sábado, abril 27, 2019

O Lado Negro do Turismo em Portugal

Nos últimos anos, temos assistido a um enorme crescimento do turismo em Portugal mas, como tudo, comporta aspetos positivos e negativos a ter em consideração.
O número de visitantes das nossas cidades não pára de aumentar. Recentemente, foram divulgados alguns dados que nos dão conta desta realidade e confirmam que a pressão turística de Porto ou Lisboa já é superior à pressão turística existente em cidades como Londres ou Barcelona.
Estes valores tornam inevitável o debate sobre os efeitos do turismo massificado na vida das cidades portuguesas. Ninguém poderá negar que este crescimento do turismo está a ter um impacte positivo na dinâmica do nosso país, no aumento das exportações e ainda na ajuda que dá na redução do desemprego.
 Julgamos o turismo como um dos principais instigadores do setor imobiliário, atraindo cada vez mais investidores, tanto investidores nacionais como investidores internacionais, que veem assim uma excelente oportunidade de investimento.
A opinião relativamente a este assunto é unânime: o turismo veio dar um grande empurrão a este mercado, ajudando a economia portuguesa. Hoje em dia, é usado um novo conceito de negócio, o short-term rental. Este conceito ajudou a dar um boost comunicacional a Portugal perante o mercado estrangeiro, o que contribuiu para que Portugal fosse considerado por muitos como um dos melhores destinos do mundo para passar férias e para viver.
No entanto, não nos podemos focar apenas nos aspetos positivos e temos sempre de olhar para a outra face da moeda, a eterna discussão entre o copo meio cheio e o copo meio vazio.
O boom turístico tem também um lado negro, que engloba o aumento da precariedade laboral, os salários baixos e, acima de tudo, a negação do direito à habitação a uma parte das populações das cidades portuguesas. Esse direito fica em causa com o aumento da especulação imobiliária que se instala à boleia do alojamento local, da multiplicação de hotéis e, ainda, o nascimento de hostels em cada esquina das principais cidades portuguesas.
O melhor exemplo é a evolução do preço para compra ou arrendamento de habitação em cidades como Lisboa ou Porto. Esta especulação está a atirar as pessoas para fora dos centros das cidades, pois torna-se incomportável acompanhar o aumento dos preços praticados nestas zonas, onde se exigem preços de luxo para uma casa considerada modesta, e em que o preço era substancialmente inferior antes deste boom turístico.
Os moradores destes bairros têm acusado os proprietários dos imóveis de fazerem pressão para saírem das casas arrendadas, com o simples intuito de os proprietários quererem os imóveis para os explorarem no mercado de arrendamento local (um negócio que se tem revelado bastante atrativo financeiramente). Estes pedem, ainda, às autarquias locais, uma maior regulamentação e legislação, que limite a difusão desmedida dos alojamentos locais e hostels e, ao mesmo tempo, defendem o licenciamento zero para os centros históricos das cidades, de forma a prevenir este fenómeno.
A pressão do turismo e a implosão social e cultural podem fazer sair os locais para as periferias e desertificar e descaraterizar as principais cidades portuguesas. A gentrificação implica a substituição de uma população de determinado espaço urbano por outro tipo de população, com maior capacidade financeira e com estatuto social superior. No entanto, foi esta reabilitação, promovida pelo turismo, que evitou a ruína dos centros urbanos.
Posto isto, podemos concluir que nem tudo o que está relacionado com o turismo é bom, mas também nem tudo é mau. Por isso, esta eterna discussão estará sempre presente no nosso dia-a-dia e haverá sempre pessoas a favor e contra o crescimento do turismo em Portugal.

João Miguel Duarte Alves

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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