terça-feira, abril 23, 2019

A Economia sobe à Vila

       Foi em 1993 que um grupo de jovens, após uma noite de fados de Coimbra, decidiu que seria interessante organizarem um festival de música, festival esse que é agora um dos maiores do país, o Vodafone Paredes de Coura. Tal como João Carvalho (diretor do festival) referiu, “Surgiu de um brincadeira de rapazes” que apenas se queriam divertir.
          Tudo começou com um apoio da autarquia de Paredes de Coura no valor de 160 contos (800 euros), no entanto, João Carvalho nem gosta de usar o termo “festival” para retratar a primeira edição do Paredes de Coura, pois foi um evento organizado em 9 dias, com o apoio da Câmara Municipal, após a requalificação das margens da praia fluvial do Tabuão. No entanto, puderam contar com mais de duas mil pessoas.
           Entretanto, os anos foram passando, o festival foi crescendo. As três primeiras edições contaram com um cartaz 100% Português. Entretanto, em 1996, na quarta edição, as bandas Portuguesas que se identificavam com o festival começavam a escassear e viram-se obrigados a trazer bandas estrangeiras, o que envolveu mais investimento e, consequentemente, a primeira edição a pagar. Por 1.000 escudos (5 euros), podia-se assistir aos 3 dias de concertos e ainda ter acesso ao campismo.
          O que é certo é que o festival continuou a crescer a ritmos estonteantes e, como qualquer negócio, houve momentos menos bons, em que ponderaram desistir. No entanto, viram o esforço recompensado ao verem que hoje se trata de um dos maiores e mais históricos festivais do País.
          Como é sabido, a Vila de Paredes de Coura, à escala da mesma, nunca teve receitas económicas colossais, no entanto, podemos considerar que este festival veio dar um novo ânimo à Vila, tornando-se até a principal fonte de receitas da mesma. As caixas de multibanco durante os dias de festival ultrapassam os 3 Milhões de Euros em levantamentos e, consequentemente, o comércio local ganha o suficiente para se sustentar o ano inteiro.
          Os números do festival não enganam, e são de total mérito. Eu, como frequentador assíduo do festival desde 2014, posso garantir que a organização continua a querer melhorar as condições fornecidas aos “festivaleiros”, e querem tornar-se um colosso internacional. E, de facto, é de certa forma mágico o ambiente que é criado durante estes dias: o Rio que atravessa o campismo; a colina que dá vida ao palco; e as pessoas que tornam isto tudo possível. Um ambiente totalmente diferente do que podemos esperar na maioria dos festivais do país, sem sombra de dúvida.
          A partir da minha investigação e da experiência que tenho no Festival, ao contrário de muitos eventos neste tipo de vilas mais pequenas, posso afirmar que os cidadãos locais recebem muito bem e gostam de, uma vez por ano, ver que a sua Vila tornar-se num “cantinho” especial para pessoas de todo o lado do Mundo. Em qualquer loja, restaurante e até barbeiros se vê a alegria dos proprietários. E não se trata apenas de dinheiro, pois todos eles guardam histórias e momentos que os tornam felizes.


          João Carvalho e os seus sócios, após alguns anos, e de perceberem que o projeto tinha “pernas para andar”, acabaram por constituir a empresa “Ritmos”. E tal como esta empresa, e com o passar dos anos, começaram a criar condições para o Investimento e a combater o recuo demográfico que se faz sentir de uma forma geral nas Vilas do interior do país. Habitavam em Paredes de Coura cerca de dezasseis mil habitantes na década de cinquenta, e atualmente esta conta apenas com cerca de nove mil.
         Hoje em dia, já contam com uma zona industrial com pelo menos oito empresas de grandes dimensões e a empregarem grande parte da população.
Desta forma, podemos concluir que o Vodafone Paredes de Coura foi um exemplo para o País de que há sempre espaço para a Cultura e que são investimentos que mais tarde podem trazer frutos tão bons como este festival trouxe para a Vila de Paredes de Coura. 

Paulo Rafael Gomes de Almeida

Fontes:

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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