quinta-feira, abril 25, 2019

Os centros históricos e o turismo

Desde há alguns anos que os centros históricos das cidades vêm a sofrer com o aumento do turismo. Daí, começa-se a verificar a chamada gentrificação turística, ou seja, os bairros históricos começam a transformarem-se em locais de consumo e turismo, pela expansão da função de recreação, lazer ou alojamento turístico, o arrendamento de curta duração, que começa a substituir gradualmente as funções tradicionais da habitação de uso permanente, o arrendamento de longo-prazo e o comércio local tradicional de proximidade, agravando as tendências de desalojamento e segregação residencial.
Os bairros são despejados da sua população original ou da população de baixo estatuto, que são impedidas de acederem à habitação nessas áreas, colocando em risco a resiliência dos centros históricos.
O termo gentrificação é muito recente em Portugal. Na verdade, é uma palavra suja, sendo que já tem maio século noutras cidades desenvolvidas, como Londres, Paris ou Nova Iorque. Designa um processo de atração de capital privado e de novas populações endinheiradas para bairros tradicionais dos centros históricos, durante muito tempo alvo de desinvestimento e de avançado estado de degradação e falta de conservação. Esse investimento requalifica os bairros, produzindo uma regeneração urbana a nível económico, cultural e ambiental, o que acaba por encarecer os preços fundiários e imobiliários. Perante esta subida dos preços de espaços para arrendamento e para habitação em casa própria, as classes populares, que residem nestes bairros inicialmente, vêem-se incapazes de suportar estes custos e são obrigadas a sair. Falando de uma forma simplificada e genérica: entram os ricos e saem os mais pobres e vulneráveis destes bairros populares.
A gentrificação é um dos processos mais fortes de mudança urbana no mundo atual e tem-se agudizado nos anos recentes, sobretudo em Lisboa e Porto.
Em Portugal, começou nos anos 80 por ser um processo local e relativamente marginal, que afetava apenas alguns fogos ou imóveis (se tanto) isolados e dispersos no centro histórico. Os novos moradores apreciavam o património, a arquitetura, o ambiente cosmopolita e diverso dos bairros históricos, sendo estes os principais fatores para a tomada de decisão de residência no centro da cidade, a par, obviamente, da excelente localização e da proximidade a serviços e a oferta cultural.
Estes processos, que se veem alastrar cada vez mais nas cidades, levam a que os centros históricos das cidades comessem a tornar-se cada vez mais escassos em termos de ocupação pela população original, verificando-se a entrada e saída de pessoas novas todos os dias, porque tornou-se cada vez mais comum o arrendamento periódico. As pessoas deixam de ficar a longo-prazo porque aqueles pequenos comércios que existiam deixam de poder manter-se devido ao aumento das rendas e à progressiva diminuição da população a longo-prazo.

João Mouta

Bibliografia:

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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