«Nas últimas três décadas, com o propósito assumido de se promoverem interna e internacionalmente e de captarem visitantes e capitais, muitas cidades, sobretudo capitais nacionais e outras grandes cidades, têm vindo a candidatar-se ao acolhimento e organização de grandes eventos, incluindo megaeventos. Fala-se de megaeventos quando estamos perante eventos que têm uma duração relativamente alargada no tempo, que pode ir até um ano, que mobilizam grandes meios (e.g., humanos e financeiros), que têm grande visibilidade internacional e mobilização dos media internacionais na sua cobertura, e que atraem grande número de participantes ou visitantes. Tendem, também, a propiciar a captação, direta ou indiretamente, de investimentos, materializados em equipamentos ou serviços associados à manifestação, em concreto, ou aos efeitos dela derivados, nomeadamente, em termos de dinamização socioeconómica do território que recebe este tipo de evento.
Em Portugal, Lisboa, em particular, tem seguido esta
estratégia, acolhendo quer megaeventos, propriamente ditos (Capital Europeia da
Cultura, 1994; Exposição Mundial, 1998; Campeonato Europeu de Futebol, 2004)
quer outras grandes manifestações socioeconómicas, desportivas e culturais, de
que são exemplo, desde logo, respetivamente, a Web Summit, organizada anualmente desde há três anos, e que aí
permanecerá sedeada por mais dez, uma etapa da Volvo Ocean Race acolhida num passado recente, e vários festivais
musicais, com destaque para o Rock in Rio
que aí vem decorrendo periodicamente desde há largos anos.
Outras cidades portuguesas têm procurado seguir esse
exemplo, como é o caso do Porto (Capital Europeia da Cultura, 2000; Red Bull Air Races),
Guimarães (Capital Europeia da Cultura, 2012; Cidade Europeia do Desporto,
2013), Braga (Capital Europeia da Juventude, 2012; Capital Ibero-Americana da
Juventude 2016; Cidade Europeia do Desporto, 2018). Noutra escala, ao longo das
últimas décadas ou apenas nos últimos anos, Vilar de Mouros (Caminha), Paredes
de Coura, Zambujeira do Mar (Odemira), Sines e Barcelos, entre outros lugares
do território nacional, têm também ganho visibilidade e atraído atenção e
visitantes, portugueses mas igualmente estrangeiros, tomando por suporte os
festivais musicais de verão que organizam e/ou organizaram no passado.
[...]
Atentos ao completo e rigoroso estudo empírico realizado
por uma equipa de investigadores do Instituto Politécnico de Beja, o festival
musical Meo Sudoeste é bem o exemplo de um evento cuja continuidade merece ser
ponderada (referimo-nos à dimensão de apoio público à sua organização já que a
componente de negócio interessará sobretudo ao seu promotor privado). Como
resulta sublinhado por alguns dos atores entrevistados no quadro desse estudo,
a defesa da sua continuidade reclama, pelo menos, algum tipo de mudança de
formato para o integrar melhor no território.
Braga, 5 de novembro de 2018.
J. Cadima Ribeiro
Professor Catedrático do Departamento de Economia, da
Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho; Investigador do NIPE –
Núcleo de Investigação em Políticas Económicas e Empresariais
Paula Remoaldo
Professora Catedrática do Departamento de Geografia da
Universidade do Minho; Diretora do Lab2PT – Laboratório de Paisagens,
Património e Território»
(excertos de “Prefácio” do livro O
Impacte Económico e Sociocultural do Festival MEO Sudoeste no Concelho de Odemira,
Sandra Saúde, Sandra Lopes, Carlos Borralho e Isidro féria (Eds.), Silabas
& Desafios, Faro, 2019, pp. 11-19)
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