Boom Festival.
Este é o nome de, possivelmente, um dos eventos mais únicos alguma vez
realizados em Portugal. O evento bienal
realiza-se em Idanha-a-Nova, desde 1997, durante a lua cheia de julho ou agosto,
para celebrar a cultura independente alternativa. Inicialmente, foi pensado
como “mais um” festival de música, mas, com o passar dos anos, soube
transcender-se e tornar-se naquilo que é hoje em dia: um evento
multidisciplinar, transgeracional e intercultural, com grande aclamação
internacional.
O
festival atrai, de 2 em 2 anos, cerca de 30.000 pessoas, das quais 90% são
estrangeiros, provenientes de 147 países! A questão que se coloca é: o que terá
o Boom de tão especial para atrair
tanta gente, de todos os cantos do mundo? Apesar de nunca ter visitado, pelas
notícias e vídeos que podem ser encontrados sobre o festival, arrisco-me a
dizer que tem tudo!
Durante
uma semana, as pessoas aproveitam para se conectar com a arte, a natureza e,
acima de tudo, uns com os outros, transportando-se para um “mundo mágico”, onde
não há logótipos, distinção entre raças, género ou ideologias. O recinto do
festival, de nome “Boomland”, faz a ponte para o tal “mundo mágico”. Repleto de
estruturas e esculturas completamente fora do comum, é criado um ambiente
idílico, onde o “Boomer” se deslumbra, desde a entrada, no primeiro dia, até ao
último segundo.
O
certame junta os melhores artistas musicais de trance, mas aposta também numa variedade de correntes artísticas,
que vão desde a pintura, às artes plásticas ou à escultura, por exemplo, e que,
complementado por workshops,
conferências e tertúlias, conferem ao evento uma proposta artística e cultural
vanguardista e diversificada de grande valor, que enfatiza não só o divertimento
como também o conhecimento.
Tudo
isto só se deve a uma organização que faz o seu trabalho de forma exímia e que
é, sem dúvida, um exemplo a seguir. O evento é organizado sem qualquer tipo de
apoio comercial e, ainda assim, consegue ser um sucesso. A chave para tal
sucesso só se explica pela estratégia implementada e pelos valores que esta
transparece. Todos os processos são minuciosamente pensados e estão assentes em
princípios de sustentabilidade ambiental, sociocultural e económica. A
preferência por fornecedores locais e nacionais, a colocação de autocarros à
disposição dos ”boomers”, a utilização de materiais “amigos do ambiente”, o
facto de parte do lixo produzido ser reciclado e usado para compostos
orgânicos, empregar-se pessoas da região e serem criados programas de
reflorestação constituem exemplos de uma pequena parte de tudo o que é feito
pela organização para que o festival tenha o menor e o maior impacto possível,
ao mesmo tempo.
Ao
contrário de outros festivais, o Boom
tem, efetivamente, impacte, tanto na economia local, como nacional. Os próprios
empresários da região reconhecem a importância de eventos como o Boom para a sobrevivência do concelho e,
citando as palavras do dono de um dos poucos hotéis, em Idanha-a-Nova, “devia
haver Boom, todos os anos”! Segundo
dados da organização, o festival gera um impacte de 35 milhões de euros, na
economia nacional.
Os
resultados são positivos e promissores, mas o sucesso do festival não se faz só
disso. Os esforços da organização são, ano após ano, reconhecidos
internacionalmente, premiados pela prática e partilha de valores de
sustentabilidade. Há 6 edições consecutivas que o Boom é premiado com o “Outstanding Greener Festival Award”, o prémio
mundial mais importante para eventos sustentáveis, atribuído por “A Greener
Festival”. A par de outros prémios de grande importância, o festival foi
convidado pela ONU para fazer parte da United
Nations Environmental and Music Stakeholder Initiative, projeto com vista a
promover a consciência ambiental junto do grande público. Será, de certeza,
este tipo de reconhecimento que dará alento aos organizadores para continuarem
a fazer cada vez melhor e a levarem o festival para caminhos cada vez mais
promissores.
Só
esperemos que assim seja! O Boom é,
sem dúvida, um exemplo a seguir, por tudo o que faz e tudo o que representa. Um
evento como este, que é tão importante para a região e para o país, merece todo
o reconhecimento e todo o sucesso possível. Seja o Boom ou não, é importante que mais iniciativas como esta dinamizem
a atividade turística do interior do país.
Pedro
Miguel Pires Dinis
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)
Sem comentários:
Enviar um comentário