O meu texto enfatiza os
efeitos que o crescimento registado no turismo em Portugal tem nos preços dos imóveis.
Este tema surge numa altura em que se discute se o crescimento do turismo é
positivo ou não, como, por exemplo, a negação do direito à habitação a uma
parte importante das populações das grandes cidades. Este direito fica em causa
com a especulação imobiliária provocada pelo alojamento local, a proliferação
de hotéis e de hostels, para além
disso existe ainda uma clara perda de identidade das cidades portuguesas,
nomeadamente Lisboa e Porto. Por exemplo, os bairros históricos de Lisboa têm vindo a mudar, perdendo cada vez mais
pessoas.
É notório, sobretudo em
Lisboa e no Porto, que existe uma sobreavaliação do preço dos imóveis. No caso
destas cidades, os valores pedidos pelos imóveis aumentaram cerca de 20%. O
conceito de sobreavaliação de um imóvel remete-nos para uma avaliação feita
pela entidade bancária inferior ao valor pedido pelo proprietário.
Para este crescimento contribuíram,
sobretudo, a chegada em massa de capitais estrangeiros (IDE), a melhoria das
condições económicas dos portugueses e também a maior facilidade nas concessões
de crédito habitação (em 2018, registou-se aumento de 23% em relação a 2017 das
concessões de crédito).
O turismo é um fenómeno a
nível mundial, visto como um importante impulsionador do desenvolvimento social,
económico e político de muitas regiões. Segundo a Organização Mundial do
Turismo (OMT), a indústria turística é a que mais se tem desenvolvido
mundialmente, sendo um importante serviço para a criação de emprego,
contribuindo assim para o desenvolvimento da economia de um país, sendo um dos
setores que mais tem impulsionado o crescimento da economia portuguesa.
A chegada em massa de
turistas a Portugal tem vindo a criar a alguns problemas em diversas cidades
portuguesas, tais como a crescente pressão turística nas cidades do Porto e
Lisboa - em Lisboa, há nove turistas para cada habitante, no Porto, são oito
turistas por cada residente. Estes dados são ainda mais alarmantes quando
comparados com outras grandes cidades europeias, como, por exemplo, Londres,
que recebe quatro turistas por cada visitante, e em Barcelona, onde existem
cinco turistas para cada habitante.
Estando, agora, na posse
dos dados referentes a este problema, percebemos a ligação entre o turismo e a
especulação imobiliária. Esta especulação está a fazer com que a população
sinta necessidade de partir para outras cidades (devido ao aumento do
aparecimento de novos alojamentos locais nos centros históricos, tais como
hotéis e hosteis, que ganham lugar em
habitações que outrora foram de habitantes daquela zona), uma vez que para a
maioria da população portuguesa é incomportável acompanhar a escalada dos
preços que agentes imobiliários pedem por uma casa modesta, segundo o padrão de
rendimentos nacionais.
Além disso, a pressão
turística amplificou a especulação imobiliária. Esta especulação é ainda mais
acentuada com políticas que não protegem os residentes, como, por exemplo, a Lei do Arrendamento Urbano de 2012, da qual
os senhorios cada vez mais se aproveitam do momento favorável para vender os
imóveis a preços mais elevados, para que, assim, os novos proprietários construam alojamentos
locais (AL) ou aumentem o valor das rendas cobradas.
Como
consequência, num curto espaço de tempo, centenas de pessoas já receberam
ordens de despejo. A este fenómeno chamamos gentrificação, ou seja
valorização imobiliária de uma zona urbana que é geralmente
acompanhada da deslocalização dos residentes com menor poder económico.
Por isso, na minha opinião,
torna-se indispensável, quer para a manutenção da cultura nacional quer para a
identidade das cidades, criar e desenvolver políticas de proteção dos
residentes. Para além disso, o desenvolvimento de uma política eficiente que
beneficie os habitantes e a preservação do património imaterial das cidades
também deverá fazer com que o turismo e o seu setor de atividade acabem por
sair beneficiados.
Podemos dizer assim que
os habitantes das cidades são, certamente, os mais afetados com o aumento do
turismo em massa em Portugal, mas, também, os agentes do turismo podem ser
afetados com a escalada de preços nas grandes cidades. Além disso, a expansão
do turismo português pode estar em risco se os preços do alojamento continuarem
a subir de forma acelerada, uma vez que o aumento de preços dos alojamentos em
Portugal pode levar a uma redução da competitividade do setor do turismo.
Em suma, o crescimento do
investimento direto estrangeiro em Portugal é imprescindível à economia
nacional, pois, como se tem vindo a notar, o desenvolvimento do setor do
turismo tem vindo a dinamizar a atividade económica nacional. Contudo, a meu
ver, é preciso desenvolver leis que protejam os habitantes da especulação imobiliária
e ao mesmo tempo protejam a economia nacional da sua dependência pelo setor do
turismo.
Álvaro
Dias Ferreira
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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