A Fábrica Confiança foi fundada em 1894, por Rosalvo da
Silva Almeida e Manuel dos Santos Pereira, com o nome de “Silva Almeida & C.ª”, na Rua Nova de Santa Cruz, em Braga. Em 1921, o
nome da fábrica foi alterado para “Saboaria
e Perfumaria Confiança”(SPC). Nessa altura, a fábrica cresce em termos de
produção e, por conseguinte, é realizado um projeto de construção para aumentar
as instalações, que acabaria por ser posto em prática. Este edifício é o único
que marca a industrialização de Braga daquela altura e, por isso, é património.
A inauguração da fábrica causou um grande impacto e interesse perante os
cidadãos bracarenses: era algo novo, diferente, requintado e com grandes
produtos que seduziram a sociedade de Braga.
Hoje em dia a SPC é vista, por grande parte dos
bracarenses, apenas como um edíficio abandonado, por falta de informação sobre
a sua história e a importância que teve e tem para a cidade de Braga. O
edifício é considerado como sendo a única representação do património
industrial do início do século XX.
Inicialmente, a fábrica teria sido comprada para
preservar a sua memória e, eventualmente, para ser utilizada como um espaço
onde pudesse haver atividades culturais, tais como exposições, museu da
fábrica, etc. Em 2012, Ricardo Rio, atual Presidente da Câmara e na altura
membro da oposição, defendeu a compra da fábrica com a argumentação de fazer daquele
espaço um local de cultura. Atualmente, a Câmara pretende vender a Fábrica a
privados, o que gerou muita revolta no seio da população. De facto, para quem
vê a fábrica como algo tão significativo e que se preocupa com o seu futuro, acaba
por ser uma grande desilusão. A Câmara
Municipal de Braga não tem meios para a reabilitação da fábrica. Por essa razão,
a alternativa da Câmara Municipal é a venda do imóvel “para que o investimento
privado possa concretizar o que os poderes públicos não conseguem” (Presidente
JSD). Contudo, não conservar o edifício e manter o mesmo no estado em que está
atualmente irá causar uma degradação mais rápida e, no futuro, será mais complicado
para uma possível reabilitação.
Passemos então para o que seria o mais indicado para a
fábrica. Vários rumores indicam que o edifício será uma residência, mas será isso
o melhor? Será que a construção de uma residência será o que este edifício
merece, sendo tão importante para a cidade de Braga? O futuro da fábrica
deveria ser algo que marcasse os bracarenses tal como marcou a cidade, desde a
sua abertura até aos dias de hoje, seja por boas ou más razões. Se o edifício
se tornasse num centro para realizar atividades culturais, seria uma bela
homenagem para a fábrica, inclusive para quem trabalhou na mesma.
Possivelmente, essas pessoas estão destroçadas ao ver que a grande Fábrica
Confiança pode ser de alguma forma destruída.
Como refere Miguel Corais, a ideia de fazer do edifício
um centro comercial também seria uma opção, no entanto, com a existência do
Braga Parque, situado tão perto, não faz sentido. Na minha opinião, o edifício
deveria ser utilizado de forma mais inteligente. Fazer do imóvel um museu sobre
a industrialização de Braga, por exemplo, é uma forma de homenagear a fábrica e
chamaria muita gente à cidade.
Os grupos culturais da Universidade do Minho não têm
instalações com boas condições para os seus ensaios. Posto isto, uma sede para
os nossos grupos poderia fazer parte do projeto. Acrescento que também poderia
ser apenas um centro para eventos culturais, onde aconteceriam espetáculos,
exposições, programas educativos, etc.
Existe a necessidade de resolver aquele caso, com alguma
urgência, para a cidade, mas também para os habitantes daquela localidade. A
sua reestruturação é de interesse comum e assenta em vários projetos e outros
conceitos, que podem transformar e assim valorizar aquele espaço, que é
considerado património industrial. Pelos estudos e avaliações já efectuadas,
existem boas perspectivas de investimento, essencialmente provindas do sector
privado. A venda do prédio e o seu consequente futuro será uma mais-valia para
a cidade de Braga, esperando que seja no âmbito de um ajustado reaproveitamento
de um espaço cheio de história da economia local e marca do início da
industrialização da Cidade.
Patrícia Fernandes
Bibliografia
1.
CARREIRA
COELHO, Nuno Miguel. Tese Doutoramento: O
Design de Embalagem Em Portugal no Século XX – Do Funcional ao Simbólico – O
Estudo de Caso da Saboaria e Perfumaria Confiança. Universidade de Coimbra,
Junho 2013.
2.
PEREIRA,
António Pedro – Fábrica Confiança: a
Venda Que Está a Agitar Braga. 2018. [online] Diário do Minho. Disponível em: <https://www.dn.pt/edicao-do-dia/19-set-2018/interior/fabrica-confianca-a-venda-que-esta-a-agitar-braga-9871346.html>
3.
PEREIRA,
António Pedro – Braga. Alienação da
Confiança Aprovada com 5-4 a Favor de Ricardo Rio. 2018. online] Diário do Minho. Disponível em: <https://www.dn.pt/pais/interior/braga-alienacao-da-confianca-aprovada-com-5-4-a-favor-de-ricardo-rio-9874934.html>
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2ºsemestre do ano letivo de 2018/2019)
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