No mês que findou o ano
que antecede, Portugal foi eleito o “Melhor Destino do Mundo” pelo segundo ano
consecutivo e, por conseguinte, Lisboa foi eleita “Melhor Cidade Destino” e
“Melhor Destino City Break” a nível
mundial (Marques, 2018). Não é algo surpreendente. Na verdade, Portugal tem
vindo a bater neste âmbito uma série de recordes, nomeadamente, em dormidas,
hóspedes, receitas e passageiros, inexistindo, visivelmente e estatisticamente,
qualquer relato no sentido de ter havido tantos turistas a visitar Portugal
como no real contemporâneo (Leiria & Bastos, 2017)
Atualmente, o turismo é o
maior exportador de serviços do país, afirmando-se como o principal motor da
economia portuguesa. Com uma dimensão de tal ordem significativa que, a título
ilustrativo, as receitas provenientes do turismo gerado somente em Lisboa superam
praticamente o dobro das geradas por todas as exportações do setor do calçado
em Portugal inteiro (Leiria & Bastos, 2017).
As principais cidades
alvo desta exponencial procura turística são Lisboa, Algarve e Porto, por esta
ordem (Ledo, 2018). É incontestável o património material e imaterial destas
cidades, sendo certo que a procura turística por Lisboa e Porto é díspar da
procura turística pelo Algarve. Enquanto que em Lisboa e Porto a procura
relaciona-se com fatores inerentes ao vasto património material e imaterial,
intimamente ligados ao turismo religioso, ao turismo cultural, ao turismo de eventos,
ao turismo de estudos, etc. No Algarve, fruto do clima e do mar mediterrâneo, a
procura advém de turistas que vão ao encontro de um turismo relacionado com o
“sol e mar”, tendo também, como reflexo dos vários eventos que por lá se fazem,
algum turismo de eventos.
Reino Unido, Alemanha,
Espanha e França são os países dos turistas que mais visitam Portugal (Ledo,
2018). Portanto, povos maioritariamente provenientes de grandes centros urbanos
que, aparentemente contraditório, procuram em sua grande parte os maiores
centros urbanos portugueses, com a exceção do Algarve. Esta relação é
facilmente explicável porquanto fatores decisivos na procura turística como a
expressão dessas mesmas cidades no mundo virtual, a rede de transportes e
aeroportos de que estas são possuidoras, os ilusionismos que o marketing
digital faz por elas e a inegável centralização de fundos governativos para se
desenvolverem turisticamente fazem com a procura turística em Portugal tenha
sempre o mesmo sentido.
Não obstante o
inquestionável valor que têm, Portugal é muito mais do que isso. Há uma panóplia
de diamantes por lapidar. Falo em regiões com elevado potencial turístico totalmente
inexplorado. Em consequência, há também uma panóplia de monumentos históricos,
imponentes, belíssimos, únicos, de considerável e incontestável interesse
público, completamente degradados em virtude de uma centralização excessiva.
Vide o caso do convento de nossa senhora do desterro, em Monchique, do Castelo
da Dona Chica, em Braga, do convento de Monfurado, em Montemor-O-Novo, dos
pavilhões do parque situados no parque D. Carlos I, nas Caldas da Rainha, da
Quinta e Palacete da Ponte da Pedra, em Leça do Balio, da Quinta do Duque, em
Alpriate, Vila Franca de Xira, do Convento de Seiça, na Figueira da Foz, do
Palacete Rosa Pena, em Espinho, do Convento de Santa Cruz da Trapa, no Solar
dos Malafaias, do Palácio do Farrobo, em Vila Franca de Xira, do Palácio de Midões,
em Tábua, do Palácio da Azambuja, no Vale da Azambuja, do convento de S.
Francisco do Monte, em Viana do Castelo, da Casa do Professor ou Quinta do Parreira,
em Oliveira de Azeméis, da Casa do Relógio ou Casa Manuelina, no Porto, da Casa
da Praça, em Frazão, Paços de Ferreira, da Casa do Passal, nas Cabanas de
Viriato, do Sanatório Jerónimo Lacerda, no Caramulo, das Termas dos Cucos, em
Torres Vedras, e, infelizmente, muitos outros (s/a, 2018).
Um recente estudo da
Universidade do Minho concluiu que Portugal é o país mais centralizado da
Europa. Na minha ótica, como efeitos extensíveis ao caso do turismo. Embora a
lei dê espaço para que as entidades regionais de turismo valorizem e
desenvolvam as potencialidades turísticas dessas mesmas regiões, parece-me
impossível fazer omeletes sem ovos. Sem redes de transportes, com orçamentos
reduzidos quer no que respeita ao marketing quer no que respeita à conservação
do seu património, por maior que seja o seu potencial turístico, irão passar
sempre despercebidas aos olhos dos turistas. Reconheço que é um trabalho árduo
e moroso, mas o potencial turístico de regiões como Trás-os-Montes e Minho-Lima
é tão rico e difícil de alcançável que, caso fossem regiões pertencentes a
outro país (e.g., Suíça), certamente não existiria esta passividade governativa.
JOÃO LOPES
Referências Bibliograficas
Aquapolis. (2018). Alguns
(muitos) Monumentos em Ruínas em Portugal. Informação disponível em:
http://aquapolis.com.pt/10-monumentos-em-ruinas-em-portugal/
Ledo, W. (2018).A
evolução do turismo em cinco gráficos. Informação disponível em :
https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/turismo---lazer/detalhe/a-evolucao-do-turismo-em-cinco-graficos
Leiria, I., & Bastos,
J. (2017). Turismo. O segredo do nosso sucesso. Informação disponível em: https://expresso.pt/sociedade/2017-06-17-Turismo.-O-segredo-do-nosso
ucesso#gs.0w493z
Marques, A. (2018).
Óscares do turismo: Portugal é o “Melhor Destino do Mundo” (outra vez) e Lisboa a “Melhor Cidade Destino”Informação disponível em:
https://observador.pt/2018/12/01/oscares-do-turismo-portugal-e-o-melhor-destino-do-
mundo-e-lisboa-a-melhor-cidade/
ncultura. (2018). Os 20
lugares abandonados mais incríveis de Portugal. Informação disponível em:
https://ncultura.pt/os-20-lugares-abandonados-mais-incriveis-de-portugal/3/
Varzim, T. (2018).
Portugal a caminho de novos recordes no turismo cá dentro e lá fora. Informação disponível em:
https://www.jornaldenegocios.pt/economia/conjuntura/detalhe/portugal-a-caminho-de-novos-recordes-no-turismo-ca-dentro-e-la-fora
VxMag. (2015). Portugal
esquecido: 12 monumentos em ruínas. Informação disponível em:
https://www.vortexmag.net/portugal-esquecido-12-monumentos-em-ruinas/2/
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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