A Paisagem Cultural de Sistelo, também conhecida como Tibete
Português devido às paisagens repletas de socalcos, é uma aldeia de remota
origem medieval – das mais antigas do Alto Minho – situada no coração do Parque
Nacional da Peneda-Gerês, muito próxima à nascente do rio Vez. Localizada a
norte do concelho de Arcos de Valdevez, encontra-se encaixada no fundo de um
vale e abarca em si os lugares de Igreja, Padrão e Porta Cova, encastoados
entre o troço inicial do rio Vez e a serra da Peneda.
Figura 1 - Socalcos de Sistelo
Trata-se
de um local revelador de uma profunda relação entre as suas populações e o respetivo
território, representando um exemplo da capacidade de adaptação do Homem às
singularidades e adversidades da natureza, como, de resto, podemos constatar
pela criação dos socalcos. Em tempos, os declives caraterísticos desta região
constituíam uma barreira natural à agricultura, tendo sido ultrapassada pela
construção de socalcos que permitiram não apenas contrariar o declive natural
do território mas, também, o aumento da superfície agrícola.
Este local é, também, caraterizado pela sua arquitetura
vernácula centrada no uso do granito, que moldou a feição de habitações,
templos, pontes e calçadas. Repleta de património, a aldeia de Sistelo
contempla um conjunto de elementos de interesse cultural e turístico,
nomeadamente a Ponte Romana de Sistelo, a Igreja Paroquial, uma variedade de
capelas, um cruzeiro e um fontanário. Assume destaque a Casa do Castelo de
Sistelo, um palácio revivalista de planta retangular, com duas torres com
ameias, cuja origem remonta à segunda metade do século XIX, mandado edificar
por Manuel António Gonçalves Roque, filho da terra, primeiro e único Visconde
de Sistelo, após o seu regresso do Brasil. A aldeia de Sistelo possui, ainda,
um miradouro – miradouro do Chã da Armada –, a partir do qual se pode
contemplar a paisagem, bem como um trilho – trilho das Brandas de Sistelo – e a
Ecovia do Vez, que percorrem uma parte significativa do concelho.
Figura 2 - Casa do Castelo de Sistelo
É
assim que, considerando todos estes elementos, a Câmara Municipal de Arcos de
Valdevez lançou, a 4 de Dezembro de 2008, a proposta para a classificação da
Paisagem Cultural de Sistelo. A 9 de Maio de 2017 dá-se a publicação do projeto
de decisão relativo à classificação como Sítio de Interesse Nacional/Monumento
Nacional da Paisagem Cultural de Sistelo. A 3 de Setembro de 2017, a aldeia de
Sistelo é eleita uma das 7 Maravilhas de Portugal, na categoria de Aldeia
Rural, pela iniciativa da RTP.
A aldeia de Sistelo integra, ainda, a Rede Natura, bem
como parte de uma área protegida que, em 2009, terá sido classificada pela
UNESCO como Reserva Mundial da Biosfera. De acordo com a Direção Geral do
Património Cultural, a Paisagem Cultural de Sistelo é composta por um espaço
natural de superior qualidade paisagística, natural e ambiental, ao qual se
soma um notável património etnográfico e histórico.
Figura 3 - Aldeia de Sistelo
Após
a classificação de Aldeia Rural pelo programa da RTP das 7 Maravilhas de
Portugal, bem como a promulgação do diploma que classifica Sistelo como
monumento nacional, enquanto paisagem cultural, pelo Presidente da República,
Marcelo Rebelo de Sousa, a aldeia de Sistelo sofreu um surto turístico,
passando a viver dias agitados com o crescente fluxo de turistas. Para tal,
contribuíram, também, os cerca de 10 quilómetros de passadiços integrados na
Ecovia do Vez.
Além de todas as alterações produzidas para albergar o
crescente número de turistas, nomeadamente, no que respeita à ampliação de
espaços existentes, bem como a criação de novos espaços, do qual é exemplo um
café-restaurante, onde anteriormente terá funcionado apenas uma mercearia,
foram, também, implementadas medidas de contingência, no que respeita às
rotinas e aos modos de vida da população.
Com isto, surge também a necessidade de criar unidades
de alojamento para os turistas, devido à escassez das mesmas, revelando-se, por
parte de várias pessoas, crescente o interesse no investimento neste sentido. A
par das necessidades manifestadas, surgem iniciativas, nomeadamente a
transformação da Casa do Castelo em centro interpretativo da paisagem cultural,
com o objetivo de acolher os turistas, orientando-os para os vários recantos da
aldeia, a recuperação de um velho moinho e o acréscimo de mais meio quilómetro
aos passadiços. Estas alterações têm por base a candidatura a projetos de
financiamento que permitem a realização das mesmas.
Se, por um lado, toda esta nova realidade é encarada
como uma oportunidade, sobretudo por parte dos jovens, que encontram nesta
mudança novas perspetivas de construírem o seu futuro na sua terra natal,
contribuindo para o desenvolvimento da mesma, por outro lado, os mais velhos
encaram tudo isto como uma violação da pacatez da aldeia, refugiando-se nos
campos com o intuito de evitar as câmaras fotográficas dos turistas. Neste
sentido, a questão que se coloca procura compreender em que medida o turismo
pode ser benéfico para esta região enquanto património, pois, se, por um lado,
este fenómeno produz desenvolvimento social, cultural e económico, por outro
lad, condiciona e limita as caraterísticas naturais, bem como a genuinidade do
local, se considerarmos que o elevado fluxo de turismo retira ao espaço e à
população a pacatez que a caraterizava.
Ângela
Maria Rodrigues Calisto
Referências:
Sem comentários:
Enviar um comentário