domingo, abril 28, 2019

Turismo Gastronómico em Portugal

Viajar não se resume somente a conhecer novos lugares e, nos dias de hoje, cada vez mais turistas evidenciam uma vontade de mergulhar na cultura local e no estilo de vida de um país, vivendo todas as experiências possíveis. Uma das melhores maneiras de o fazer é através do turismo gastronómico.
Segundo a Rede Europeia de Património Culinário Regional, o conceito de turismo gastronómico parte do pressuposto de que a gastronomia de um destino turístico é um ativo sempre presente na cultura local e impossível de contornar na experiência global de um turista nesse destino turístico.
Quando juntamos as palavras Gastronomia e Portugal, é impossível não lembrar de alimentos como o bacalhau, o azeite ou o pastel de Belém. No entanto, a nossa gastronomia não se resume só a estes produtos. Através de uma parceria entre o Turismo de Portugal, a Academia Portuguesa de Gastronomia, as Entidades Regionais de Turismo e os Municípios nasceu o programa Prove Portugal, com o objectivo de promover a gastronomia portuguesa enquanto produto turístico além-fronteiras.
Um dos primeiros resultados desta parceria foi o lançamento de um site (www.proveportugal.pt), onde os turistas podem encontrar informações sobre pratos, produtos e vinhos regionais, bem como uma agenda com eventos gastronómicos de Norte a Sul do país. Os enchidos (alheira, chouriço, linguiça), as castanhas, o mel, o queijo, o presunto e alguns doces (ovos moles de Aveiro, pão de ló de Ovar) acompanham o bacalhau, o azeite e o pastel de belém como os produtos que obrigatoriamente têm que ser provados numa visita ao nosso país.
Em 2018, foram premiadas as quatro melhores experiências de turismo gastronómico sustentável de Portugal. Os vencedores estendem-se de Norte a Sul do país, desde Bragança até Tavira.
Em Bragança surgiu o projeto “Couscous Transmontano”, que pretende recriar o ciclo de colheita destes cereais numa aldeia, tendo o turista a oportunidade de participar nas típicas atividades agrícolas da ceifa e da malha, ao som de canções tradicionais, e de mais tarde fazer o couscous transmontano com a farinha de trigo e as masseiras do pão.
“Almoce e jante connosco” é um projeto das Aldeias de Portugal, a norte, e consiste em abrir as portas das casas nas aldeias históricas e proporcionar aos turistas uma experiência de imersão na vida real dos aldeões, através de uma refeição tradicional e do convívio em família.
Em Mértola, nasceu o projeto “À noite no mercado”, que tem como enfoque principal o produto. Os turistas são recebidos nos mercados municipais de Mértola e Mina de S. Domingos e conversam com os locais, que são convidados a trazer de casa um produto para partilhar.
No Algarve, em Tavira, surgiu o projeto “Taste Algarve”, que promove a gastronomia algarvia e os produtos locais através de workshops de cozinha, visitas a produtores locais ou provas de degustação.
Para além destes projetos, muitos outros estão a ser desenvolvidos desde que o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, referiu que há muitos destinos turísticos que apostam na gastronomia como fator de captação de turistas, enquanto que em Portugal a gastronomia e os vinhos só são equacionados quando os turistas já estão no nosso país. Aparece, assim, clara a necessidade de definição de projetos e políticas turísticas direcionadas para a promoção da gastronomia local.
As maiores oportunidades para Portugal em termos de turismo gastronómico resumem-se, a meu ver, à possibilidade de permitir que o turista incorpore o processo de produção do produto ou do prato através de parcerias entre os produtores locais, os municípios e os hotéis, tal como nas experiências “Couscous Transmontano” e “Taste Algarve”.
Por exemplo, no sector do vinho, várias pessoas pagam para apanhar uvas. A mesma lógica poderia ser seguida ao permitir que o turista ordenhe uma ovelha ou uma cabra para fazer queijo, uma vaca para fazer leite ou apanhe azeitonas e acompanhe o processo de produção de azeite, o que proporcionaria ao turista uma vivência autêntica e uma oportunidade única de conhecer os produtos endógenos de cada região.
Na minha opinião, este tipo de projetos seriam muito benéficos para os pequenos agricultores das aldeias do interior que ainda não sentiram qualquer efeito do recente “boom” turístico em Portugal e poderia ser uma boa maneira para tentar reduzir as desigualdades existentes entre litoral e interior.

Manuel Moreira

Bibliografia
https://www.proveportugal.pt/       
https://www.turismodeportugal.pt/

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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