A
cidade de Vila Real está intimamente ligada à história do desporto automóvel
nacional. Foi naquele circuito citadino que alguns dos primeiros grandes
campeões conheceram o seu sucesso, com a pista a ser muito importante para
colocar Portugal no panorama das grandes corridas internacionais. Decorria o
ano de 1930 quando a cidade decidiu avançar com a organização do circuito para
o ano seguinte, e foi através de um imposto sobre a carne comprada que se
obteve o financiamento necessário a tal organização. Os anos foram passando e
embora com altos e baixos de sucesso a nível económico e competitivo, as
corridas ficaram e ainda hoje são parte do ADN dos vila-realenses.
Reconhecendo
que as corridas são do povo e para o povo, a cidade avançou no final do ano de
2014 com um investimento de cerca de 1 milhão de euros, com a candidatura para
receber nada mais nada menos que o Campeonato do Mundo FIA – WTCC (entretanto
com o nome alterado para WTCR) logo no verão de 2015. Esta oportunidade surgiu
após se saber que a cidade do Porto não teria mais condições para receber um
evento desta envergadura sem o apoio do Turismo de Portugal. Assim que se soube
que Vila Real ia receber este evento durante três anos, os alarmes soaram. Mas
soaram por bons motivos, pois, embora o investimento fosse avultado, o retorno
económico e o reconhecimento da cidade seriam e foram de facto superiores.
No
dia em que se anunciou as datas do primeiro fim-de-semana de corridas (desde a
data da última corrida de relevo em 1991), a corrida foi feita noutras pistas.
Assim, mesmo antes do fim-de-semana mais importante do ano, as corridas
começaram em torno do alojamento, que se verificou ser pouco para tanta gente
interessada. As unidades hoteleiras da cidade rapidamente ficaram sem
capacidade para receber mais gente, e por isso as cidades das proximidades
também ficaram a ganhar com a vinda do WTCR a Vila Real. Deste modo, para fazer
face à inexistência de capacidade de alojamento na cidade de Vila Real, os
aficionados pelo desporto automóvel, vindos dos mais diversos pontos do país ou
até mesmo do globo, viram-se forçados a procurar na cidade do Peso da Régua,
cidade de Chaves e cidade de Lamego alojamento para aquele tão esperado
fim-de-semana de velocidades.
Vila
Real e os seus habitantes rapidamente perceberam que as corridas voltavam assim
a ser fenómeno e capazes de deixar Vila Real no mapa do desporto automóvel
nacional e internacional e, por isso, muniram-se do típico “bom receber
transmontano” e proporcionaram aos visitantes um fim-de-semana inesquecível. Um
espírito inigualável, um ambiente fervoroso, bandeiras de Portugal nas janelas,
bancadas repletas, andaimes como bancada improvisada, palmas, gritos, “Viva
Vila Real, viva o WTCR” - foi e continua a ser assim o fim-de-semana mais
esperado do ano todos os anos desde 2015 para cá.
Todos
ficam a ganhar com as corridas, os que recebem, mas também os que vêm, porque
Vila Real é assim, sabe receber, mas sabe ainda mais dar. E não há dinheiro que
pague o movimento nas ruas, o cheiro a pneu queimado e tudo o que ele
representa, a alegria do povo, o encanto daqueles que visitam Vila Real com a
promessa de que voltarão. Corridas é Vila Real, é paixão, é casa cheia, é
tradição. Fica por isso a certeza que enquanto houver corridas em Vila Real vai
haver reconhecimento e valorização da cidade, vai haver turistas que vêm e
voltarão um dia, vai haver retorno económico. Sai toda a gente a ganhar, os
comerciantes típicos, as pastelarias (com os doces tradicionais), os
restaurantes, as unidades de alojamento, a cidade.
E
que assim continue, que o mote se mantenha (Acelera Vila Real) no seu sentido
real mas também no figurado, porque as corridas não se fazem só dentro do
circuito mas também à sua volta.
Inês
Monteiro
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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