Viajar não se resume somente a conhecer
novos lugares e, nos dias de hoje, cada vez mais turistas evidenciam uma
vontade de mergulhar na cultura local e no estilo de vida de um país, vivendo todas
as experiências possíveis. Uma das melhores maneiras de o fazer é através do
turismo gastronómico.
Segundo a Rede Europeia de Património
Culinário Regional, o conceito de turismo gastronómico parte do pressuposto de
que a gastronomia de um destino turístico é um ativo sempre presente na cultura
local e impossível de contornar na experiência global de um turista nesse
destino turístico.
Quando juntamos as palavras Gastronomia e
Portugal, é impossível não lembrar de alimentos como o bacalhau, o azeite ou o
pastel de Belém. No entanto, a nossa gastronomia não se resume só a estes
produtos. Através de uma parceria entre o Turismo de Portugal, a Academia
Portuguesa de Gastronomia, as Entidades Regionais de Turismo e os Municípios
nasceu o programa Prove Portugal, com o objectivo de promover a gastronomia
portuguesa enquanto produto turístico além-fronteiras.
Um dos primeiros resultados desta parceria
foi o lançamento de um site (www.proveportugal.pt),
onde os turistas podem encontrar informações sobre pratos, produtos e vinhos
regionais, bem como uma agenda com eventos gastronómicos de Norte a Sul do
país. Os enchidos (alheira, chouriço, linguiça), as castanhas, o mel, o queijo,
o presunto e alguns doces (ovos moles de Aveiro, pão de ló de Ovar) acompanham
o bacalhau, o azeite e o pastel de belém como os produtos que obrigatoriamente
têm que ser provados numa visita ao nosso país.
Em 2018, foram premiadas as quatro
melhores experiências de turismo gastronómico sustentável de Portugal. Os
vencedores estendem-se de Norte a Sul do país, desde Bragança até Tavira.
Em Bragança surgiu o projeto “Couscous Transmontano”, que pretende
recriar o ciclo de colheita destes cereais numa aldeia, tendo o turista a
oportunidade de participar nas típicas atividades agrícolas da ceifa e da malha,
ao som de canções tradicionais, e de mais tarde fazer o couscous transmontano com a farinha de trigo e as masseiras do pão.
“Almoce e jante connosco” é um projeto das
Aldeias de Portugal, a norte, e consiste em abrir as portas das casas nas
aldeias históricas e proporcionar aos turistas uma experiência de imersão na
vida real dos aldeões, através de uma refeição tradicional e do convívio em
família.
Em Mértola, nasceu o projeto “À noite no
mercado”, que tem como enfoque principal o produto. Os turistas são recebidos
nos mercados municipais de Mértola e Mina de S. Domingos e conversam com os
locais, que são convidados a trazer de casa um produto para partilhar.
No Algarve, em Tavira, surgiu o projeto “Taste Algarve”, que promove a gastronomia
algarvia e os produtos locais através de workshops
de cozinha, visitas a produtores locais ou provas de degustação.
Para além destes projetos, muitos outros
estão a ser desenvolvidos desde que o presidente do Turismo de Portugal, Luís
Araújo, referiu que há muitos destinos turísticos que apostam na gastronomia
como fator de captação de turistas, enquanto que em Portugal a gastronomia e os
vinhos só são equacionados quando os turistas já estão no nosso país. Aparece,
assim, clara a necessidade de definição de projetos e políticas turísticas
direcionadas para a promoção da gastronomia local.
As maiores oportunidades para Portugal em
termos de turismo gastronómico resumem-se, a meu ver, à possibilidade de
permitir que o turista incorpore o processo de produção do produto ou do prato
através de parcerias entre os produtores locais, os municípios e os hotéis, tal
como nas experiências “Couscous
Transmontano” e “Taste Algarve”.
Por exemplo, no sector do vinho, várias
pessoas pagam para apanhar uvas. A mesma lógica poderia ser seguida ao permitir
que o turista ordenhe uma ovelha ou uma cabra para fazer queijo, uma vaca para
fazer leite ou apanhe azeitonas e acompanhe o processo de produção de azeite, o
que proporcionaria ao turista uma vivência autêntica e uma oportunidade única
de conhecer os produtos endógenos de cada região.
Na minha opinião, este tipo de projetos
seriam muito benéficos para os pequenos agricultores das aldeias do interior
que ainda não sentiram qualquer efeito do recente “boom” turístico em Portugal
e poderia ser uma boa maneira para tentar reduzir as desigualdades existentes
entre litoral e interior.
Manuel
Moreira
Bibliografia
https://www.proveportugal.pt/
https://www.turismodeportugal.pt/
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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