O
turismo religioso é uma manifestação da nossa história e da nossa cultura,
sendo a manifestação mais antiga de turismo do mundo. Tem sofrido várias
alterações ao longo dos anos, sendo promovido e melhorado, proporcionando crescimento
e sendo um ativo de posicionamento para os países. Seja por motivações
espirituais ou culturais, o setor do turismo religioso proporciona uma descoberta
de todo o território, fortalecendo o seu desenvolvimento. É comum vermos no
nosso dia-a-dia peregrinos passar pelas nossas localidades, com grandes
mochilas, sozinhos ou em grupos, movidos com uma única motivação, a fé, focando-se
em alcançar o seu destino espiritual.
O Caminho de Santiago de Compostela é
uma rota milenar seguida por milhões de peregrinos desde o início do século IX,
sendo Santiago de Compostela um grande centro de peregrinação cristã. Aqui, está
associado muito mais do que à conotação religiosa, pois através destes foram
divulgadas ideologias, tendências, contactos entre culturas e até mesmo
movimentos artísticos que fortificaram os alicerces da Europa.
Foi
percorrido por desde os mais humildes peregrinos aos mais conceituados nomes,
como vários membros do Clero e da Monarquia. Desde então, pessoas das mais
diversas procedências percorrem os Caminhos que conduzem à Catedral espanhola
onde se veneram as relíquias do Santo Apóstolo, dando origem a um fenómeno que
se mantém e reforça a cada dia. Conta com mais de 300 000 peregrinos
anualmente, que manifestam a sua fé pelo Santo Mártir percorrendo o seu Caminho
das mais diversas formas.
Santiago
de Compostela foi declarada, em 1985, Património Cultural da Humanidade pela
UNESCO, sendo também reconhecida como Capital Europeia da Cultura, em
reconhecimento ao seu dinamismo cultural e seu labor de difusão cultural ao
longo da história.
Os Caminhos de Santiago são, por isso,
um denominador da cultura europeia, pelo que os seus itinerários, que são
espaços públicos de convergência e harmonia, devem ser respeitados e
promovidos. Neles, qualquer caminhante se sente um cidadão do mundo, o que lhe
dá a oportunidade de perspetivar as suas convicções num sentido universal de
abertura e tolerância.
É
notório o contributo e empenho dos municípios na dinamização destes percursos,
quer através da sinalização quer ao nível dos apoios prestados. Esta apreciação
é, mais uma vez, demonstrada na candidatura conjunta de 10 municípios
(constituintes do Caminho Português da Costa), ao Norte 2020, com o objetivo de
valorizar e reconhecer oficialmente este Caminho como itinerário da
peregrinação a Santiago. Esta rede intermunicipal apresenta uma comunicação
integrada que potencia o valor intrínseco do Caminho português da Costa.
O
culto de Santiago de Compostela está presente na essência destes 10 municípios,
envolvendo diferentes paisagens num único percurso que atrai à serenidade. Este
é o trilho para quem procura novas sensações, que ultrapassam o corpo e aclaram
a mente, através de uma viagem em que o espiritual se completa com o interesse
cultural e paisagens de tirar o fôlego.
Pessoas
partem dos mais remotos lugares, percorrendo caminhos sem fim, tendo como guia
a sua fé e como alicerce a crença de alcançar o propósito. É uma verdadeira
demonstração de fé, e uma vivência completamente única e inigualável, um
momento de introspeção. Ao longo do caminho, assistimos, através das paisagens,
à personificação de muitos momentos da vida que levam o pensamento a encontrar
um sentido. Pelos centros históricos, escutam-se histórias sobre os que
passaram, partilhadas pelas gentes que recebem. A admiração e sedução por cada
momento ficam gravadas, apelando a um regresso, rápido, a este Caminho.
Os
albergues, para além de um local de repouso, também são um “centro” de união,
onde pessoas dos mais variados pontos se encontram e convivem, compartilhando histórias,
vivências e as suas crenças.
Terminada
a jornada, a felicidade, o alívio e o sentimento de dever cumprido transbordam nestes
nobres Caminhantes. A cada passo dado os peregrinos vêem a sua fé fortalecida,
a sua história enraizada e a sua cultura difundida. Não é por acaso que vários
autores afirmam que a Europa se construiu a peregrinar a Compostela.
Como diz o velho ditado popular: “Quem
não vai a Santiago em vida, vai depois de morto”. É notória a evolução das épocas
e, ao mesmo tempo, a intemporalidade da fé. Da fé que move as pessoas, da fé
que une povos, da mesma fé dos nossos antepassados que se tornou na nossa, que
nos guia e que nos faz querer ser melhores para com os outros e para connosco
próprios.
Percorrer
o Caminho de Santiago é fazer um caminho de renovação, de transformação
interior, viajando ao ritmo de outros séculos, é..... Peregrinar.
Diana Silva
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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