São poucos os concelhos que arriscaram
desenvolver circuitos específicos para o respetivo património industrial. Segundo
Otgaar et al. (2008), Turismo
industrial “é um tipo de turismo que envolve visitas a empresas operacionais ou
não, cujo negócio central não é a atividade turística, e que oferece aos
visitantes uma experiência relacionada com o produto, o processo de produção,
as aplicações e os antecedentes históricos”.
O município de São João da Madeira,
localizado no distrito de Aveiro, foi o primeiro, em Portugal, a implementar
circuitos de turismo industrial. O projeto iniciou-se em 2012 e apresenta como
personagens principais as empresas que aceitaram abrir portas a visitantes. O
turista pode escolher entre 11 circuitos pré-definidos (Calçado, Calçado e
CFPIC, Calçado total, Chapelaria-do pêlo ao chapéu, Chapelaria-do pêlo ao
feltro, Chapéu e Lápis, Chapéu, Lápis e Passamanarias, Circuito do Ferro,
Feltro e Calçado Homem, Feltro e Calçado Senhora, Lápis e Passamanarias) ou
criar o seu próprio circuito escolhendo os “temas” ou as empresas que pretende
visitar. Mais recentemente (2017), este programa registou a entrada de três novos
parceiros, dois do setor da colchoaria e um das etiquetas e artes gráficas.
O “must-have” é a visita ao único Museu da
Chapelaria na Península Ibérica. O regresso aos tempos em que estava na moda
usar chapéu passa pela Fepsa, empresa que fornece chapéus para vários filmes de
Hollywood. Outra paragem obrigatória é na Viarco, uma fábrica histórica de
lápis que funciona desde 1907 e preserva o processo artesanal de fabrico de
lápis. Neste roteiro turístico, são feitas também visitas a espaços de formação
e investigação (Academia de Design do
Calçado e Centro Tecnológico do Calçado).
Para além dos benefícios óbvios, como a
criação de postos de trabalho e a maior procura para negócios familiares de
hotelaria e restauração, é também clara a utilização sustentável de património
industrial abandonado, ao ser permitido aos turistas conhecer as ferramentas
artesanais e as máquinas de outros tempos no Centro Profissional da Indústria
de Calçado. As fortes tradições nas indústrias têxtil, calçado e lápis foram, a
meu ver, muito bem aproveitadas, uma vez que as empresas e os seus
trabalhadores tentam passar para os visitantes/turistas valores culturais
relacionados com a indústria, ao mesmo tempo que partilham o know-how específico do sector produtivo.
O principal motivo para muitos turistas visitarem estes tipos de espaços
industriais pode ser a vontade de, ao visitar um espaço industrial, ter uma
experiência de aprendizagem que lhe poderá ser benéfica no futuro a nível
profissional.
Até Janeiro de 2018, registaram-se 128 163
visitantes, sendo que se verifica um aumento gradual e significativo de ano
para ano. Isto são números impressionantes para um município tão pequeno como
São João da Madeira, e espero que no futuro outros municípios olhem para São
João da Madeira como um exemplo a seguir e consigam potencializar os seus
recursos endógenos.
Manuel
Pedro Fernandes Moreira
Bibliografia:
http://turismoindustrial.cm-sjm.pt/turismo-industrial
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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