Desde há alguns
anos que os centros históricos das cidades vêm a sofrer com o aumento do
turismo. Daí, começa-se a verificar a chamada gentrificação turística, ou seja,
os bairros históricos começam a transformarem-se em locais de consumo e
turismo, pela expansão da função de recreação, lazer ou alojamento turístico, o
arrendamento de curta duração, que começa a substituir gradualmente as funções
tradicionais da habitação de uso permanente, o arrendamento de longo-prazo e o comércio
local tradicional de proximidade, agravando as tendências de desalojamento e
segregação residencial.
Os bairros são
despejados da sua população original ou da população de baixo estatuto, que são
impedidas de acederem à habitação nessas áreas, colocando em risco a
resiliência dos centros históricos.
O termo gentrificação
é muito recente em Portugal. Na verdade, é uma palavra suja, sendo que já tem
maio século noutras cidades desenvolvidas, como Londres, Paris ou Nova Iorque.
Designa um processo de atração de capital privado e de novas populações
endinheiradas para bairros tradicionais dos centros históricos, durante muito
tempo alvo de desinvestimento e de avançado estado de degradação e falta de conservação.
Esse investimento requalifica os bairros, produzindo uma regeneração urbana a
nível económico, cultural e ambiental, o que acaba por encarecer os preços
fundiários e imobiliários. Perante esta subida dos preços de espaços para
arrendamento e para habitação em casa própria, as classes populares, que
residem nestes bairros inicialmente, vêem-se incapazes de suportar estes custos
e são obrigadas a sair. Falando de uma forma simplificada e genérica: entram os
ricos e saem os mais pobres e vulneráveis destes bairros populares.
A gentrificação é
um dos processos mais fortes de mudança urbana no mundo atual e tem-se
agudizado nos anos recentes, sobretudo em Lisboa e Porto.
Em Portugal,
começou nos anos 80 por ser um processo local e relativamente marginal, que
afetava apenas alguns fogos ou imóveis (se tanto) isolados e dispersos no centro
histórico. Os novos moradores apreciavam o património, a arquitetura, o
ambiente cosmopolita e diverso dos bairros históricos, sendo estes os
principais fatores para a tomada de decisão de residência no centro da cidade,
a par, obviamente, da excelente localização e da proximidade a serviços e a oferta
cultural.
Estes processos,
que se veem alastrar cada vez mais nas cidades, levam a que os centros
históricos das cidades comessem a tornar-se cada vez mais escassos em termos de
ocupação pela população original, verificando-se a entrada e saída de pessoas
novas todos os dias, porque tornou-se cada vez mais comum o arrendamento
periódico. As pessoas deixam de ficar a longo-prazo porque aqueles pequenos
comércios que existiam deixam de poder manter-se devido ao aumento das rendas e
à progressiva diminuição da população a longo-prazo.
João Mouta
Bibliografia:
(Artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e
Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património
Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
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