Para
quem conhece (Caldas de) Vizela, uma análise atual, pertinente e crítica aos
seus recursos contemporâneos, com potencial económico na área do turismo, tem
de passar obrigatoriamente pelo conceito da economia do bem-estar e a sua
aplicação e implicação no desenvolvimento de determinados territórios, bem como
pela leitura do papel que os atores políticos e operadores privados têm tido neste
setor de atividade.
Fonte: internet (autor
desconhecido)
A
ideia por detrás do conceito da economia do bem-estar não é nova. Desde os
finais do século XIX que as entidades públicas, inspiradas pelos ideais positivistas
e pela urgência da organização dos espaços, tentaram resolver os problemas de
salubridade das cidades adotando e promovendo práticas de higiene. O uso das
águas termais e suas aplicações, já amplamente usadas pelas elites, ganharam um
novo sentido e significado numa sociedade que entendia agora haver uma maior
necessidade de limpeza e cuidados pessoais, associando-lhe, ao mesmo tempo, uma
componente de interação social e lazer. A melhoria das condições económicas a
que assistimos naquela centúria e na seguinte permitiu o acesso democratizado a
estes serviços. Nascia, assim, o conceito do bem-estar traduzido na prática de
“ir a banhos!”.
Aquela
obrigatoriedade de análise, mencionada em cima, decorre de várias dimensões que
formam a especificidade da comunidade a que me reporto: identitária e historicamente
relevantes – com um impacto indelével no urbanismo e urbanidade desta
comunidade; economicamente – é uma atividade que definiu o perfil do concelho e
muito do seu modelo de desenvolvimento; politicamente – numa altura em que os
municípios portugueses lutam pelo acesso a recursos financeiros limitados, procuram
novas formas de diferenciar os seus territórios e tentam alavancar novas formas
de atividade que permitam substituir sectores deprimidos e frágeis como são
agricultura ou a indústria. É importante perceber também, neste difícil
contexto atual, se os poderes autárquicos e os anunciados stakeholders
estão a fazer o seu papel na estratégia que promete promover a melhoria das
condições de vida das populações. A gestão periclitante deste dossiê nos dos últimos
nove anos, com várias aberturas e encerramentos das termas, causa dúvidas e
perplexidade.
O
processo remonta a 2011. Nesse ano, a Câmara de Vizela solicitou ao governo da
altura que retirasse a concessão das águas termais da cidade à Companhia dos
Banhos de Vizela depois desta ter rompido negociações de seis longos meses com
um investidor espanhol. Para além disso, foram também apontados problemas de
gestão àquela entidade, bem como a incapacidade de reabilitar o equipamento e de
o dotar de uma estratégia em consonância com as exigências do aquista
contemporâneo. Cumprido este processo, a câmara aprovou, ainda em 2011, a
adjudicação da exploração do complexo a uma empresa espanhola através de uma
parceria público-privada.
A
importância dos recursos termais para o desenvolvimento económico de Vizela não
é tema novo. Está amplamente estudada a qualidade das águas termais desta
localidade e a variedade de tratamentos que permite. O que é atual é a
necessidade premente da resolução dos problemas que impedem a reabertura total
das Termas de Vizela, assim como a delineação de uma estratégia de marketing
capaz de atrair visitantes e aquistas à região de forma concertada e
consistente.
Fonte: Câmara Municipal de
Vizela
Tem
sido particularmente interessante seguir a epopeia que se tem revelado a
reabertura das termas em Vizela. A opinião pública tem tratado o tema com um
misto de displicência e desconfiança, ainda que a população, na sua
generalidade, reconheça a importância daquele equipamento para a cidade. Durante
este impasse, inúmeros artigos foram publicados nos jornais clamando pela
resolução dos problemas associados ao projeto, sendo que outros apelavam a uma negociação
mais transparente. Na arena política, autarquia e oposição foram trocando
argumentos, sem que isso tivesse acelerado o processo. A esta lenta gestão não
estarão certamente alheias as lógicas partidárias e os ciclos políticos (durante
este período houve uma troca de cor partidária na vereação municipal).
Do
ponto de vista das políticas públicas de gestão de equipamentos, a opção das
várias vereações recaiu numa parceria público-privada, não tanto motivada por
ideologia (a vereação que começou este processo era do Partido Socialista), mas
mais pelo argumento financeiro – a municipalidade não tinha recursos
financeiros para assumir o equipamento por completo. A oposição, por seu lado,
defendeu, e continua a defender, a gestão 100% pública do projeto, apoiando a
sua argumentação no facto da empresa espanhola não estar a cumprir o contrato
assinado.
Independentemente
do modelo encontrado, a questão mais importante é garantir que exista uma
estratégia a longo prazo, claramente definida, com objetivos traçados, prazos
estabelecidos e uma supervisão/avaliação atenta e calendarizada. Um projeto
económico desta dimensão, como qualquer outro, precisa de duas condições
fundamentais para se afirmar – estabilidade e tempo. Os constantes avanços e
recuos são a pior ameaça a um projeto de investimento, pois aniquilam sinergias
e vontades duramente criadas, para além de pulverizam a confiança – condição
sem a qual é impossível conquistar mercados.
É
certo que existem variáveis que fogem ao controlo de qualquer entidade,
sobretudo nos tempos voláteis em que vivemos. Porém, demorar nove anos para
encontrar um modelo de financiamento que funcione, que estabeleça um caderno de
encargos que proteja a memória patrimonial do edificado, que vele pelos
interesses da população e que, sobretudo, responsabilize todos os stakeholders
é um péssimo sinal de (in)ação política que enviamos às comunidades que dela
deveriam beneficiar.
Alexandre Reis
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