segunda-feira, abril 22, 2019

O turismo e as novas redes

É impensável que qualquer um de nós, nos últimos 20 anos, não se tenha apercebido da mudança de panorama que os meios digitais nos trouxeram em todo o tipo de serviços disponíveis. Hoje em dia, digitalmente, encontramos um pouco de tudo e as ofertas digitais na área do turismo não ficaram aquém. Desde bilhetes de avião das diversas companhias áreas aos sites de comparação de preço das companhias áreas, tudo se tornou mais fácil de encontrar e o consumidor vê as suas tarefas muito facilitadas, não correndo riscos na hora de aquisição deste tipo de serviços.
No entanto, não foram só estas as inovações que o mundo digital tem trazido ao consumidor, fazendo com que as antigas e tradicionais agências de viagem acabem por ficar diminuídas e tenham saído em desvantagem perante estes processos (não só pela facilidade do consumidor em relação à sua procura, que possivelmente faz em horários mais diversos e que, noutro caso, não encontraria uma agência aberta para conseguir satisfazer os seus pedidos, mas também pela facilidade que estes serviços lhe trazem perante uma oferta que não corresponde, sendo o “não quero” uma opção muito mais fácil e não desperdiçando grande tempo ou até mesmo por conseguir dispensar os acréscimos de preço que as agências acabam por impor ao cliente, que encarecem bastante aquilo que o cliente pretende). A realidade também se estende aos hotéis e os hostels, que procuram estar em diversos sites de procura imobiliária para os turistas, assim como aos proprietários de casas e quartos para alugar, neste contexto surgindo sites como o AIRBNB, que medeiam a oferta de espaços a que, caso contrário, o turista nunca conseguiria aceder, o que proporciona até aqueles que têm pequenos negócios a oportunidade de divulgarem os seus serviços.
Concluímos então que, a nível de alojamento e deslocação, o meio digital favoreceu imenso o consumidor, trouxe imensas melhorias através da vasta concorrência, uma descida de preços enorme nos últimos anos, transformando até a pessoa mais caseira numa mais aventureira e que queira apostar numa viagem em família ou com amigos.
Mas, e chegando ao destino? Sendo que nem toda a gente tem a mesma predisposição para ir à descoberta por si só, ou muitas vezes até o sentido de orientação, como é que podemos fazer propostas ao consumidor que ele esteja disposto a ouvir? Abrimos então a possibilidade para um novo mercado digital, que tem apostado em gps’s, novos mapas de leitura mais fácil, mas também em novos conceitos de tours, que podem ser praticados facilmente por quem vive e conhece plenamente a cidade e a história da cidade.
Assumindo que é sempre um risco alguém querer um tour de alguém que não considera fidedigno – e pode não o ser –, este mercado tem aberto algumas portas e esta pequena reflexão vem de um caso que me é próximo, em Braga. Em concreto, Mariana Trigo, de 25 anos, começou a viajar aos 18 anos, por iniciativa própria. Decidiu começar a viajar ao longo da Europa, aventurando-se rapidamente para a Ásia, sem qualquer receio. Aventureira desde início e licenciada em biologia – que em nada se assemelha a este projeto - viu-se de regresso à sua cidade natal em 2017, depois de uma viagem que acabou mais cedo por doença adquirida na mesma. Sendo sempre uma pessoa ativa, trabalhou e continuou a viajar, até que entendeu que o seu interesse e os conhecimentos que tinha adquirido lhe podiam ser uma mais-valia. Como ela própria se orgulha, sempre viajou sozinha e, nessas viagens, foi sempre conhecendo gente nova, o que lhe proporcionava a oportunidade de aprender novas coisas e partilhar o que ela própria sabia. Mas, em que é que isto tudo se reflete nas novas oportunidades do mundo digital?
Estando de regresso a uma cidade cujo turismo está a crescer, é desnecessário dizer que as propostas para dar a conhecer a cidade são poucas, e muitas delas com um valor maior do que aquele que algum público alvo quer gastar (jovens estudantes, ou mesmo uma classe média baixa que ainda assim opta por viajar), Mariana viu uma oportunidade de ganhar dinheiro e ao mesmo tempo usufruir do sentimento de partilha que foi adquirindo (quem viaja e ganha o hábito de conhecer novas pessoas a toda a hora, dificilmente se desapega deste sentimento de curiosidade, de ansiedade constante por ouvir novas experiencias ou partilhar experiencias sobre cidades que possam ter partilhado). A partir deste momento decidiu criar um tour feita por ela na cidade de Braga, que ela disponibiliza em várias línguas, e que cobra um valor mínimo que cobre a despesa de carro e o tempo que ela oferece à experiência.
No site do Airbnb podemos descobrir que o seu tour se inicia no centro da cidade de Braga (já no site podemos encontrar algumas alíneas que conseguem elucidar os visitantes do que irão visitar) e, dada a distância, a própria disponibiliza viatura para os sítios mais bonitos, mas mais difíceis de alcançar a pé, designadamente, o Sameiro e o Bom Jesus, que são trajetos longos.
Este tour já acontece há algum tempo e no site podemos ver que os turistas que optaram por esta experiência deram um bom feedback, não só por fugir ao habitual tour de manual escrito, mas por incluir experiências gastronómicas pouco usuais, mas caraterísticas da cidade e do comum português - não conhecesse o mundo inteiro o tão apelativo Pastel de Nata.
Nesta experiência conseguimos percecionar uma nova maneira de fazer turismo, de o proporcionar e a facilidade com que ele pode ser divulgado: o turismo através do novo marketing digital transporta as pessoas para experiências que não podiam usufruir a menos que viessem com alguém que fosse da própria cidade, e sem os maneirismos e formalidades dos tours habituais, numa experiência mais intima e que realmente deixa uma marca da cidade para que esta seja uma crescente na publicidade gratuita que é uma boa opinião de alguém que nos é conhecido.
Acredito que estas experiências venham a crescer dentro das mais variadas cidades – desde as grandes cidades às mais intimistas – e que cada vez mais o turismo não se faça dentro de pontos específicos, de fotos típicas e da informação rotineira que encontramos em qualquer mapa informativo. Se hoje em dia o turista é feito por uma faixa mais informada e que procura novas experiências, sem dúvida que o mundo digital vai ajudar a acompanhar esta exigência.

Bruna Fernandes

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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