A
Vaca das Cordas, um dos maiores
eventos que ocorrem na vila de Ponte de Lima, é uma tradição que remonta a 1646
e ocorre todos os anos, na véspera do feriado do Corpo de Deus.
Esta
tradição consiste em obrigar um touro a sair à rua ao final da tarde, sendo
preso por duas cordas e conduzido até à Igreja Matriz, onde é preso à janela de
ferro da Torre dos Sinos, banhado com vinho tinto da região, dá três voltas à
Igreja e levado para o areal junto ao Rio Lima, sendo sempre “desafiado” por
populares durante o percurso, resultando frequentemente em sustos e ferimentos
nestes últimos (por vezes, havendo casos mais graves).
No
entanto, o evento Vaca das Cordas,
principalmente nas últimas duas décadas, evoluiu para algo mais do que a
corrida: é também tudo o que ocorre em seu torno, como a festa e animação
durante a noite e os eventos gastronómicos focados nos produtos da região.
Nos
últimos anos, temos também assistido a um aumento de movimentos defensores dos
direitos dos animais contra, por exemplo, touradas ou o uso de animais em
circos. A Vaca das Cordas, sendo uma
atividade tauromáquica, não foi exceção, tendo sido, em 2018, alvo de uma
petição dirigida ao Presidente da Assembleia da República, Presidente da Câmara
de Ponte de Lima e Assembleia Municipal de Ponte de Lima que defendia o fim da
tradição. Esta petição online foi
assinada por 3211 pessoas.
Estes
acontecimentos referidos no parágrafo anterior levantam algumas questões: será
possível manter o evento sem a tradição? Será possível alterar a tradição
mantendo a sua essência? Qual será o impacte de uma alteração destas proporções
em termos de visitantes?
Tal
como foi referido anteriormente, a Vaca
das Cordas já não é apenas a corrida tauromáquica. É possível perceber que
muitas pessoas que se deslocam ao centro histórico de Ponte de Lima durante o
evento fazem-no pelas outras atividades (sendo provavelmente o maior exemplo
disto a maior presença da camada jovem nas festividades noturnas, em comparação
com a corrida). Os cada vez maiores movimentos defensores dos direitos dos
animais refletem uma crescente mudança (ainda que lenta) de mentalidades da
população em relação a este assunto.
Estes
factos apontam para que o fim da corrida seja muito provável, ou seja: não
começar a planear uma solução apenas irá fazer com que o evento, incluindo o
que ocorre para além da atividade que dá o nome ao evento, “caia por terra”.
Culturas
e tradições sofrem frequentemente mutações e acabam por evoluir, quer positiva
quer negativamente, e o fim da corrida tauromáquica não seria nada mais do que
isso. Em caso de mudança, é muito improvável que esta última se conseguisse
manter, pois o touro e o que lhe é feito é o centro da desta. No entanto, as restantes
atividades, havendo um maior empenho e investimento por parte do município e
produtores locais, conseguiriam manter-se como um chamativo, tanto para
turistas como para locais, principalmente tendo em conta o crescente número de
visitantes da vila. A longa história e tradição da Vaca das Cordas abriria, também, portas para outras atividades, por
exemplo, exposições, não necessariamente para vangloriar a corrida mas para
mostrar que faz parte da história da “vila mais antiga de Portugal” e foi,
efetivamente, algo que ajudou a colocar Ponte de Lima no radar do turismo.
O
maior argumento contra o possível fim da corrida seria, provavelmente, as
possíveis repercussões económicas que acabar com esta traria ao município e
negócios locais. Contudo, tal como foi referido no parágrafo anterior, com o
empenho, iniciativa, investimento e criatividade certos, o evento conseguiria
aguentar a mudança e, possivelmente, melhorar-se, continuando assim a ser um
ponto de paragem obrigatório para turistas e de convivência para os locais.
Diana Gonçalves
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2ºsemestre do ano letivo de 2018/2019)
Diana Gonçalves
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2ºsemestre do ano letivo de 2018/2019)
Sem comentários:
Enviar um comentário