No início do século XX, à
semelhança do que acontecia além-fronteiras e nas principais cidades do país,
diversas práticas desportivas foram surgindo, com o futebol a ganhar um claro
destaque. Ora, Braga não podia ficar indiferente e aderiu com euforia a este
novo surto desportivo, que mereceu desde logo maior atenção por parte das
gentes locais.
Como se jogava em
qualquer lado, este entusiasmo que tomou conta da população levou ao
aparecimento de campos improvisados. Contudo, eram estruturas que não
satisfaziam a necessidade de um público cada vez mais exigente, contribuindo
também para tal o recém-formado “Sporting Clube de Braga”, em 1921, clube da
cidade e da região, com ambições muito claras no meio futebolístico português.
Com o objetivo de
construir um “estádio regional” e de comemorar o 21º aniversário da Revolução
de 28 de maio de 1926, o ambicionado estádio, projetado pelo arquiteto e
engenheiro Travassos Valdez, foi finalmente inaugurado em 1950, com a
designação de “Estádio 28 de maio”, em celebração do regime que o financiara.
Passados 24 anos e uma vez implantado o regime democrático, a estrutura mudou o
seu nome para “Estádio 1º de maio”, alusivo ao Dia Internacional do
Trabalhador, uma das conquistas da liberdade obtida na revolução de 1974.
Constituindo
um dos escassos equipamentos desportivos edificados em Portugal durante o
Estado Novo, construído em pedra e betão armado, com relvado para a prática do
futebol e pista para o atletismo, este foi considerado, na época, um dos mais
importantes estádios do país e um dos mais belos de inspiração clássica.
Contudo,
apesar da sua história e de ter sido palco de muitas emoções, longe vão os
tempos de glória do 1º de maio. Esta estrutura, classificada como Monumento de
Interesse Público, está degradada devido ao desleixo da autarquia na respetiva
manutenção e conservação, assistindo com tristeza ao seu aspeto pouco cuidado.
Para tal contribuiu também a construção do Estádio Municipal, para onde foram
canalizados grandes investimentos, colocando à margem, de certa forma, um dos
locais mais emblemáticos da cidade. A verdade é que a fatura do novo estádio já
é três vezes maior do que o valor inicialmente previsto para a sua construção,
e são imensas as pessoas que recordam com saudade o “velhinho 1º de maio”, localizado
no Parque da Ponte.
É
inquestionável a beleza arquitetónica do novo espaço que alberga atualmente o
principal clube de futebol da cidade, mas as queixas relativas a este vão desde
o frio sentido no seu interior até ao facto de os adeptos terem de subir e
descer uma grande quantidade de escadas para aceder ao seu lugar. Pergunto-me
ainda se, de certa forma, seria necessário um investimento tão grande naquele
espaço, quando se tinha um estádio tão poderoso e esteticamente fascinante como
o 1º de maio, onde os bracarenses e braguistas se juntavam em festa para
assistir ao jogo do seu clube de coração. Lugar de muitas paixões e conquistas,
hoje não passa de um local nostálgico, perto de tudo, mas tão longe de todos,
apesar de albergar campeonatos de atletismo e algumas equipas de futebol do
Sporting Clube de Braga.
Considero
uma mais-valia para a cidade a recuperação e revitalização do 1º de maio pelo
Município de Braga e pela Universidade do Minho por forma a trazer de volta a
mística que sempre o caraterizou, considerado como um ponto de memória coletiva
para as gentes da cidade, não merecendo o estado degradado em que se encontra.
Maria da Graça da Cunha Peixoto
(Artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e
Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património
Cultural do ICS, a funcionar no 2ºsemestre do ano letivo de 2018/2019)
Sem comentários:
Enviar um comentário