Este
ano, na semana da moda de Milão, aconteceu algo inédito para esta área criativa
em Portugal: Alexandra Moura integrou o calendário oficial, sendo esta a
primeira vez que uma designer nacional
fez parte do programa. O que torna esta coleção tão especial é a inspiração da
criadora no bestiário de Rosa Ramalho e na própria figura feminina de
ruralidade minhota.
“Quis encontrar algo muito nosso e um
bocadinho ancestral. A Rosa Ramalho, apesar de ter tido o seu auge nos anos 50,
morreu nos anos 70. Foi nas minhas pesquisas que a descobri. Era uma senhora
com uma capacidade incrível de visualização. Era completamente à frente do seu
tempo. Tinha um sentido estético incrível”, comentou a designer ao explicar o conceito da sua coleção.
Na coleção outono/inervo 2019/20,
podemos ver o lado romântico e rural, e a vertente mais urbana e futurista. Os
materiais utilizados foram pensados para representar esta dualidade, ruralidade
e futurismo. Os xadrezes e jacquards
são usados para que sejamos remetidos para o panorama ancestral e o jersey metalizado pintado por cima e os
tules estampados remetem para o lado futurista.
Alexandra Moura encontrou ainda
outras formas mais literais de transmitir as mensagens de Rosa Ramalho com
estampas das criaturas do imaginário da ceramista e frases da mesma. «Não é
sonho nenhum», foi a resposta que Rosa deu, nos anos 70, quando lhe perguntaram
se via as criaturas que representava nos seus sonhos. A frase estampa-se em
algumas peças da coleção. Os próprios costumes de Rosa Ramalho tiveram lugar na
passerelle, nos lenços à volta da
cabeça que esta usava e nos casacos com folhos amarelos, por exemplo.
Nas imagens abaixo podemos ver
algumas peças da coleção, sendo elas um lenço de cabeça em jersey metalizado, como referência às mulheres minhotas que viviam
na ruralidade, tal como Rosa Ramalho, as sapatilhas estampadas com a frase da
ceramista, e podemos também fazer um paralelismo entre a maquilhagem dos
modelos e as pinturas das esculturas.
Assim, Alexandra Moura dá a conhecer
ao mundo não só a ceramista Minhota Rosa Ramalho, a sua arte e o Minho. mas
também o sentimento português, que é o saudosismo.
O que Alexandra Moura carrega,
consciente ou inconscientemente, na sua coleção, é um sentimento que faz parte
da identidade portuguesa. Segundo Teixeira de Pascoaes, pela
saudade, o que foi volta a ser, e o que há-de ser já existe. É o resgate do
passado que implica a fidelidade à identidade portuguesa que foi defendida e
promovida pela estilista.
Bárbara Rafaela Peixoto
Bibliografia:
PAES, MARGARIDA BRITO (2019). Alexandra Moura Encerrou a Semana de Moda em Milão ao Som do Minho. Retirado
em Fevereiro, 27, 2019 de https://www.elle.pt/moda/alexandra-moura-milao/.
MATOS, PAULO (2019). Alexandra
Moura: outono/inverno 2019. Retirado em Março, 15, 2019 de
https://www.vogue.pt/alexandra-moura-outono-inverno-2019.
MOURA, CATARINA LAMELAS (2019). Não é um sonho, é o bestiário de Rosa Ramalho na passerelle de
Alexandra Moura. Retirado em Fevereiro, 27, 2019 de https://www.publico.pt/2019/02/25/culto/noticia/alexandra-moura-milao-1863332.
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2ºsemestre do ano letivo de 2018/2019)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2ºsemestre do ano letivo de 2018/2019)
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