segunda-feira, março 18, 2019

Criação de recursos para o território com o uso da tecnologia

        Atualmente, discute-se muito sobre o uso da tecnologia a favor do Património Cultural. Há questionamentos e dúvidas sobre o uso de recursos digitais pelos museus, especialmente no que diz respeito ao uso excessivo, fazendo que a tecnologia sobreponha-se às obras ou que transforme-se em uma “feira tecnológica” (ROQUE, 2018). Porém, os museus não querem tornar-se obsoletos e sentem cada vez mais a necessidade de utilizar as ferramentas digitais para ampliar a experiência de fruição com a obra-de-arte e, também, de aumentar o acesso à informação. Além disso, as gerações mais novas também identificam-se com as novas tecnologias e são atraídas pelos recursos e interatividade que elas oferecem.
        Os museus adaptam-se aos poucos e procuram, progressivamente, criar novidades para oferecer experiências diferenciadas para públicos cada vez mais exigentes e heterogêneos. Mesmo que alguns possam questionar o caminho adotado em alguns equipamentos culturais, o caso bem-sucedido que exemplifico a seguir foi mais além e aplicou a tecnologia para criar um recurso para o território que antes não existia. Foi o que presenciei no sudoeste da França, ao pé do vilarejo de Les Baux-de-Provence.
        A vila e seu castelo medieval, parcialmente em ruínas, já faziam parte do roteiro turístico da região e, em 1998, recebeu a classificação de "Les Plus Beaux Villages de France”. Apesar de todas as belezas e do importante património cultural do local, o que levou-me até lá foi a expectativa de vivenciar uma experiência de imersão artística dentro de uma pedreira de calcário desativada que se localiza ao pé da aldeia. 
        Em 1959, a pedreira foi utilizada pela primeira vez de forma artística, quando o artista Jean Cocteau decidiu explorar o local como locação para filmar a longa metragem “O testamento de Orfeu”. Mas foi só em 1976 que o sítio ganhou nova vida e foi transformado pelo visionário jornalista Albert Plécy. Ele teve a grande ideia de projetar imagens nas imensas paredes de calcário com até 14 metros de altura. Nomeada como Cathedrale d´Images, a antiga pedreira passou a oferecer uma experiência visual completa. O ineditismo desta experiência atraiu cada vez mais visitantes e o sucesso do empreendimento suscitou o interesse de empresas para explorar o potencial económico do local.
        Após uma disputa judicial polêmica, em 2012, a produtora CultureSpaces passou a gerir o espaço com equipamentos de última geração. Atualmente, é possível apreciar imagens em movimento de obras de arte em altíssima resolução com uso de projetores de vídeo a laser, que cobrem todas as superfícies da pedreira, inclusive os corpos dos visitantes. A projeção ainda é acompanhada de uma trilha sonora-reproduzida por um sistema de áudio em motion design. O programa do Carrières de Lumières oferece uma exposição diferente por ano, com obras de grandes artistas como Gustav Klimt, Van Gogh, Picasso, Arcimboldo, entre outros.
       Segundo a produtora, "239.000 pessoas visitaram o Carrières de Lumières em 2012, e este número já subiu para 600.000 visitantes anuais, que são atraídos para esta forma de imersão na arte.” 
        Este exemplo ilustra como foi possível utilizar a tecnologia para potencializar e criar nova função para um sítio através de uma ideia que soube aproveitar a atmosfera do local para criar uma experiência única no mundo e desta maneira contribuir para o processo de desenvolvimento da região.

Juliana Vidigal




Referência Bibliográficas
https://www.carrieres-lumieres.com/en Acesso em 12 de março de 2019
https://www.culturespaces.com/en/node/1291 Acesso em 12 de março de 2019
Roque, Maria Isabel, "Museu: real ou virtual?," in a.muse.arte , 2018/12/15, https://amusearte.hypotheses.org/3297. Acesso em 10 de março de 2019
Lagarto, J. R. (2018). Tecnologias (digitais) e património cultural. In F. Ilharco, P. Hanenberg & M. S. Lopes, Património cultural e transformação digital (pp. 82-101). Lisboa: Universidade Católica Portuguesa – CECC.

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2ºsemestre do ano letivo de 2018/2019)

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