A
desfolhada de Vila Nova de Cerveira já se tornou numa referência no que
respeita a manifestações etnográficas. Trata-se de uma atividade da terra
realizada no âmbito das festas populares da Nossa Senhora da Ajuda no Terreiro,
com o objetivo de recriar um costume típico da terra.
Depois
dos bois desfilarem a carregar as espigas de milho, é preparado, em pleno
centro cerveirense, uma eira
improvisada, onde as canas são espalhadas, dando-se início à
desfolhada. Esta recriação, é acompanhada da gastronomia específica da região e
do vinho verde, onde homens e mulheres se encontram vestidos a rigor. As
concertinas e as desgarradas, bem como, as histórias e lendas fazem-se ouvir
numa noite em que a população pretende regressar ao passado. Ao som das
singulares harmonias minhotas, os populares, ao longo da desfolhada, são desafiados
a tentar encontrar a espiga vermelha (milho rei/rainha) e, no final, quem a
achar terá de pronunciar: “milho rei!”. Segundo a gentes da terra que recordam
o antigamente, quem ansiava por este momento eram os mais novos: uma vez
descoberto o milho rei, poderiam beijar o rapaz/rapariga especial.
A desfolhada tem por objetivo preservar os usos e
costumes da cultura popular associada à ruralidade do concelho. Não
só se torna positivo em termos monetários para associações que lucram com as
festas como permite contribuir positivamente para o turismo de Cerveira.
Esta
atividade desperta o interesse do povo da região, assim como, daqueles que vêm
às festas de Cerveira. A desfolha da
espiga do milho implica a desbulha e moagem do grão que se converte em farinha.
Esta é amassada e levedada e, depois de cozinhada, se torna pão. Refere-se a uma
atividade não muito usual hoje em dia, como em tempos o era. Em meio rural, ainda podemos
encontrar alguns espigueiros – local onde são armazenadas as espigas – que
impediam de ser comidas por animais. O Soajo, por exemplo, é um desses lugares.
Concluo que se torna não só indispensável, mas, essencial, reviver uma das mais puras manifestações
culturais minhotas, expor a dinâmica cultural da região e a sua riqueza
etnográfica. Esta permitiu ainda a sua transmissão e,
isso significa que o património, neste caso, imaterial, estará assegurado para
as gerações seguintes, assim como os valores que a acompanham.
Joana
Antunes
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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