Foi em 1993 que um grupo de jovens, após uma noite de fados de Coimbra,
decidiu que seria interessante organizarem um festival de música, festival esse
que é agora um dos maiores do país, o Vodafone Paredes de Coura. Tal como João
Carvalho (diretor do festival) referiu, “Surgiu de um brincadeira de rapazes”
que apenas se queriam divertir.
Tudo começou com um apoio da autarquia de Paredes de Coura no valor de
160 contos (800 euros), no entanto, João Carvalho nem gosta de usar o termo
“festival” para retratar a primeira edição do Paredes de Coura, pois foi um
evento organizado em 9 dias, com o apoio da Câmara Municipal, após a
requalificação das margens da praia fluvial do Tabuão. No entanto, puderam
contar com mais de duas mil pessoas.
Entretanto, os anos foram passando, o festival foi crescendo. As três
primeiras edições contaram com um cartaz 100% Português. Entretanto, em 1996,
na quarta edição, as bandas Portuguesas que se identificavam com o festival
começavam a escassear e viram-se obrigados a trazer bandas estrangeiras, o que
envolveu mais investimento e, consequentemente, a primeira edição a pagar. Por
1.000 escudos (5 euros), podia-se assistir aos 3 dias de concertos e ainda ter
acesso ao campismo.
O que é certo é que o festival continuou a crescer a ritmos estonteantes
e, como qualquer negócio, houve momentos menos bons, em que ponderaram desistir.
No entanto, viram o esforço recompensado ao verem que hoje se trata de um dos
maiores e mais históricos festivais do País.
Como é sabido, a Vila de Paredes de Coura, à escala da mesma, nunca teve
receitas económicas colossais, no entanto, podemos considerar que este festival
veio dar um novo ânimo à Vila, tornando-se até a principal fonte de receitas da
mesma. As caixas de multibanco durante os dias de festival ultrapassam os 3 Milhões
de Euros em levantamentos e, consequentemente, o comércio local ganha o
suficiente para se sustentar o ano inteiro.
Os números do festival não enganam, e são de total mérito. Eu, como
frequentador assíduo do festival desde 2014, posso garantir que a organização
continua a querer melhorar as condições fornecidas aos “festivaleiros”, e
querem tornar-se um colosso internacional. E, de facto, é de certa forma mágico
o ambiente que é criado durante estes dias: o Rio que atravessa o campismo; a
colina que dá vida ao palco; e as pessoas que tornam isto tudo possível. Um
ambiente totalmente diferente do que podemos esperar na maioria dos festivais
do país, sem sombra de dúvida.
A partir da minha investigação e da experiência que tenho no Festival,
ao contrário de muitos eventos neste tipo de vilas mais pequenas, posso afirmar
que os cidadãos locais recebem muito bem e gostam de, uma vez por ano, ver que
a sua Vila tornar-se num “cantinho” especial para pessoas de todo o lado do
Mundo. Em qualquer loja, restaurante e até barbeiros se vê a alegria dos
proprietários. E não se trata apenas de dinheiro, pois todos eles guardam
histórias e momentos que os tornam felizes.
João Carvalho e os seus sócios, após alguns anos, e de perceberem que o
projeto tinha “pernas para andar”, acabaram por constituir a empresa “Ritmos”.
E tal como esta empresa, e com o passar dos anos, começaram a criar condições
para o Investimento e a combater o recuo demográfico que se faz sentir de uma
forma geral nas Vilas do interior do país. Habitavam em Paredes de Coura cerca
de dezasseis mil habitantes na década de cinquenta, e atualmente esta conta
apenas com cerca de nove mil.
Hoje em dia, já contam com uma zona industrial com pelo menos oito
empresas de grandes dimensões e a empregarem grande parte da população.
Desta forma, podemos concluir que o
Vodafone Paredes de Coura foi um exemplo para o País de que há sempre espaço
para a Cultura e que são investimentos que mais tarde podem trazer frutos tão
bons como este festival trouxe para a Vila de Paredes de Coura.
Paulo
Rafael Gomes de Almeida
Fontes:
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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