Sendo
um assunto já debatido há vários anos, a candidatura das festas Nicolinas a
Património da Humanidade parece estar agora (que começa a tornar-se uma
possibilidade real) a suscitar um conjunto de questões que até então não terão
sido consideradas. As festas Nicolinas, festas dos estudantes de Guimarães,
correspondem a uma tradição em honra de S. Nicolau (padroeiro dos estudantes)
com mais de 300 anos de existência.
Sabendo
que um dos principais entraves a esta candidatura seria a falta de
funcionamento do Inventário Nacional do Património Cultural e Imaterial, surge
agora a público um fator (que não sendo estranho a nenhum Vimaranense) poderá
ser um ponto bastante negativo associado a esta tradição. Falo do consumo de
álcool associado a esta manifestação cultural por parte de jovens, o que poderá
causar constrangimentos aquando da referida candidatura. Não sendo o álcool
associado a algum tipo de obrigatoriedade no seu consumo, quem participa e
assiste aos diferentes números das festas verifica que o mesmo está bastante
presente. Porém, não é neste ponto que me quero focar.
Recentemente,
verifica-se entre os Vimaranenses alguma controvérsia em relação a esta
candidatura. Sendo geral a vontade de valorizar ainda mais uma tradição que é
tão acarinhada pelos cidadãos, surgem ainda assim duas linhas de argumentação
antagónicas: há quem veja a elevação desta tradição a nível internacional como
algo bastante positivo e impulsionador da herança cultural da cidade; simultaneamente,
surge um sentimento de discordância, defendido por aqueles que acreditam que a
“publicidade” que surgirá de uma manifestação “Património imaterial da
Humanidade” irá gerar uma turistificação da mesma.
Uma
tradição associada à história da cidade, alorizada, preservada e honrada por
cada Vimaranense, com um caráter emocional inexplicável aos demais visitantes,
e com números que em nada deverão ser alterados, muito dificilmente poderá ser
compreendida por “externos”.
Não
menosprezando os turistas e visitantes da cidade, será, de facto, assim tão
vantajoso aumentar consideravelmente o fluxo de população (visitante) que
circula no município na altura das festas (em especial na noite do Pinheiro, 29
de novembro, que é a data com mais afluência)? Pessoalmente, não me parece que
o aumento de visitantes no período das Nicolinas seja por si só um
inconveniente. Mas, a verificar-se, deverá ter-se um extremo cuidado para que
esta entrada das Nicolinas no “circuito turístico” não permita uma descaraterização
da tipologia desta tradição. Essa consequência, de todo indesejável,
perverteria o objetivo inicial da candidatura a Património Imaterial da
Humanidade.
Rita Pereira
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
Rita Pereira
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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