O
futebol! É inegável o papel do futebol na sociedade portuguesa. Podemos não gostar
ou nem ligar muito a ele mas o que é certo é que ele está presente e faz parte
de nós. Portugal possui os melhores jogadores, os melhores treinadores, o
melhor manager e o presidente mais
titulado do mundo. De facto, arrisco-me a dizer que o futebol, como um todo, é
uma das componentes identitárias de maior relevância da sociedade portuguesa.
Posto isto, é com muita pena que reflito sobre o tema que venho expor hoje aqui.
O
futebol moderno é cada vez mais voltado para os grandes negócios e interesses
económicos. Isso não tem mal nenhum, aliás, se se puder utilizar o futebol como
forma de criar riqueza, emprego e desenvolvimento, pois bem, que assim seja. O
que infelizmente ocorre, fruto desse futebol moderno, é uma série de
acontecimentos que, quanto a mim, são a antítese do que deveria ser o futebol.
Todos
sabemos que a Taça de Portugal é uma das competições nacionais de futebol e tem
um regulamento associado. O regulamento da Taça de Portugal determina que os
clubes da I Liga têm que jogar, “obrigatoriamente”, a terceira eliminatória da
taça na qualidade de visitantes, ou seja, no campo do clube de um escalão
inferior. Esta norma possui um objetivo e um princípio claros: “Levar a festa da Taça e as principais
equipas do futebol português a zonas do país onde, normalmente, apenas são
vistas pela televisão e equilibrar os pratos de uma balança que pende sempre
para o lado dos mais fortes.”[1]
Porém,
não fossem as condicionantes atreladas a este princípio tão nobre, tudo seria
perfeito. Refiro-me às caraterísticas técnicas do recinto de jogo, ou seja,
fraca iluminação, pouca segurança (inexistência de torniquetes), a inexistência
de cadeiras na bancada e balneários, que comprometem o conforto, o relvado, que
não pode ser pelado e sem as dimensões mínimas exigidas, já para não falar das
condições necessárias à segurança dos jogadores, pelo menos dos da equipa da I
Liga, que valem milhões…
Caso estes condicionalismos se verifiquem,
a realização do jogo fica inviável, e é determinado um novo recinto de jogo.
Assim, nenhuma das equipas envolvidas na partida jogará em casa.
Ora, e aqui é que reside a razão para
este artigo de opinião. A inviabilização do jogo no terreno de jogo do clube
mais modesto “belisca o espírito da
competição mais democrática do calendário nacional”. Para além disso, quanto
a mim, a não realização do jogo tem outro tipo de implicações, nomeadamente
económicas e de desenvolvimento, a saber:
i)
o facto de os clubes “grandes” jogarem na
casa do clube mais modesto possibilita a dinamização económica, social e
cultural da localidade do clube “pequeno”, isto porque o clube “grande”
mobiliza um grande número de adeptos que durante um dia vão a um território
(uma cidade ou vila) para ver um jogo de futebol, e em muitos casos conhecer esse
território;
ii)
a localidade (concelho/cidade/vila) perde
a oportunidade de se dar a conhecer a um numeroso grupo de pessoas que poderiam
regressar um dia no futuro, não como adeptos de futebol mas como turistas. Ou seja, durante tempo de intervalo do jogo e
antes e depois do jogo, a localidade poderia dar-se a conhecer, através da
realização uma pequena mostra turística e também através da exposição de
cartazes publicitários no estádio com eventos e produtos regionais de
interesse;
iii)
a localidade do clube “pequeno” perde a
oportunidade de se desenvolver, nomeadamente ao nível dos equipamentos
desportivos (veja-se o exemplo de Vila Real, que ficou com um recinto desportivo
com melhores condições graças à ajuda de um clube “grande”, que fez de tudo
para que o jogo se realizasse em Vila Real)[2], aliás, este exemplo, na
minha opinião, deveria ser replicado em jogos semelhantes.
Em suma, o futebol, sendo um desporto
apaixonante, que mobiliza milhares e milhões, poderia ser um meio para o
dinamização e de desenvolvimento das localidades.
Jorge Garrido
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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