O Brexit, sendo um dos
principais tópicos de discussão da atualidade no que concerne ao futuro da
coesão europeia com o Reino Unido, é um movimento de ruptura de ligações que
poderá ter impacto em vários setores nacionais, sendo um deles o do Turismo.
Como se sabe, a aliança
entre Portugal e Reino Unido é a mais antiga aliança internacional em vigor,
que já data do século XIV, mantendo uma conexão setorial forte em várias
frentes, que influenciam a vida quotidiana de ambas as populações.
Portugal tem de refletir
e preparar um plano de contenção que defenda os seus interesses económicos caso
o Reino Unido avance com este corte de relações, para definir ações realistas e
eficientes. Para tal, já foi aprovado um “Plano de Contingência Brexit”, caso
exista uma saída sem acordo, onde foram delineadas várias medidas para
ultrapassar potenciais barreiras e incentivar o turismo, tais como: a promoção turística de Portugal
no RU e atração de investimento; o apoio às empresas nos setores económicos
mais expostos ao Brexit; a criação de um canal informativo no VisitPortugal.com; a monitorização dos fluxos turísticos do R. Unido e
do seu impacto; articular
medidas que assegurem aos cidadãos britânicos que viajam para Portugal (em caso
de não Acordo) mantenham as condições
de viagem; utilização do serviço
nacional de saúde; validade dos contratos de seguros; reforço dos meios consulares
ao dispor dos portugueses residentes no R. Unido; e a garantia do respeito por todos
os direitos dos britânicos residentes em Portugal.
Acredito que os setores
económicos e o país, em geral, devem estar preparados, e fazer os possíveis
para minimizar o impacto de uma potencial saída. Isto não significa que a
realidade seja já “negra”, pelo contrário, a positividade dos
números/estatísticas falam por si, uma vez que o mercado turístico do R. Unido
para Portugal continua em crescimento. Apenas temos de preservar a nossa
capacidade de atracão turística e ao mesmo tempo continuar a fortalecer as
ligações entre os dois países.
O Turismo é o principal
setor exportador de Portugal para o R. Unido, com receitas que atingiram 2004
milhões de euros em 2015, representando 29% do total das exportações. Os números
são coerentes com o facto de o R. Unido ter ocupado, em 2015, o primeiro lugar
nos principais índices do turismo internacional em Portugal.
Os últimos
dados oficiais do Banco de Portugal mostram que, nos primeiros três meses de
2018, as receitas turísticas geradas pelo R. Unido chegaram aos 374,8 milhões
de euros, 6,2% acima do mesmo período de 2017. Também é certo que
não se pode falar de turismo em relação ao R. Unido sem referir o peso do
Algarve. Cerca de 1500 milhões de euros das receitas externas geradas pelos
turistas britânicos em Portugal ocorreram nesta região, aumentando a
responsabilidade do Algarve na economia portuguesa e na formação do saldo positivo
da Balança comercial. As outras regiões com um peso significativo de turistas
britânicos são a Madeira e Lisboa (20% e 8,5% das dormidas no país).
Com base nas declarações
de representantes de cadeias de hotéis e de organizações relacionadas com o
turismo em Portugal, cheguei à conclusão que temos de ser cirúrgicos nas
medidas a implementar, sendo que estas devem ser focalizadas em pontos
específicos. As estratégias não passam necessariamente por descer os preços nos
serviços para fomentar a procura, apesar da desvalorização da libra, mas sim
criar condições para os britânicos continuarem a visitar o país.
As companhias aéreas
devem apostar em voos diretos e low cost,
devem-se promover programas especiais que envolvam as entidades e os
empresários do setor turístico, alargar a atividade turística ao longo do ano,
em todo o território nacional, através de eventos e atividades dinamizadoras
das regiões, como meio de diversificação e descentralização da procura. Mas,
primordialmente, deve reforçar-se a ligação com a comunidade inglesa residente
e encontrar soluções que facilitem o interesse pelo destino, a estadia e o
investimento, numa perspetiva de confiança.
A meu ver, com base na
instabilidade política em terras britânicas, seria um erro Portugal limitar-se à
especulação opinativa à espera que os tempos sejam continuamente áureos.
Nuno
Miguel Correia Rodrigues
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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