Lembro-me
bem da forma como franzia o sobrolho, mostrando espanto e alguma indignação,
quando alguém dizia não saber onde ficava Melgaço. A minha resposta saía, invariavelmente,
de forma automática:
–
Podemos perceber muito pouco de geografia, não saber onde fica a maioria das
terras, mas Portugal começa em Melgaço!
Era
assim que eu reagia, nos meus tempos de estudante. Confesso que não ficava
assim tão espantado e muito menos indignado, mas era a minha forma de afirmar,
não deixando margem para discussão ou dúvidas, que eu era da terra onde
Portugal começa.
Miguel
Esteves Cardoso afirma, num texto publicado há uns anos, que é no Norte que
começa Portugal. É também esta lógica da construção, da leitura, da perceção de
cima para baixo que nos permite afirmar, com propriedade, que é aqui, no mais
nortenho dos concelhos, que começa Portugal.
Este
título, de terra onde começa Portugal, não é uma descoberta recente, ou algo
que tenhamos começado agora a reivindicar. Já em 1973, numa visita do então
Presidente da República, Almirante Américo Tomás, foi inaugurado um pequeno
monumento, junto aos edifícios da alfândega, na fronteira de São Gregório, na
freguesia de Cristóval, do concelho de Melgaço, onde podia ler-se “Aqui começa
Portugal” (Alves, 2016).
Nos
últimos anos, temos assistido a um intenso reavivar desta bandeira, muito por
força do trabalho e da persistência de um habitante da aldeia melgacense de
Cevide (a aldeia mais setentrional de Portugal, situada na freguesia de
Cristóval) – o Mário Monteiro.
Com
o seu esforço, a sua luta incansável, na qual se destaca a criação e
dinamização da pagina de Facebook
“Amigos de Cevide (aldeia onde começa Portugal)”, o Mário tem perseguido o
objetivo de divulgar os muitos e inegáveis encantos da sua aldeia, nas margens
dos rios Minho e Trancoso, aliados ao facto de ali se situar o marco
fronteiriço número um.
A
linha de fronteira terreste portuguesa encontra-se sinalizada por marcos
numerados. É ali, em Cevide, Melgaço, que começa a numeração e que, portanto,
se situa o primeiro marco, o marco número um.
Não
sendo o Mário formado na área da comunicação, desde logo percebeu a importância
deste facto do ponto de vista do marketing territorial. Como ele, muitos de
nós, que crescemos a franzir o sobrolho quando alguém dizia não saber onde
ficava a nossa terra, acreditamos na força desta marca identitária. É,
indubitavelmente, aquilo que temos de mais exclusivo.
Estou
certo que a marca Melgaço, enquanto território, sairia muito reforçada se, em
cada desdobrável, em cada viatura, em cada página da net ou rede social, em todo o material de informação ou divulgação
do nosso concelho, junto do logotipo e do nome Melgaço, pudesse sempre ler-se
“Aqui começa Portugal”.
Jorge Ribeiro
Cardoso,
Miguel (2008) O Norte. https://epg.blogs.sapo.pt/593.html
Alves,
Valtes (2016). A emigração ilegal e o contrabando na raia melgacense em
reportagem. Blogue “Melgaço, Entre o Minho e a Serra” - https://entreominhoeaserra.blogspot.com
Monteiro,
Mário. Amigos de Cevide (Aldeia onde começa Portugal). https://www.facebook.com/Amigos-de-Cevide-Aldeia-onde-come%C3%A7a-Portugal-393270977374934/
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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