta iniciativa
dependerá, em larga medida, da articulação fecunda que ela
estabelece/estabelecerá com outros recursos sujeitos a exploração turística.
Fig.1 – Rede de Casas e Lugares do Sentir
Luís
Filipe Marinho Leite
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1 -
https://www.ointerior.pt/regiao/rota-de-casas-tradicionais-dinamiza-freguesias-do-fundao/,
acedido a 12-03-2020
acedido a 10-03-2020
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