O
Turismo em Portugal tem sido, desde o início da crise de 2008, o verdadeiro
impulsionador económico nacional e que, em certa medida, continua a desenvolver
economicamente o país. Surgiram e desenvolveram-se bastantes negócios com vista
a criar oferta turística, e negócios com sucesso, diga-se de passagem. Devido
ao aumento frequente da procura do turismo por terras lusitanas, a oferta
criada tem sido bem encaixada pelo lado da procura. Para confirmar o facto observa-se
o número de dormidas nos alojamentos turísticos por 100 habitantes: em 2008,
observavam-se 377 dormidas e, em 2017, já se ultrapassavam as 634 dormidas.
Aumentou-se bastante a oferta e a procura respondeu devidamente.
Mas
mesmo com aumento da oferta a procura é, algumas vezes, demasiada para a oferta
existente. Note-se que, por exemplo, o rendimento médio por quarto dos
alojamentos turísticos portugueses era, em 2006, de cerca de 28 euros, ao passo
que em 2017 o valor médio já se situava em cerca de 46 euros e 20 cêntimos,
quase o dobro passado 11 anos, existindo nos alojamentos turísticos nacionais,
taxas de ocupação anuais (dados de 2017) acima dos 75% quando em 2006 rondava
os 50% (fonte dos dados estatísticos: PORDATA e Turismo de Portugal).
Assistiu-se, portanto, a um aumento generalizado da oferta, a um aumento dos
preços e a um aumento favorável da procura, que sustentou todo este crescimento
económico.
Contudo,
e apesar do sucesso, surge uma problemática que afeta muitos portugueses. O
problema que se levanta é o centrismo associado ao turismo nacional, que tem
que ver com o destaque nacional do turismo em três pontos-chave no nosso
território: as áreas metropolitanas de Lisboa, do Porto e o Algarve (embora o
terceiro com um grau de sazonalidade bastante mais evidente que os anteriores).
Observando
os proveitos totais anuais dos estabelecimentos hoteleiros nacionais
(rendimentos obtidos com dormidas, refeições, etc.) denota-se a forte
incidência das três zonas anunciadas anteriormente. Na área metropolitana de
Lisboa e no Algarve, os proveitos, em 2017, ultrapassavam os mil milhões de
euros cada (1 151 787 000 euros e 1 078 233 000
euros, respetivamente), ao passo que a área metropolitana do Porto registava
proveitos no valor de 322 milhões de euros, abaixo das primeiras dos NUTS III
mas, comparado com o resto do território nacional, registava proveitos bastante
elevados.
No
resto do território nacional, os valores mais altos situavam-se nos 60 milhões
de euros, em 2017, o que mostra a diferença para com os focos identificados. Se
esta vaga turística fosse uniformemente distribuída por todo o território
nacional, o problema seria inexistente, mas surgiriam outros problemas, pois
não existe oferta suficiente nem capacidade urbana noutros pontos do país para
receber um aumento tão grande de turistas.
Mas
esta capacidade de albergar tanto turista nestes três núcleos faz com que os
residentes dessas zonas sofram com alguns problemas. Dentro desses problemas,
surgem os congestionamentos das estradas e dos transportes públicos, muitas
vezes sem capacidade de mobilizar tanto público. Para além disso, a crescente
especulação imobiliária faz com que se torne incomportáveis os valores das
rendas impostas, assim como o valor de venda das casas. Os preços praticados
nos restaurantes das zonas e nos estabelecimentos, como bares e cafés, são
também um fator de queixa, pois torna-se bom para o país subir os preços
conforme o aumento da procura turística, mas o poder de compra dos residentes
não aumenta no mesmo grau e torna-se difícil acompanhar todas estas subidas.
Surgem
outros problemas associados, embora com menor grau de importância, mas não
exatamente sem importância, que são: o ruído, a perda de identidade da região,
perda de costumes, o afastamento das tradições em detrimento de outras atrações
mais “favoráveis”, etc. São problemas evidentes e que têm surgido nos últimos
anos no primeiro plano de discussão, pois são cada vez mais as queixas e os
incentivos à regulação destes problemas.
Todos
concordamos acerca de quanto é necessário o turismo para desenvolver a economia
e todos nós observamos o impacte macroeconómico evidente em tempos de crise,
quando todos desesperávamos por algum motor económico. Mas terá surgido agora
um problema maior que se impõe e que faça do tão adorado turismo um pau de dois
bicos? Temos de ordenar o território em função do crescimento do turismo. Não
estávamos devidamente preparados para uma crescente afluência e sofremos agora
com essa não-preparação. Devemos e podemos apoiar o turismo. Foi e é motor de
desenvolvimento, mas temos de nos preparar para o receber. Não é uma tarefa que
se faça exclusivamente com o aumento da oferta, mas com a preparação da oferta
em questões territoriais. Somos uma nação capaz de se desenvolver ainda mais
nesse sentido, mas temos uma imagem a manter e a nossa identidade não pode perder
a marca que tem. Venha o crescimento sustentável.
João
Pedro Sá
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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