domingo, março 24, 2019

Fábrica Confiança – Saboaria e Perfumaria Confiança

A Fábrica Confiança foi fundada em 1894, por Rosalvo da Silva Almeida e Manuel dos Santos Pereira, com o nome de “Silva Almeida & C.ª”, na Rua Nova de Santa Cruz, em Braga. Em 1921, o nome da fábrica foi alterado para “Saboaria e Perfumaria Confiança”(SPC). Nessa altura, a fábrica cresce em termos de produção e, por conseguinte, é realizado um projeto de construção para aumentar as instalações, que acabaria por ser posto em prática. Este edifício é o único que marca a industrialização de Braga daquela altura e, por isso, é património. A inauguração da fábrica causou um grande impacto e interesse perante os cidadãos bracarenses: era algo novo, diferente, requintado e com grandes produtos que seduziram a sociedade de Braga.
Hoje em dia a SPC é vista, por grande parte dos bracarenses, apenas como um edíficio abandonado, por falta de informação sobre a sua história e a importância que teve e tem para a cidade de Braga. O edifício é considerado como sendo a única representação do património industrial do início do século XX.
Inicialmente, a fábrica teria sido comprada para preservar a sua memória e, eventualmente, para ser utilizada como um espaço onde pudesse haver atividades culturais, tais como exposições, museu da fábrica, etc. Em 2012, Ricardo Rio, atual Presidente da Câmara e na altura membro da oposição, defendeu a compra da fábrica com a argumentação de fazer daquele espaço um local de cultura. Atualmente, a Câmara pretende vender a Fábrica a privados, o que gerou muita revolta no seio da população. De facto, para quem vê a fábrica como algo tão significativo e que se preocupa com o seu futuro, acaba por ser uma grande desilusão.  A Câmara Municipal de Braga não tem meios para a reabilitação da fábrica. Por essa razão, a alternativa da Câmara Municipal é a venda do imóvel “para que o investimento privado possa concretizar o que os poderes públicos não conseguem” (Presidente JSD). Contudo, não conservar o edifício e manter o mesmo no estado em que está atualmente irá causar uma degradação mais rápida e, no futuro, será mais complicado para uma possível reabilitação.
Passemos então para o que seria o mais indicado para a fábrica. Vários rumores indicam que o edifício será uma residência, mas será isso o melhor? Será que a construção de uma residência será o que este edifício merece, sendo tão importante para a cidade de Braga? O futuro da fábrica deveria ser algo que marcasse os bracarenses tal como marcou a cidade, desde a sua abertura até aos dias de hoje, seja por boas ou más razões. Se o edifício se tornasse num centro para realizar atividades culturais, seria uma bela homenagem para a fábrica, inclusive para quem trabalhou na mesma. Possivelmente, essas pessoas estão destroçadas ao ver que a grande Fábrica Confiança pode ser de alguma forma destruída.
Como refere Miguel Corais, a ideia de fazer do edifício um centro comercial também seria uma opção, no entanto, com a existência do Braga Parque, situado tão perto, não faz sentido. Na minha opinião, o edifício deveria ser utilizado de forma mais inteligente. Fazer do imóvel um museu sobre a industrialização de Braga, por exemplo, é uma forma de homenagear a fábrica e chamaria muita gente à cidade.
Os grupos culturais da Universidade do Minho não têm instalações com boas condições para os seus ensaios. Posto isto, uma sede para os nossos grupos poderia fazer parte do projeto. Acrescento que também poderia ser apenas um centro para eventos culturais, onde aconteceriam espetáculos, exposições, programas educativos, etc.
Existe a necessidade de resolver aquele caso, com alguma urgência, para a cidade, mas também para os habitantes daquela localidade. A sua reestruturação é de interesse comum e assenta em vários projetos e outros conceitos, que podem transformar e assim valorizar aquele espaço, que é considerado património industrial. Pelos estudos e avaliações já efectuadas, existem boas perspectivas de investimento, essencialmente provindas do sector privado. A venda do prédio e o seu consequente futuro será uma mais-valia para a cidade de Braga, esperando que seja no âmbito de um ajustado reaproveitamento de um espaço cheio de história da economia local e marca do início da industrialização da Cidade.

Patrícia Fernandes

Bibliografia
1.       CARREIRA COELHO, Nuno Miguel. Tese Doutoramento: O Design de Embalagem Em Portugal no Século XX – Do Funcional ao Simbólico – O Estudo de Caso da Saboaria e Perfumaria Confiança. Universidade de Coimbra, Junho 2013.
2.       PEREIRA, António Pedro – Fábrica Confiança: a Venda Que Está a Agitar Braga. 2018. [online]  Diário do Minho. Disponível em: <https://www.dn.pt/edicao-do-dia/19-set-2018/interior/fabrica-confianca-a-venda-que-esta-a-agitar-braga-9871346.html>
3.       PEREIRA, António Pedro – Braga. Alienação da Confiança Aprovada com 5-4 a Favor de Ricardo Rio. 2018. online]  Diário do Minho. Disponível em: <https://www.dn.pt/pais/interior/braga-alienacao-da-confianca-aprovada-com-5-4-a-favor-de-ricardo-rio-9874934.html>

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2ºsemestre do ano letivo de 2018/2019)

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