Os
Açores é um arquipélago português localizado no Atlântico Norte e é composto
por nove ilhas, de origem vulcânica, que estão subdivididas em 3 grupos
(ocidental, central e oriental). A sua paisagem resulta da sua génese vulcânica
que deu origem às caldeiras, às fumarolas, às lagoas, etc., em conjunto com
fatores climáticos próprios, pelo que há quem diga que num dia se podem
verificar as 4 estações do ano, os pastos verdejantes divididos pelos típicos
muros de pedra, que restringem as manadas de gado, as densas florestas de
lauráceas e, finalmente, o mar como fundo de tudo isto. Em conjunto, estes elementos
fazem com que este arquipélago possua uma das mais belas paisagens de Portugal.
E
essa beleza parece ter sido descoberta pelo resto do mundo recentemente… Se a
estes elementos juntarmos a história, a cultura, as pessoas, entre outros
fatores, é certo afirmar que os Açores se afiguram como lugar ímpar no Mundo.
Referi
anteriormente que o resto do mundo descobriu os Açores nos últimos anos. De
facto, os Açores tornaram-se um destino turístico da moda e as estatísticas
comprovam-no. Os dados do INE e de outras fontes de informação permitem
concluir o seguinte:
o
número de turistas aumentou de 142 mil, em 2015, para 164 mil, em 2018 (123 mil
só em Ponta Delgada) [1];
também o aeroporto João Paulo II (em Ponda Delgada) registou um aumento do
volume de passageiros desembarcados nos anos mais recentes (de cerca de 621.000
em 2015, para 911.000 em 2017, cerca de 2945 passageiros por dia, em 2017);
o
número de estabelecimentos hoteleiros e, consequentemente, o número de quartos verificaram
uma tendência de crescimento (de 168 estabelecimentos hoteleiros, em 2015, para
190, em 2017, e de 4.764 quartos ,em 2015, e 5.389, em 2017). A taxa líquida de
ocupação também registou um aumento de 39,2%, em 2015, para 47,5%, em 2017)[2].
É
facto! Os Açores são ponto de paragem obrigatório para os turistas[3], principalmente para os
turistas ingleses (representam 41%)1, americanos, e alemães. Trata-se,
a meu ver, de uma oportunidade “caída” do céu e do mar para o desenvolvimento e
incremento das atividades e dinâmicas (económicas, sociais e culturais) do
Arquipélago dos Açores. Mas, não querendo ser pessimista, se é facto que se
trata de uma oportunidade, também é certo que se pode transformar num “presente
envenenado”. Senão tenhamos em consideração o seguinte:
Ponta
Delgada tem cerca de 68.000 habitantes, 41 estabelecimentos hoteleiros com
2.375 quartos e a capacidade hoteleira é de 5.055 hóspedes (74 por cada 1.000
habitantes)[4].
Ora, nos dias 23 e 24 de abril de 2018 atracaram no porto de Ponta Delgada,
respetivamente, 5 e 4 navios de cruzeiro, tendo nesses dias passado 26.000
visitantes por São Miguel1. Ora, 26.000 indivíduos correspondem a 10%
da população do arquipélago, 19% da ilha de São Miguel e a 38% da população da
cidade de Ponta Delgada.
Na
semana anterior (dia 18 de abril de 2018), Ponta Delgada tinha recebido mais 3
navios de cruzeiro[5]
com capacidade para mais de 3.200 passageiros, cada (mais de 9.600
passageiros).
Não
é preciso ser um entendido no assunto para perceber que tal situação é um
tremendo desafio para a capacidade das estruturas, equipamento, infraestruturas
e serviços da cidade de Ponta Delgada, que não estarão projetados para uma tal
sobrecarga. Tendo em consideração que os Açores é um arquipélago, esta
sobrecarga dos sistemas é ainda mais inquietante.
Na
minha opinião, se se pretender continuar com este tipo de turismo (cruzeiros),
o desafio da região passará por desenvolver estratégias de organização do território
(criação de serviços e atividades de apoio ao turismo) que sejam sazonalmente dinâmicas,
ou seja, dinâmicas ao ponto de atuarem eficazmente durante a “época alta” e que
possam ser “descartadas” nos períodos de “época baixa”.
Por
falar em região, uma dúvida se levanta: será que a atividade turística, e com
ela o desenvolvimento, chegará a todas as ilhas? Existiram lugares esquecidos e
isolados? Existiram mais do que nove “ilhas” nos Açores?
Na
minha opinião e da forma como interpreto os acontecimentos atuais, talvez após
uma primeira fase de “boom”, em que os Açores se está a mostrar ao mundo, o
tipo de turismo de cruzeiros pode ser bem-vindo, até por uma questão de
publicidade e de dinamismo económico, mas, numa fase posterior, o tipo de
turismo associado ao arquipélago terá, a meu ver, de mudar, quer por uma
questão de consciência ambiental e ecológica, quer por uma questão de
identidade e realidade territorial.
Assim,
o turismo nos Açores deverá, portanto, transitar para um tipo de turismo especializado,
particular, de luxo, baseado na excecionalidade e unicidade que os Açores
possuem. Um turismo que envolva atividades de alguma forma relacionadas com a
natureza (terra, ar e mar) e o espaço rural, e que envolva o turista com o
território e a paisagem e as pessoas, um turismo mais focado na experiência do
lugar e no que este transmite[6]. Caso contrário, corre o
risco de se tornar um lugar onde há a degradação do espaço natural, quer pelo desenvolvimento
de áreas contruídas, quer pela pegada ecológica deixada pelas atividades
humanas (lixo, gastos com eletricidade, água e outros bens de consumo, etc.).
Os
Açores possuem de facto uma oportunidade de luxo para o seu desenvolvimento. Esperemos
todos que seja aproveitada.
Jorge
Garrido
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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