A indústria, enquanto motor de desenvolvimento
da sociedade, é uma parte integrante e indissociável da cultura de um povo ou
de uma comunidade.
São inúmeros os vestígios de um passado
industrial ativo e fervilhante, assim como são muitas as regiões que têm na
indústria o seu único impulsionador económico. Mas não tem de ser,
necessariamente, assim.
O setor turístico, ainda em fase de
crescimento em alguns locais, atingiu já a sua "maturidade" em vários
outros. Isto leva a que as cidades sintam a necessidade de se reinventar. De
inovar. Uma das formas, é tornar turisticamente atrativos alguns
"novos" aspetos. Falamos do legado industrial de uma comunidade como
atração turística.
Numa tentativa de valorização deste património
industrial, que também representa (entre outros fatores) a identidade dos
locais onde se encontra, tem vindo a verificar-se uma recuperação deste
património, e até mesmo uma musealização do mesmo. Esta recuperação leva à
valorização dos locais e áreas circundantes, que possam refletir valores de um
passado menos distante.
Porém, na minha opinião, o foco das
comunidades não deverá nunca centrar-se em apenas um único setor económico.
Desta forma, as cidades em que tal seja de algum modo possível, deverão aliar
as várias componentes da sua oferta turística, como sejam o turismo cultural e
o turismo industrial. Ambos os segmentos desta procura turística são igualmente
importantes e podem ser potenciados se a comunidade encontrar formas de os
conciliar, abrindo horizontes para que uma cidade possa atrair diferentes
públicos. Com isto, quero então dizer que, estes sectores se complementam
mutuamente.
Alguns exemplos desta cooperação podem ser
observados na cidade de Guimarães. O município tem vindo, continuamente, a
trabalhar numa recuperação de edifícios e zonas industriais em degradação
prolongada, como forma de valorizar o seu passado industrial e patrimonial.
Refiro-me, por exemplo, à indústria dos curtumes. Temos os exemplos da fábrica
da Ramada, que é atualmente utilizada para a realização de inúmeros eventos
culturais, assim como um Campus Universitário, da Casa da Memória, que ocupa o
lugar onde existiu anteriormente uma fábrica, do Laboratório da Paisagem (nos
arredores da cidade, em Creixomil), que foi uma empresa têxtil no início do
século XX. Numa procura de valorizar num sentido mais amplo este legado
patrimonial, Guimarães luta agora pela inclusão da Zona de Couros (onde ainda
se observam os vestígios da anterior industria dos curtumes) na zona
classificada pela Unesco.
Porém, Guimarães está longe de ser o único
exemplo desta valorização da indústria em associação à valorização patrimonial.
Outra cidade que poderíamos referir é Bilbau, que se caraterizava por ser uma cidade
industrial, com uma silhueta escura, soturna, e que conseguiu reinventar-se,
tornando-se num importante polo de turismo cultural. Essa revitalização teve
como principal eixo a construção do Museu Guggenheim, pelo Arquiteto Frank
Gerhy, que teve como consequência para a cidade um forte impulso na recuperação
patrimonial, social e cultural.
Uma cidade que não conseguia ultrapassar o
paradigma do turismo exclusivamente de negócios (em função da componente
industrial a que fiz referencia atrás), criou em si mesma outros atrativos que
potenciaram os visitantes empresariais, fazendo-os ficar mais tempo ou mesmo
regressar para visitar a componente cultural da cidade, ao mesmo tempo que
atraiu novos visitantes. Isto demostra que a cooperação entre diferentes
sectores económicos é uma mais-valia, e foi nesse sentido que a cidade Basca
trabalhou.
Há outros exemplos ainda: Dusseldorf, na
Alemanha, renovou-se de uma forma muito análoga a Bilbau, reconvertendo a zona
ribeirinha num projeto do mesmo arquiteto (Frank Gerhy); a cidade de Joinville,
no Brasil, que se carateriza como uma cidade industrial que, apesar de
sustentável por via desse sector económico, procura aumentar o turismo como
forma complementar de valorização da cidade.
Regressando ao exemplo inicial de Guimarães,
seria interessante que a cidade lograsse complementar os seus esforços na
divulgação da sua importância histórica, cultural e patrimonial com uma oferta
que proporcionasse, a quem a visita, informação sobre o seu legado industrial.
Isso permitiria, a prazo, conciliar o melhor de dois mundos: captar potenciais
clientes para o seu tecido empresarial e, simultaneamente, potenciar os atuais
visitantes industriais, de forma a que sintam vontade de regressar ou de ficar
para além das suas estadias profissionais.
É verdade que existem já algumas iniciativas
avulsas nesse sentido -nomeadamente um “Roteiro da Industria Têxtil"- mas
atrevo-me a dizer que, por motivos que desconheço, as mesmas não vêm obtendo os
resultados que aqui defendo como desejáveis e alcançáveis, se integrados numa
estratégia holística.
Em
conclusão, diria que, se em alguns casos esta visão de uma cidade como um todo indissociável
poderá ser uma necessidade e quiçá o caminho a seguir para impulsionar o
desenvolvimento económico, noutros casos, poderá ser um complemento e um fator
a acrescentar a uma cidade, que lhe permita criar para si uma maior autonomia
económica.
Rita
Miranda Pereira
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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