Atualmente, discute-se muito sobre o
uso da tecnologia a favor do Património Cultural. Há questionamentos e dúvidas
sobre o uso de recursos digitais pelos museus, especialmente no que diz
respeito ao uso excessivo, fazendo que a tecnologia sobreponha-se às obras ou
que transforme-se em uma “feira tecnológica” (ROQUE, 2018). Porém, os
museus não querem tornar-se obsoletos e sentem cada vez mais a necessidade
de utilizar as ferramentas digitais para ampliar a experiência de fruição com a
obra-de-arte e, também, de aumentar o acesso à informação. Além disso, as
gerações mais novas também identificam-se com as novas tecnologias e
são atraídas pelos recursos e interatividade que elas oferecem.
Os museus adaptam-se aos poucos e
procuram, progressivamente, criar novidades para oferecer
experiências diferenciadas para públicos cada vez mais exigentes e
heterogêneos. Mesmo que alguns possam questionar o caminho adotado em alguns
equipamentos culturais, o caso bem-sucedido que exemplifico a seguir foi mais
além e aplicou a tecnologia para criar um recurso para o território que antes
não existia. Foi o que presenciei no sudoeste da França, ao pé do vilarejo
de Les Baux-de-Provence.
A vila e seu castelo medieval,
parcialmente em ruínas, já faziam parte do roteiro turístico da região e, em
1998, recebeu a classificação de "Les Plus Beaux Villages de
France”. Apesar de todas as belezas e do importante património
cultural do local, o que levou-me até lá foi a expectativa de vivenciar uma
experiência de imersão artística dentro de uma pedreira de calcário desativada
que se localiza ao pé da aldeia.
Em 1959, a pedreira foi utilizada pela
primeira vez de forma artística, quando o artista Jean Cocteau decidiu
explorar o local como locação para filmar a longa metragem “O testamento
de Orfeu”. Mas foi só em 1976 que o sítio ganhou nova vida e foi
transformado pelo visionário jornalista Albert Plécy. Ele teve a grande
ideia de projetar imagens nas imensas paredes de calcário com até
14 metros de altura. Nomeada como Cathedrale d´Images, a antiga
pedreira passou a oferecer uma experiência visual completa. O
ineditismo desta experiência atraiu cada vez mais visitantes e o sucesso
do empreendimento suscitou o interesse de empresas para explorar o
potencial económico do local.
Após uma
disputa judicial polêmica, em 2012, a produtora CultureSpaces passou a
gerir o espaço com equipamentos de última geração. Atualmente, é possível
apreciar imagens em movimento de obras de arte em altíssima resolução com
uso de projetores de vídeo a laser,
que cobrem todas as superfícies da pedreira, inclusive os corpos dos
visitantes. A projeção ainda é acompanhada de uma trilha sonora-reproduzida por
um sistema de áudio em motion design. O programa do Carrières de Lumières oferece uma
exposição diferente por ano, com obras de grandes artistas como Gustav
Klimt, Van Gogh, Picasso, Arcimboldo, entre outros.
Segundo a produtora, "239.000 pessoas
visitaram o Carrières de Lumières em
2012, e este número já subiu para 600.000 visitantes anuais, que são atraídos
para esta forma de imersão na arte.”
Este exemplo ilustra como foi
possível utilizar a tecnologia para potencializar e criar nova função para um
sítio através de uma ideia que soube aproveitar a atmosfera do local para criar
uma experiência única no mundo e desta maneira contribuir para o processo de
desenvolvimento da região.
Juliana Vidigal
Referência Bibliográficas
https://www.carrieres-lumieres.com/en Acesso em 12 de
março de 2019
http://www.lesbauxdeprovence.com/fr/decouvrir/culture-et-patrimoineAcesso em 12 de março de
2019
https://www.culturespaces.com/en/node/1291 Acesso em 12 de
março de 2019
https://www.laprovence.com/article/edition-arles/4818507/nouvelle-victoire-judiciaire-pour-cathedrale-dimages.html Acesso em 15 de
março de 2019
https://fr.wikipedia.org/wiki/Carri%C3%A8res_de_Lumi%C3%A8res Acesso em 12 de
março de 2019
Roque, Maria Isabel, "Museu: real ou virtual?," in a.muse.arte ,
2018/12/15, https://amusearte.hypotheses.org/3297. Acesso em 10 de março
de 2019
Lagarto, J. R. (2018). Tecnologias (digitais) e património cultural. In F.
Ilharco, P. Hanenberg & M. S. Lopes, Património cultural e
transformação digital (pp. 82-101). Lisboa: Universidade Católica Portuguesa
– CECC.
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